O Estado de São Paulo, n. 45009, 09/01/2017. Política, p. A7

Odebrecht pediu cargo na gestão Dilma a Palocci

 

Fábio Serapião
Carla Araújo
 

Uma mensagem apreendida por investigadores da Operação Lava Jato mostra que o empreiteiro Marcelo Odebrecht pediu ao ex-ministro Antonio Palocci “espaços” para o então secretário executivo da Controladoria-Geral da União (CGU) Luiz Navarro no primeiro governo de Dilma Rousseff.

O e-mail foi encaminhado por Odebrecht a diretores da empresa no dia 20 de dezembro de 2010, a 12 dias de Dilma tomar posse para seu mandato como presidente.

Na mensagem, o ex-presidente da empreiteira colou o conteúdo de um texto que enviaria a Palocci e no qual expressava seu interesse em ver Navarro no governo da petista.

“Chefe, (...) não sei se você conhece Luiz Navarro, secretário executivo da Controladoria-Geral da União. A pessoa dele comandou de forma efetiva a CGU, e penso que isso é reconhecido dentro e fora do órgão.

Acho que vale a pena você recebê-lo para avaliar como ele poderia se ajustar em espaços do novo governo”, diz a mensagem do empreiteiro incluída no e-mail aos diretores.

Dentre os destinatários do e mail está o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho, um dos ex-executivos da empresa que fizeram delação premiada na Lava Jato. Em depoimentos, Melo Filho citou repasses para diversos políticos de vários partidos.

 

Ministro. Navarro foi mantido na secretaria executiva da CGU no governo Dilma. No ano passado, no segundo mandato da petista e já com o impeachment em curso, foi nomeado chefe do órgão que tinha status de ministério.

Em maio, na véspera de deixar o cargo, Dilma o nomeou conselheiro da Comissão de Ética da Presidência da República, posto em que ele ficará até 2019. O colegiado é responsável por instalar procedimentos para investigar a conduta de integrantes do Executivo. A comissão tem sete conselheiros, não remunerados.

O e-mail de Odebrecht com o pedido a Palocci ajudou a subsidiar o pedido de prisão do ex-ministro.Palocci foi detido em setembro, investigado por suas relações com a empreiteira. Ele é réu na Lava Jato por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Odebrecht está preso desde junho de 2015 e foi condenado no âmbito da operação.

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Ponderar sobre indicação não é crime’, diz defesa

 
Fábio Serapião
Carla Araújo

 

O advogado do ex-ministro Antonio Palocci, José Roberto Batochio, afirmou que não há irregularidades em fazer indicações. “Acaso ponderações sobre indicação de funcionários a promoções ou ascensão na carreira passaram a ser crime? Que democracia é esta em que membros de um governo estão condenados à mudez para não serem grampeados?”, disse o defensor do ex-ministro.

Palocci foi preso em setembro do ano passado, em meio às negociações do acordo de delação premiada de executivos e ex-executivos da Odebrecht – ao todo, são 77 delatores ligados à empreiteira.

A Operação Omertà, que levou Palocci à prisão, investigou indícios da relação do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil (governos Lula e Dilma) com o comando da maior empreiteira do País. Segundo a força-tarefa da Lava Jato, Palocci atuou como intermediário do PT perante a Odebrecht.

 

Acusação. De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República, Palocci atuou “em favor dos interesses do Grupo Odebrecht no exercício dos cargos de deputado federal, ministro da Casa Civil e membro do Conselho de Administração da Petrobrás”. A Lava Jato sustenta que Palocci teria recebido R$ 128 milhões do “departamento de propinas” da empreiteira, destinados não só a ele, mas ao PT e para o custeio de campanhas do partido.

Luiz Navarro, hoje conselheiro da Comissão de Ética da Presidência, não se manifestou até a conclusão desta edição. A Odebrecht disse que não comentaria o caso. Em nota, informou que colabora com a Justiça e está “implementando as melhores práticas de compliance, baseadas na ética, transparência e integridade”.

 

Defesa

“Acaso ponderações sobre indicação de funcionários a promoções ou ascensão na carreira passaram a ser crime? Que democracia é esta em que membros de um governo estão condenados à mudez para não serem grampeados?”

José Roberto Batochio

ADVOGADO DE ANTONIO PALOCCI