Título: O controverso sindicalista das relações ferrenhas
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 04/12/2011, Política, p. 5

Tido como mais forte que o ministro Carlos Lupi, presidente do partido a que pertence, o pedetista Paulinho vive às turras com o PT e o governo, e é criticado por misturar sindicalismo com política » Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, incomoda simultaneamente o governo, o PT e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Deputado reeleito, presidente do PDT paulista e pré-candidato à prefeitura da capital, ele assiste próximo, mas em segurança, à queda de seu principal aliado no partido, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Controverso, chamou a Comissão de Ética da Presidência, que pediu a exoneração de Lupi, de um colegiado formado por "velhos gagás e retardados" e expulsou verbalmente os pedetistas históricos que criticam o ministro, como o ex-deputado Vivaldo Barbosa.

Paulinho é o homem forte da segunda maior organização sindical do país, a Força Sindical. Criada em 1991 por influência das entidades patronais para se contrapor à CUT, ela conta hoje com mais de 1,7 mil sindicatos filiados. Uma a cada quatro entidade do tipo é ligada à Força. Durante a gestão do PDT no Ministério do Trabalho, iniciada com a nomeação de Carlos Lupi em 2007, a Central disparou no número de adesões e colou na CUT, que tem atualmente 2.162 sindicatos filiados.

A disputa é ferrenha. Paulinho é acusado de ter ameaçado de morte o presidente do Sindicato dos Gráficos de São Paulo, Márcio Vasconcelos, após a diretoria do sindicato ter aprovado a saída da entidade da Força e a filiação à CUT. No início do ano, a guerra sindical entre as duas entidades foi um dos estopins da greve nas obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, ambas em Rondônia, levando a Secretaria-Geral da Presidência a montar uma mesa tripartite, reunindo ainda os empresários, para evitar paralisações nas obras do PAC.

Com Lupi balançando no cargo, CUT e Força voltam a ficar de olho na pasta, mais especificamente na Secretaria de Relações do Trabalho — o guichê oficial onde os sindicatos decidem a qual central querem se agregar. Habilidoso, o pedetista é considerado por analistas políticos como o grande nome do sindicalismo no Congresso Nacional. "Ele se comporta como um sindicalista autêntico, é audacioso. Quem não abre a porta para ele depara-se logo com um monte de gente vestida com jalecos laranjas — marca característica da Força — batendo palmas e dizendo palavras de ordem na antesala do gabinete", afirmou um especialista em movimento sindical.

Mesmo antes do declínio de Lupi, Paulinho já era mais forte que o titular do Ministério do Trabalho. O parlamentar montou uma simbiose entre a Força Sindical e o PDT que dificulta uma distinção clara entre ambos. "O PDT sindical não existe mais, ele nos expulsou da legenda", reclama o ex-deputado federal Fernando Bandeira (RJ). "O movimento sindical do PDT não existia, eram seis ou sete sindicatos. Hoje, temos mais de 400 ligados ao partido", devolveu Paulinho.

Segundo Bandeira e Vivaldo, Paulinho instalou-se no PDT à revelia do fundador e presidente eterno do partido, Leonel de Moura Brizola. "Eu lembro da primeira vez que ele (Paulinho) tentou filiar-se ao PDT. O Brizola vetou. Na cabeça dele, sindicalismo e política não deviam andar juntos", recorda Bandeira. Com a morte do criador do PDT, Lupi assumiu a vaga de presidente da legenda, o que coincidiu com a ascensão de Paulinho. No mesmo ano, ele se candidatou à prefeitura da capital paulista e ganhou 86.549 votos, pouco mais de 1% dos eleitores.

Não desistiu. Embalado pelo movimento sindical e pelas festas de 1º de maio na Avenida Paulista, repletas de atrações sertanejas e pagodeiros universitários, Paulinho conseguiu eleger-se deputado federal em 2006 com mais de 287 mil votos, a sexta maior votação do estado — em uma bancada de 70 parlamentares — e a 12ª segunda do país, em um universo de 513 deputados. Foi soberano na bancada, definindo os movimentos do PDT de união ao bloquinho formado por PSB, PCdoB e PV, e ditando também a saída do grupo. Uma fonte ouvida pelo Correio recorda que a parceria firmada com o pedetista mineiro Mário Hering determinou os rumos que o partido tomaria no quadriênio 2007-2010.

Reeleição No ano passado, reelegeu-se com 20 mil votos a menos, mas ainda com força. Apesar dos esforços de Lupi em fevereiro para convencer a bancada a apoiar o salário mínimo de R$ 545, Paulinho bateu o pé e apresentou um destaque de R$ 560. Quase acompanhou a oposição, que queria um mínimo de R$ 600. "Ficaria demais para nós, os trabalhadores sairiam desgastados, mas não poderíamos apresentar a mesma proposta do governo", disse Paulinho, à época.

Ele vive às turras com o PT desde sempre. A batalha mais recente deu-se na sexta-feira, quando o presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão (SP), disse que existe aparelhamento no Ministério do Trabalho. "O PT quer tirar o Lupi a fórceps", rebateu. Lembrou que o PDT foi o primeiro partido aliado a apoiar Dilma Rousseff na disputa pela Presidência, no ano passado. Sugeriu, porém, que seu partido pode virar as costas para o PT na eleição para a Prefeitura de São Paulo, em 2012.

O sindicalista também tem coisas a explicar à Justiça. Sua mulher, Elza Pereira, foi denunciada em 2008 pelo Ministério Público Federal, acusada de desvios de mais de R$ 3 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). A denúncia amparou-se na Operação Santa Tereza, iniciada em 2007 pela Polícia Federal. "Ele não gosta de mim e eu não gosto dele. Não acho certo a mistura de sindicalismo com política. Nos Estados Unidos, isso terminou em crime", afirmou o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), citando o sindicalista americano Jimmy Hoffa, que atuava sob a tutela da máfia.

Trajetória A Força de Paulinho Criada em 8 de março de 1991

Tem 1.717 sindicatos filiados

É a segunda maior central do país, representando 24,4% do total de sindicatos brasileiros. A maior central, a CUT, tem 2.162 sindicatos válidos, o equivalente a 30,73% das entidades

O Paulinho da Força Está no segundo mandato como deputado federal

Elegeu-se em 2006 com 287.443 votos, o sexto mais votado em São Paulo e o 12º mais votado no país

Reelegeu-se em 2010 com 267.208 votos

Em 2002, disputou a Presidência da República como vice na chapa de Ciro Gomes (PPS). Na época, era filiado ao PTB