Procuradoria investiga 52 grandes empresas e fundos 

Fabio Serapião e Fábio Fabrini 

05/02/2017

 

 

 

Inquéritos. Ministério Público Federal no DF cria força-tarefa para apurar esquemas de corrupção que teriam como elo Lúcio Funaro, suspeito de ser operador de Eduardo Cunha

A Procuradoria da República no Distrito Federal montou uma força-tarefa para apurar suspeita de corrupção em aportes financeiros feitos por entidades públicas em 52 grandes empresas e fundos de investimentos privados.

O objetivo é descobrir se a liberação dos recursos foi feita em troca de pagamentos de propinas a um mesmo grupo criminoso, cuja atuação foi descoberta em três frentes de investigações – as operações Sépsis, Cui Bono? e Greenfield.

Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), seria o elo entre os agentes públicos e os empresários que figuram nos inquéritos das operações. A suspeita é de que o grupo político ligado a Funaro atuava em vários setores da administração publica e próximo das fontes de liberação de dinheiro público. São investigados os crimes de corrupção passiva e ativa, além de lavagem de dinheiro, organização criminosa e tráfico de influência.

Coordenada por Anselmo Cordeiro Lopes, a força-tarefa conta com outros seis procuradores para mapear se investimentos provenientes do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) – cujos recursos são geridos pela Caixa –, da Vice- Presidência de Pessoa Jurídica do banco, de fundos de pensão e de instituições previdenciárias municipais e estaduais foram liberados mediante pagamento de vantagens indevidas para agentes públicos.

São alvo da investigação Cunha, Funaro, e os ex-vice-presidentes da Caixa Fábio Cleto, delator da Lava Jato, e o ex-ministro Geddel Vieira Lima. Mesmo com a união das investigações no MPF, os inquéritos continuam separados na Polícia Federal.

O compartilhamento de informações foi possível após os principais investigados perderem o foro privilegiado. Cunha foi cassado e Geddel Vieira Lima, ex-vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa e alvo da Cui Bono?, perdeu o foro ao deixar a Secretaria de Governo.

Por sua vez, Funaro teve seus processos enviados para 1.ª instância na esteira da remessa dos casos do deputado cassado. Ele é apontado como o operador financeiro e lobista do grupo político de Cunha e Geddel em vários setores da administração pública.

Sobre Funaro, os investigadores contam com o material coletado na Sépsis, um desdobramento da Operação Lava Jato, com base nas delações de Nelson Mello, da Hypermarcas, e do seu apadrinhado político Fábio Cleto. Mello indicou Funaro como intermediador de cerca de R$ 3 milhões destinados a Cunha.

O ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa apontou Cunha e Funaro como destinatários de propina para liberação de aportes do FGTS. O deputado cassado seria beneficiário de 80% do suborno pago pelas empresas.

Na Sépsis, deflagrada em julho de 2016, uma das propinas relatadas por Cleto refere-se à captação de recursos feita em 2012 pela Eldorado Brasil, empresa do grupo J&F – também dono do JBS, maior indústria de carnes do mundo.

O valor pleiteado inicialmente foi de R$ 1,8 bilhão para obras numa fábrica de celulose em Três Lagoas (MT), mas acabou reduzido para R$ 940 milhões.

Nesse caso, Cleto disse em depoimento acreditar que Cunha tenha recebido valor superior a 1% como comissão. Ele afirmou que sua parte foi de R$ 940 mil.

 

Modelo. Por causa de um celular apreendido de Cunha, o MPF soube que o modelo de atuação do grupo era replicado na Vice-Presidência de Pessoa Jurídica da Caixa. A PF extraiu uma “intensa” troca de mensagens eletrônicas de Cunha e Geddel, entre 2011 e 2013.

As mensagens indicavam a possível obtenção de vantagens indevidas pelos investigados em troca da liberação, para grandes empresas, de créditos com a Caixa. Novamente, Funaro aparece como interlocutor de empresas com políticos – Cunha e Geddel.

No pedido de busca contra Geddel, os delegados e procuradores apontam que o peemedebista fornecia informações privilegiadas para “outros membros do grupo criminoso”, que incluiria o ex-presidente da Câmara, Cleto e Funaro. Ente as empresas suspeitas de pagar suborno estão a BR Vias, Oeste Sul Empreendimentos Imobiliários, Marfrig e J&S Investimentos.

