Uma lista longe do fim

Eduardo Militão

16/03/2017

 

 

CRISE NA REPÚBLICA » Ainda sob sigilo no Supremo, os pedidos de investigação enviados por Rodrigo Janot englobam pelo menos 37 pessoas até agora, mas esse número ainda vai crescer nos próximos dias

 

 

A lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviada ao Supremo Tribunal Federal com pedidos de abertura de inquérito, após as delações de 77 pessoas ligadas à Odebrecht, segue avançando sobre o mundo político. Depois da divulgação na terça-feira da presença de ministros do presidente Michel Temer, de senadores, de deputados e dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff no rol de citados pelos delatores, ontem, mais 22 pessoas tiveram os nomes confirmados entre os alvos do Ministério Público Federal.

Entre os nomes enviados por Janot estão governadores, como o do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB); de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT); e de Alagoas, Renan Filho (PMDB), segundo informou ao Correio uma fonte ligada à Operação Lava-Jato. Também houve pedidos de inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em relação aos governadores do Paraná, Beto Richa (PSDB), e do Acre, Tião Viana (PT), de acordo com a TV Globo.

Janot pediu ainda inquérito para apurar condutas do senador Linbergh Farias (PT-RJ) e do deputado Andrés Sanchez (PT-SP), que administrou a obra do estádio do Corinthians, executada pela Odebrecht. O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi outro alvo de pedido de inquérito, no entanto, o procurador “declinou a competência”, ou seja, pediu que o caso fosse investigado na primeira instância porque ele não tem mais foro privilegiado. Cunha está detido, desde o ano passado, no Paraná e responde a ações penais por corrupção na Petrobras.

De acordo com a TV Globo, o ministro da Indústria e Comércio, Marcos Pereira (PRB), também é alvo de um pedido de inquérito da Procuradoria-Geral da República. Com isso, sobe para seis o número de ministros do governo de Michel Temer no alvo da Lava-Jato, afora colaboradores próximos dentro e fora do Congresso. O caso dos ministros Eliseu Padilha, Moreira Franco, Aloysio Nunes, Bruno Araújo e Gilberto Kassab foi revelado na terça-feira.

Janot pediu investigações ainda contra os senadores Jorge Viana (PT-AC), Marta Suplicy (PMDB-SP) e Lídice da Mata (PSB-BA). A PGR ainda quer investigar a situação dos deputados Marco Maia (PT-RS), Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), José Carlos Aleluia (DEM-BA), Paes Landim (PTB-PI) e de uma série de políticos que não têm mais foro privilegiado. São eles: o ex-ministro da Secretaria de governo de Temer Geddel Vieira Lima, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), o empresário e ex-candidato a governador de São Paulo Paulo Skaf (PMDB), o prefeito de Araraquara, ex-ministro Edinho Silva (PT), e o ex-assessor da ex-presidente Dilma Rousseff Anderson Dornelles.

 

Gerações futuras

Um dia depois de entregar 320 pedidos de providências em relação à delação da empreiteira Odebrecht, o procurador-geral da República afirmou que os resultados da Operação Lava-Jato “provavelmente” não serão vistos pela geração atual, mas pela futura. Ao discursar para uma plateia formada por integrantes da comunidade de inteligência, como policiais federais, servidores do Coaf e da Receita Federal e procuradores, ele homenageou um bebê de colo que estava na cerimônia, cuja mãe teve que sair para amamentá-lo durante o discurso.“O trabalho não é feito para nós”, disse Janot. “O trabalho não é feito para nossa época. Temos que ter a ideia, temos que ter a convicção de que trabalhamos para o porvir. E provavelmente não veremos esse resultado. Mas o resultado virá com certeza.” O procurador ainda destacou os esforços das instituições de controle para “tirar o país da lama da corrupção que se desvela agora e vem de muito tempo”. “Estávamos mergulhados nisso.”

 

 

Correio braziliense, n. 19651, 16/03/2017. Política, p. 2.