Temer admite "uma ou outra" adaptação à PEC

Julia Chaib

16/03/2017

 

 

PREVIDÊNCIA » Presidente defende texto original, mas diz que Congresso está cuidando do assunto. Para ele, reformulação agora evitará corte maior no futuro

 

 

No mesmo dia em que milhares de pessoas foram às ruas em todo o país protestar contra a reforma da Previdência, o presidente Michel Temer saiu em defesa da proposta e admitiu que o projeto poderá sofrer “uma ou outra adaptação” durante a tramitação no Congresso. A uma plateia formada por empresários, Temer disse que não é possível fazer uma reforma “modesta” no momento e que a população precisa entender a necessidade da iniciativa.

Na opinião do presidente, “ou fazemos uma reformulação da Previdência agora — é claro, poderá haver uma ou outra adaptação. O Congresso é que está cuidando disso — ou daqui a quatro, cinco anos teremos que fazer como Portugal, Espanha, Grécia e outros países, que foram obrigados a fazer um corte muito maior porque não preveniram o futuro”.

O governo tenta traçar estratégias para aprovar a medida sem alterá-la e, por isso, buscará esclarecer pontos específicos para cada categoria atingida. A necessidade de melhorar a comunicação da reforma foi uma das demandas colocadas na mesa por líderes partidários em reuniões para tratar do assunto no Palácio do Planalto. Diante da pressão de parlamentares, o governo estuda medidas para aprimorar a explicação sobre a reforma. Por ora, Temer descarta um pronunciamento nacional em cadeia de rádio e televisão. Mas existe a possibilidade de o presidente fazer vídeos para as redes sociais, rebatendo pontos considerados “mentirosos”, como os que constam em um vídeo divulgado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).

“Em primeiro lugar, (a reforma) não vai tirar o direito de ninguém. Quem tem direitos garantidos no trabalho vai continuar tendo”, disse ontem o presidente. Ao longo dos quase 20 minutos de fala no evento organizado pelo Sebrae e pelo Banco do Brasil, Temer disse que adota medidas “populares” e não “populistas”, em crítica indireta ao governo anterior. “Há medidas populistas e populares. As populistas são as feitas de maneira irresponsável e que têm um efeito imediato, cheio de aplausos, para depois se revelarem um desastre absoluto. As medidas populares não têm o aplauso imediato, mas obtêm depois o reconhecimento”, afirmou.

Durante todo o evento, Temer não fez menção à lista de Janot, elaborada com base nas delações de ex-executivos da Odebrecht, que ainda seguem sob sigilo.

 

 

Publicidade suspensa

A 1ª Vara Federal de Porto Alegre determinou, em caráter liminar,  a suspensão da veiculação de publicidade pelo governo relacionada ao programa de reforma da Previdência. A decisão foi tomada pela juíza Marciane Bonzanini, em resposta a uma ação civil pública de autoria de nove sindicatos trabalhistas do Estado do Rio Grande do Sul. Segundo a magistrada, “a campanha publicitária não possui caráter educativo, informativo ou de orientação social, como exige a Constituição”. A Advocacia-Geral da União (AGU) afirmou que irá recorrer da decisão.

 

 

Correio braziliense, n. 19651, 16/03/2017. Economia, p. 8.