O Estado de São Paulo, n. 45011, 11/01/2017. Política, p. A4
Para frear PSB, tucanos de SP contrariam Alckimin
 
Julianna Granjeia
Pedro Venceslau

 

Em um movimento para tentar frear o fortalecimento do PSB no Estado, o PSDB paulista contrariou o governador Geraldo Alckmin e desistiu de eleger uma nova direção para a legenda em São Paulo. Com isso, prevaleceu uma determinação do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que prorrogou seu próprio mandato na presidência nacional do partido e estendeu a medida para todos os diretórios.

Alckmin, Aécio e o ministro das Relações Exteriores, José Serra, são cotados internamente como candidatos ao Palácio do Planalto em 2018.

Em uma reunião tensa na noite de anteontem – a qual o Estado presenciou – o presidente do partido no Estado, deputado Pedro Tobias, justificou a decisão de ficar mais um ano à frente do Diretório Estadual com o argumento de que se “preocupa” com a sucessão ao Palácio dos Bandeirantes em 2018.

Segundo ele, o temor é de que Alckmin, para viabilizar sua candidatura à Presidência, faça uma aliança com os pessebistas em detrimento de um nome do PSDB em São Paulo. Dirigentes do PSB defendem que o atual vice-governador, Márcio França, seja o candidato apoiado pelos tucanos.

“O partido está em primeiro lugar. Minha preocupação é chegar o governador amanhã e fazer uma aliança com o PSB. Porque o governador sempre quer mais aliança, mas partido é partido, e governo é governo”, disse Tobias. Em entrevista ao Estado na semana passada, o dirigente havia feito outro discurso e afirmara que abriria mão de renovar o próprio mandato para defender a democracia interna. Durante a reunião, Tobias também acusou o PSB de ter prejudicado o PSDB nas eleições municipais deste ano. Ele citou como exemplos os casos de Mauá e Guarulhos, cidades onde o PSB venceu candidatos tucanos.

Em outra declaração que evidenciou a divisão entre os tucanos, o presidente do PSDB paulista ainda reclamou da falta de apoio do partido ao vereador Mário Covas Neto (PSDB) na disputa pela presidência da Câmara Municipal paulistana. A bancada tucana seguiu orientação do prefeito João Doria, afilhado político de Alckmin, e votou no vereador Milton Leite (DEM), que se elegeu. “Muitas vezes a relação de aliança deixa alguém sacrificado. O PSDB fica nisso. Foi o caso da presidência da Câmara Municipal: o prefeito é nosso e ficamos de fora”, disse Tobias na reunião.

Antes de articular sua permanência no cargo, o dirigente tucano consultou Serra e o senador Aloysio Nunes Ferreira, líder do governo Michel Temer no Senado. Adversários de Alckmin no partido, ambos chancelaram a iniciativa. Já Aécio não participou da articulação no diretório paulista.

Movimento. Tobias disse para aliados que mudou de ideia porque “identificou” uma movimentação nos bastidores do chefe da Casa Civil de Alckmin, Samuel Moreira, para tirar seu grupo do comando do diretório e instalar no lugar um grupo afinado com o PSB. Procurado pela reportagem, Moreira não foi localizado.

Pré-candidato à Presidência em 2018, o governador paulista tem o apoio dos pessebistas, que sinalizam até com a possibilidade de lançá-lo na disputa caso não se viabilize no PSDB. A contrapartida seria o apoio de Alckmin à candidatura de França em São Paulo.

Após Tobias dizer que haveria eleição interna, três tucanos se apresentaram para disputar o cargo, todos da estrita confiança de Alckmin: o secretário de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro; o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa; e o deputado federal Miguel Haddad.

A decisão de prorrogar o mandato no Diretório Estadual teve 18 votos favoráveis e três contrários, do deputado federal Vanderlei Macris, e dos estaduais Cauê Macris e Carlão Pignatari. Tobias se absteve.

Na saída da reunião, um membro da Executiva próximo ao governador chamou a manobra de “golpe”. Outro afirmou que o discurso “constrangeu” o governador e que Moreira levou “uma bicicleta” de Tobias.

Alguns membros do Diretório Estadual disseram que se sentiram constrangidos a votar a favor da prorrogação do mandato. Durante a reunião, integrantes da Executiva Estadual levantaram a possibilidade de apresentar uma moção de repúdio para registrar o descontentamento com a decisão pela prorrogação do mandato de Aécio. A sugestão, porém, nem sequer foi discutida.

 

PARA LEMBRAR

Aécio ganhou mais um ano

Em dezembro, a Executiva Nacional do PSDB prorrogou até maio de 2018 o mandato do senador Aécio Neves (MG) na presidência da legenda. A decisão foi tomada após um acordo entre Aécio e o chanceler José Serra e desagradou ao governador Geraldo Alckmin. A reunião, realizada em Brasília, foi comandada pelo próprio senador. A decisão também recebeu o consentimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que enviou carta à Executiva. A extensão do mandato consta do estatuto da legenda, que prevê, após vencidos os dois primeiros anos, a prorrogação por mais um. De 1991 para cá, também recorreram ao estatuto para se manter no cargo os atuais senadores José Anibal (SP) e Tasso Jereissati (CE), o ex-governador Teotonio Vilela Filho e Sérgio Guerra, morto em 2014.