Políticos que estiveram com o ex-governador Sérgio Cabral nos últimos dias afirmaram que a possibilidade de ele tentar fazer um acordo de delação premiada se tornou alternativa real, diante da Operação Eficiência. Ele estaria abatido, após três meses preso.
— Pelo tipo de prisão que existe no Brasil, acho que ninguém deixará de fazer delação. Ninguém aguenta ficar na prisão, independente de ter errado ou não. Ele pode aguentar seis, oito meses, mas no final vai ter que ceder — disse ao GLOBO um aliado do ex-governador.
Se há dúvidas sobre uma delação de Cabral, parte do comando da Lava-Jato recebeu sinais de que o primeiro elo do grupo que poderá abrir negociação para uma delação premiada é a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo, também presa em Bangu. De acordo com investigadores, o potencial de uma eventual delação de Adriana Ancelmo é grande, e lembram que a madrinha da renovação de votos dela com Cabral, em 2010, foi a ex-presidente Dilma Rousseff e o padrinho, o ex-presidente Lula.
Segundo peemedebistas ligados a Cabral, se houver qualquer possibilidade de o Ministério Público aceitar uma delação do ex-governador, caso ele tenha, por exemplo, informações que possam comprometer a alta cúpula do PMDB nacional, ele o fará.
CRIMINOSOS MAIORES
A força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba não comenta a hipótese de delação de Cabral. Através de assessoria, afirmou apenas que se houver interesse do ex-governador em fazê-la, isso deverá ser levado ao Ministério Público Federal do Rio, que compartilhará termos e discutirá a hipótese com o MPF em Curitiba e com a Procuradoria-Geral da República.
Como Cabral é réu em ação em Curitiba, eventual delação também dependeria de homologação do juiz Sérgio Moro, que mais de uma vez se manifestou dizendo que “não se vislumbra interesse da Justiça na realização de acordo de colaboração com chefe de grupo criminoso organizado, mesmo que este se disponha a identificar todos os seus comandados”.
A delação de Cabral, portanto, só serviria à Lava-Jato se revelasse um esquema ainda maior, com pessoas de foro privilegiado, o que faria com que o acordo precisasse ser homologado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Isso porque não valeria a pena abrandar uma eventual condenação do peemedebista com uma delação se ele citar apenas ex-subordinados e pessoas de menor expressão política.
“Faz-se um acordo com um criminoso pequeno para obter prova contra o grande criminoso ou com um grande criminoso para lograr prova contra vários outros grandes criminosos”, escreveu Moro em seu livro “Lavagem de Dinheiro”.
Cabral estaria interessado em contratar o advogado criminalista Sérgio Riera, que têm experiência em delações premiadas homologadas pelo STF, por ter como cliente o operador Fernando Baiano. Riera, no entanto, negou ter sido procurado para atuar em favor do ex-governador:
— Não é verdade. Nunca se falou comigo sobre isso.
Dirigentes do PMDB fluminense afirmaram que não viram qualquer sinal de que Cabral queira celebrar um acordo de colaboração. É comum que isso seja discutido com a família, o que, segundo relatos, ainda não ocorreu, e que o réu interessado mude para advogados especializados na celebração de acordos, e que não há sinais de que o ex-governador esteja se movimentando nesse sentido.
Um outro aliado que esteve recentemente com Cabral contou, no entanto, que a prisão da mulher, Adriana Ancelmo, e a exposição dos dois filhos pequenos “tiram o sossego” do ex-governador. E que, por isso, ele pode tentar uma delação. Esse dirigente não acredita, porém, que ele tenha elementos para comprometer a cúpula do PMDB nacional.
— Para quem interessa uma delação? Ele delataria o quê? Será que ele tem alguém para entregar em nível nacional? Realmente não sei. O que angustia ele demais é a prisão da Adriana e as crianças, isso tira o sossego dele. Ele levava as crianças na escola, que agora estão sofrendo bullying — disse esse dirigente.
Na PF, há expectativa do que Cabral pode apresentar de novo. E das provas que ele mostrará.
— Agora, temos de esperar — afirmou um investigador.
MOMENTO OPORTUNO
A ideia de Cabral seria aproveitar o momento em que o empresário Eike Batista é considerado um foragido da Polícia Federal para negociar com a força-tarefa que investiga o esquema de corrupção. Eike é visto pelos investigadores como um possível colaborador. A visão é que ele delataria todo o esquema de corrupção para não ser privado da liberdade.
A dúvida é se a força-tarefa aceitaria as informações de Cabral. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal estão atrás de mais dinheiro depositado fora do país em benefício de Cabral ou de algum laranja.
De acordo com servidores que participam das investigações, só há espaço para uma mega delação nesse caso, porque é preciso a punição de pelo menos um dos maiores beneficiados pelo esquema de corrupção.
O Estado de São Paulo, n. 30490, 28/01/2017. País, p.4