Lava-Jato mira em quatro senadores

Eduardo Militão e Ana Maria Campos

22/03/2017

 

 

CRISE NA REPÚBLICA » Por ordem do Supremo, Polícia Federal sai às ruas para cumprir 14 mandados de busca contra Eunício de Oliveira, Renan Calheiros, Valdir Raupp e Humberto Costa em Brasília, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Maceió

 

 

A Polícia Federal ampliou o cerco ontem sobre quatro senadores suspeitos de corrupção na Operação Lava-Jato: o presidente do Senado, Eunício de Oliveira (PMDB-CE), o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), Valdir Raupp (PMDB-RO) e Humberto Costa (PT-PE). A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), o ministro-relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, autorizou agentes e delegados a cumprir 14 mandados de busca e apreensão a pessoas ligadas aos políticos. Batizada de “Satélites”, a ação buscava provas da relação dessas pessoas e de empresas com supostos repasses de propina e caixa dois para os parlamentares. A iniciativa visa reforçar informações obtidas a partir dos acordos de colaboração premiada de executivos da empreiteira Odebrecht.

É a sétima fase da Lava-Jato ordenada pelo Supremo. Foram três ações em 2015, duas em 2016 e uma em fevereiro. Ao todo, já foram 57 fases da operação, determinadas por magistrados de Curitiba, Brasília, Rio de Janeiro, Recife, São Paulo, Goiânia e Porto Velho.

Os 14 mandados indicavam que os policiais deveriam vasculhar 13 endereços em Brasília (duas ordens judiciais), Rio de Janeiro (três), Recife (cinco), Salvador (duas) e Maceió (duas). O nome Satélites faz referência ao fato de os supostos operadores “gravitarem” ao redor de pessoas com foro privilegiado no Supremo. “O objetivo é investigar indícios dos crimes de corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro”, afirmou nota da Polícia Federal.

A empresa de segurança e limpeza Confederal, de propriedade de Eunício Oliveira, foi um dos alvos da PF em Brasília. Os agentes e delegados cumpriram mandados de busca e apreensão na casa do presidente da empresa, Ricardo Augusto, e na sede da firma. Eunício está em ao menos um dos 83 pedidos da Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar políticos acusados de crimes com base em delações da empreiteira Odebrecht.

O advogado do senador, Aristides Junqueira, disse que a abertura de inquéritos no Supremo é o “caminho natural” das investigações sobre “versões de delatores” de conteúdo desconhecido. No entanto, ele destacou o fato de que o senador recebeu doações eleitorais em 2014, mas de forma legal. “No ano de 2014, durante o processo eleitoral, autorizou que fossem solicitadas doações, na forma da lei, à sua campanha ao governo do Estado do Ceará”, afirmou o advogado, em nota. “O senador tem a convicção de que a verdade dos fatos prevalecerá.”

 

Praia

Em Recife, a PF foi atrás da residência e das empresas de apoio à construção do empresário Mário Beltrão, amigo de infância do senador Humberto Costa e doador de suas campanhas. Um dos endereços vasculhados fica à beira da praia de Boa Viagem. O ex-gerente da Petrobras Carlos Alberto Ferreira afirmou que assinou cheques no valor de R$ 14 milhões nominais às empreiteiras Odebrecht e Schahin com destino à campanha do senador. Ainda segundo Ferreira, Mário Beltrão seria o operador do político. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa contou ao Ministério Público, em delação premiada, que parte das propinas extraídas do esquema de corrupção abasteceu a campanha de Costa. Pessoas próximas ao senador afirmam que Beltrão não era parceiro comercial ou arrecadador do político.

A assessoria de Humberto Costa informou que a Polícia Federal pediu o arquivamento do inquérito em apuração no STF sobre ele, “por não encontrar qualquer evidência de irregularidade ao longo de dois anos de extensa investigação”. “O senador — que tem contribuído com as autoridades em todos os esforços necessários à elucidação dos fatos — está certo de que a ação de hoje (ontem) vai corroborar a apuração realizada até agora, que aponta para o teor infundado da acusação e da inexistência de qualquer elemento que desabone a sua vida pública.”

De acordo com o advogado de Beltrão, Ademar Rigueira, a atuação do empresário é legal e as acusações de Ferreira sequer foram levadas em conta pelos investigadores. O defensor disse ao Correio que o empresário tem negócios com guindastes e manutenção de plataformas petrolíferas, mas recentemente não tinha contratos com a Petrobras. Rigueira destacou o pedido de arquivamento da PF. Porém, o MPF pediu novas apurações a partir de incongruências apontadas pela Receita Federal. Beltrão já prestou depoimento como testemunha no inquérito de Humberto Costa.

 

 

Correio braziliense, n. 19657, 22/03/2017. Política, p. 2.