A família Batista, dona do grupo J&F, voltou a aparecer na operação Greenfield, em setembro de 2016. O FIP Florestal contou com o aporte de R$ 272,2 milhões da Funcef e outro de mesmo valor do Petros, pagos entre os anos de 2009 e 2010. O investimento teve como destinatário a empresa Eldorado Celulose, controlada pela holding J&F, da família Batista. Os irmãos Wesley e Joesley foram alvo de mandados de condução coercitiva solicitados na Greenfield.

Em um dos relatórios da operação, assinado por Anselmo e pela delegada federal Rubia Pinheiro, os investigadores apontam que “sabe-se que a mencionada empresa (Eldorado) é controlada pelo grupo J&F, grupo este que é um dos principais doadores de campanha do PT”. Ainda no relatório, os investigadores afirmam que o fato de o aporte ter sido “apresentado e préaprovado diretamente pelo diretor de Investimentos da Petros” indica que o investimento já havia sido “negociado por instâncias políticas superiores”.

 

MP peruano apura propina

O ex-presidente do Peru Alejandro Toledo teria recebido US$ 20 milhões em propina da Odebrecht, segundo investigações do Ministério Público do Peru divulgadas pela imprensa do país.

 

APURAÇÃO

● Força-tarefa da Procuradoria da República no DF une 3 investigações e mira em 52 empresas

 

O que é?

● Sete procuradores do Ministério Público Federal no DF apuram 52 companhias que receberam aportes oriundos de quatro fontes: FGTS, fundos de pensão, institutos previdenciários e Vice-Presidência de Pessoa Jurídica da Caixa

 

Qual objetivo?

● O MPF apura se as três frentes de investigação estão relacionadas a um grupo criminoso que atuava na liberação desses valores em órgãos públicos. O alvo principal é o operador Lúcio Funaro

 

Quais investigações foram unificadas?

1º DE JULHO DE 2016

Sépsis

A operação baseou-se nas delações de:

Fabio Cleto

Ex-vice-presidente de Fundos e Loterias da Caixa

 

Nelson Mello

Executivo da Hypermarcas

A operação prendeu Lúcio Funaro, apontado como operador do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ)

 

● Funaro é suspeito de atuar, ao lado de Cleto, Cunha e outros políticos, para liberar aportes milionários do FGTS em grandes empreendimentos e empresas

 

O que une as três investigações

Além de Lúcio Funaro, denominador comum nas três investigações, as empresas que apareceram nos três casos fizeram com que o MPF decidisse pela conexão entre as três frentes de apuração. O grupo JBS também aparece nas três operações

 

Principais empresas investigadas

● Ecovix

● Engevix

● Cevix Energias Renováveis S/A

● Desenvix Energias Renováveis

S/A (atual Statkraft Energias

Renováveis S/A)

● WTorre

● J&F

● Invepar

● OAS

● OAS Empreendimentos S/A

● Sete Brasil

● Norte Energia S/A

● Eldorado Brasil Celulose S/A

● Cone SA

● BR Vias

● Marfrig

● Oeste Sul Empreendimentos

 

5 DE SETEMBRO DE 2016

Greenfield

A operação investiga fraude na liberação de aportes milionários dos quatro maiores fundos de pensão do País

PETROS

PETROBRÁS

FUNCEF

CAIXA

PREVI

BANCO DO BRASIL

POSTALIS

CORREIOS

 

● Segundo os investigadores, a apuração tenta descobrir se os aportes eram liberados mediante pagamento de propina. Até agora, eles já descobriram que os grupos econômicos que recebiam os aportes tinham uma valoração superestimada

 

13 DE JANEIRO DE 2017

Cui Bono?

A operação mira na atuação de um grupo criminoso em fraudes na liberação de créditos na Caixa, entre 2011 e 2013

● A investigação baseou-se em mensagens de um celular apreendido na casa de Cunha que continha conversas dele com o ex-ministro Geddel Vieira Lima, ex-vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa

● Segundo o MPF, Geddel, Cunha e Lúcio Funaro cobravam propina para liberar empréstimos à empresas

O Estado de São Paulo, n. 45036, 05/02/2017. Política, p. A4