O Estado de São Paulo, n. 45005, 05/05/2017. Política, p. A6

Reeleição de Maia ganha reforço na base aliada

 

Igor Gadelha

 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recebeu ontem indicações de que sua candidatura à reeleição poderá agregar a maior parte dos partidos da base. A declaração de apoio mais explícita partiu do novo líder do PSDB, Ricardo Tripoli (SP). Segundo ele, o partido deve apoiar a recondução do parlamentar fluminense. Líderes do PP e do PR – maiores partidos do chamado Centrão, grupo de cerca de 200 deputados da base – também afirmaram ao Estado que a maioria de suas bancadas deve apoiar a reeleição de Maia. Ele afirma que só deve se lançar oficialmente como candidato quando tiver certeza de que tem apoio da maioria dos 513 deputados para vencer a disputa. Após se encontrar com o ministro de Relações Exteriores, José Serra (PSDB), no Palácio do Itamaraty, disse que sua candidatura está “começando a ficar madura” e que “caminha” para disputar a reeleição.

“Se a minha decisão for disputar novamente a eleição, e caminha para isso, será com tranquilidade, com um arco de alianças, respeitando os adversários”, afirmou Maia. Para o deputado do DEM, a questão jurídica está superada e o Supremo Tribunal Federal (STF) deverá respeitar a decisão da maioria dos deputados.

“Minha candidatura precisa amadurecer. Ela está começando a ficar madura e, na hora que ela ficar madura, você vai ver que ela vai ter um arco de alianças, se isso acontecer, que vai mostrar até para sociedade e para o próprio Supremo que a Casa quer decidir com voto de cada um dos deputados”, afirmou.

“Não posso ser candidato da minha vontade pessoal. Tenho que ser candidato da vontade de muitos partidos, muitos parlamentares”, disse Maia, que almoçou ontem com Tripoli e com o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), cotado para assumir a Secretaria de Governo de Temer.

O Solidariedade, um dos partidos do Centrão, e o deputado André Figueiredo (PDT-CE), que anunciou candidatura à presidência da Câmara, entraram em dezembro com duas ações no STF pedindo que a candidatura de Maia seja declarada inconstitucional. Eles argumentam que o artigo 57 da Constituição proíbe reeleição de presidentes do legislativo no mesmo mandato. Maia, porém, diz que o veto não cabe a presidentes em mandato-tampão, como ele.

Apoio. Dono da terceira maior bancada da Câmara, com 46 deputados, o PP deve apoiar a reeleição de Maia em troca da liderança do governo na Casa e da 2.ª vice-presidência na chapa do deputado do DEM. Um dos nomes para líder do governo é o do líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB). “Sempre o candidato à reeleição é favorito”, afirmou o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), ressaltando que o apoio não está fechado.

Integrantes da cúpula do PR – sigla com a quinta maior bancada da Câmara, com 40 deputados – também já admitem nos bastidores que o partido deverá apoiar Maia. Em troca do apoio, o PR negocia ficar com a 1.ª secretaria, responsável por gerir o orçamento da Casa, ou a 2.ª vice-presidência, cargo já ocupado hoje pela sigla.

A declaração do dirigente foi dada após o líder do PR na Câmara, Aelton Freitas (MG), se reunir anteontem com o presidente Michel Temer e ministros do Palácio do Planalto. O mineiro foi enviado pela cúpula da legenda para sondar como o governo deve se comportar na disputa interna na Casa. Na conversa, integrantes da cúpula do PR dizem o Planalto afirmou que não deve se envolver na eleição da Câmara, mas deixou claro que tem preferência por Maia.

O PR apoiou o deputado do DEM no 2.º turno da primeira eleição, em julho, quando derrotou o candidato do Centrão, Rogério Rosso (PSD-DF), que disputará novamente o cargo em fevereiro. Apesar da candidatura de Rosso, a cúpula do PSD está apoiando Maia nos bastidores.

O outro candidato do Centrão é o atual líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), que se reuniu ontem com o presidente Michel Temer. No encontro, comunicou que deverá lançar sua candidatura oficialmente na próxima terça-feira. “Não viemos pedir apoio. Viemos comunicá-lo que já elaboramos um plano de trabalho”, disse Jovair. / COLABORARAM RAFAEL MORAES MOURA e ISADORA PERON

 

Disputa na Câmara

A eleição para a Mesa Diretora da Câmara está marcada para o dia 2 de fevereiro. Além do cargo de presidente, deputados vão eleger dois vice-presidentes, quatro secretários e quatro suplentes de secretários.

 

Frase

“É natural o PSDB caminhar com o DEM (na Câmara). Temos uma aliança antiga.”

Ricardo Tripoli, líder do PSDB

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Para Rosso, novo mandato vai gerar ‘instabilidade’ na Casa

 
Daiene Cardoso

 

Candidato a ocupar a presidência da Câmara, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), elevou o tom ontem e classificou de “intriga” a informação de que auxiliares do Palácio do Planalto atuam para esvaziar as candidaturas vinculadas ao Centrão.

Em viagem pelo interior de Goiás, Rosso disse que a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) vai gerar “instabilidade e insegurança” na Casa. “É muita pretensão achar que só um deputado garante a governabilidade.” Rosso reiterou a disposição de manter sua candidatura e afirmou que não negociará cargos ou aceitará a liderança do governo em troca de desistir da disputa. “Sou desprendido de tudo isso”, disse.

O deputado se mostrou confiante de que o Supremo Tribunal Federal (STF) atuará para “fazer justiça” e impedir a candidatura de Maia – a Corte vai analisar se um presidente da Casa com mandato-tampão, como é o caso do deputado do DEM, pode concorrer à reeleição. “Essa história de ‘já ganhou’ normalmente o final não é feliz”, disse.

O líder do PSD afirmou que mantém contato com o presidente Michel Temer pelo menos quatro vezes por semana e que ele vem demonstrando “isenção” no processo de eleição.

Em referência ao secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, Rosso disse que “membros com grau de parentesco” com Maia não terão a mesma isenção – o presidente da Câmara é casado com a enteada do secretário – e reclamou da falta de “paridade de armas” ao concorrer contra o deputado do DEM.

Viagens. Rosso iniciou nesta semana sua agenda de viagens para conquistar o voto dos colegas. “Muitos deputados estão manifestando apoio à nossa candidatura independente do posicionamento dos seus partidos”, afirmou. Ele negou que esteja conversando sobre a composição da Mesa Diretora da Câmara e a distribuição de cargos nas comissões permanentes. Hoje, Rosso seguirá para Fortaleza, onde deve jantar com deputados cearenses. Nos próximos dias vai a João Pessoa, Recife, Natal e São Paulo.

Cobrança. O novo líder do PSDB, deputado Ricardo Tripoli (SP), cobrou Maia (DEM-RJ) que anuncie logo sua candidatura à reeleição ao comando da Casa. “Disse a ele que seria importante que anunciasse logo. Tenho certeza que ele registrou minha sugestão e fará o mais breve possível”, afirmou Tripoli, em entrevista ontem à imprensa na Câmara, após voltar de almoço com Maia na residência oficial da presidência da Casa.