Janot rebate críticas ao MPF

Paulo de Tarso Lyra

23/03/2017

 

 

CRISE NA REPÚBLICA » Em duro discurso, o procurador-geral da República responde ataques de Gilmar Mendes, sem citar o ministro nominalmente

 

 

O  clima de beligerância gerado pelos vazamentos dos nomes citados nas delações da Operação Lava-Jato e pelas falhas na Operação Carne Fraca aumentou ontem, após um discurso duro feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em defesa do Ministério Público. Ele garantiu que o MPF não realiza coletivas de imprensa em “off”, em uma clara resposta ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.

Mendes afirmou, na última terça-feira, que a PGR pratica crimes de vazamento de conteúdos sigilosos de investigações. Janot não citou Mendes nominalmente, mas ficou claro quem era o destinatário das críticas. O procurador-geral chamou de “mentira” a informação de que a PGR realiza “coletivas de imprensa em ‘off’, prática que já havia sido criticada pela ombudsman da Folha no domingo”.

“Aliás, essa matéria jornalística sequer ouviu o outro lado. Nós não fomos chamados a nos pronunciar sobre esta mentira”, disse o procurador, durante uma reunião de procuradores eleitorais em Brasília. “Esta matéria imputa esta prática como sendo uma prática corriqueira nos Três Poderes da República, e, apesar da imputação expressa de até o STF (fazer tal prática), não vi uma só palavra de quem teve uma disenteria verbal a se pronunciar sobre esta imputação ao Congresso, ao palácio e até ao Supremo”, afirmou Janot.

O procurador-geral da República não aliviou nos ataques. “Só posso atribuir tal ideia a mentes ociosas e dadas a devaneios. Mas, infelizmente, com meios para distorcer fatos e desvirtuar instrumentos legítimos de comunicação institucional”, disparou o chefe do Ministério Público Federal. Não foi a primeira vez em que Janot respondeu a declarações de Gilmar Mendes críticas ao MPF. Desta vez, Janot preparou um discurso, mas, nos momentos mais incisivos, não se ateve ao texto.

Não escaparam sequer as diversas reuniões que Mendes já teve com o presidente Michel Temer. “Procuramos nos distanciar dos banquetes palacianos. Fugimos dos círculos de comensais que cortejam desavergonhadamente o poder político. E repudiamos a relação promíscua com a imprensa.”

Janot foi além. “Ainda assim, meus amigos, em projeção mental, alguns tentam nivelar a todos à sua decrepitude moral, e, para isso, acusam-nos de condutas que lhes são próprias, socorrendo-se, não raras vezes, da aparente intangibilidade proporcionada pela posição que ocupam no Estado”, disse o chefe do Ministério Público Federal.

O procurador-geral da República disse também que “sempre houve, na história da humanidade, homens dispostos a sacrificar seus compromissos éticos no altar da vaidade desmedida e da ambição sem freios”. “Esses não hesitam em violar o dever de imparcialidade ou em macular o decoro do cargo que exercem; na sofreguidão por reconhecimento e afago dos poderosos de plantão, perdem o referencial de decência e de retidão”, disse ele.

Janot disse também que “mesmo quando exercemos nossas funções dentro da mais absoluta legalidade, estamos sujeitos a severas e, muitas vezes, injustas críticas de quem teve interesses contrariados por nossas ações”. “A maledicência e a má-fé são verdugos constantes e insolentes.” Procurado, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, não se pronunciou.

 

 

Correio braziliense, n. 19658, 23/03/2017. Política, p. 5.