Título: Alerta contra a baixa qualidade
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 05/12/2011, Cidades, p. 18

Especialistas denunciam instituições de nível superior mais preocupadas com a arrecadação das mensalidades do que com os investimentos na infraestrutura e no corpo docente. Avaliações do MEC identificam as faculdades sem ofertas de boa formação

HELENA MADER

O crescimento rápido da quantidade de alunos matriculados em instituições de ensino superior traz um novo desafio: a necessidade de aliar a expansão do total de vagas à qualidade da educação. Para atrair mais alunos e melhorar a arrecadação, muitas faculdades derrubam o preço das mensalidades, mas deixam de investir em infraestrutura e no corpo docente. Os resultados negativos aparecem nas avaliações realizadas periodicamente pelo Ministério da Educação (MEC). Duas instituições do Distrito Federal correm o risco de terem as graduações fechadas, por conta de notas baixas. Outras podem entrar na mira do MEC se não houver melhoria no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).

Para o diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) , Sólon Caldas, o crescimento na quantidade de alunos matriculados em instituições de nível superior pode ser explicado pela ascensão das classes C e D. Além disso, ele atribui o fenômeno à expansão de programas como o Fies e o Prouni. "Os juros do Fies caíram e também foi criado um fundo garantidor. Com isso, mais pessoas têm condições de arcar com as mensalidades", comenta.

Para o representante da associação que reúne as instituições de ensino superior particulares do país, as exigências do mercado de trabalho aumentaram. "Hoje, é muito mais difícil conseguir uma vaga em um emprego, sem diploma. Por isso, a demanda também cresceu", justifica o especialista. Sólon garante que as instituições se esforçam para manter a qualidade do ensino. "Essa é uma exigência dos próprios alunos. A maioria trabalha para pagar as mensalidades, então, esses estudantes jamais aceitariam uma educação de baixa qualidade", acrescenta.

O diretor executivo da ABMES também diz que é preciso haver grandes mudanças na educação superior do Brasil. "Hoje, os estudantes das classes mais altas têm o ensino custeado pelo governo. É preciso que haja uma política para mudar esse quadro, para corrigir essas distorções e criar um sistema mais justo", finaliza Sólon.

Aos 18 anos, Brenda Ruas será a primeira da família a cursar uma graduação. Filha de uma dona de casa e de um técnico de futebol, a moradora de Brazlândia está no segundo semestre de pedagogia. Ela estuda no câmpus que o Centro Universitário Iesb abriu em Ceilândia para atender a demanda reprimida dos que no passado não tinham condições de frequentar uma universidade. "Estudar perto de casa é um grande estímulo. No passado, só havia opções de faculdade no Plano Piloto. Mas eu prestei muita atenção na qualidade antes de escolher onde estudar. Não adianta olhar só o preço da mensalidade", explica a jovem.

A reitora do Centro Universitário Iesb, Eda Machado, lembra que os alunos integrantes do Prouni são selecionados por meio da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o que garante o ingresso de estudantes capacitados. "Quase 70% das pessoas que cursam o ensino superior estão em instituições privadas. Isso mostra o tamanho da responsabilidade das particulares", avalia.

Segundo ela, a expansão rápida tem um fator negativo: a proliferação de cursos de baixa qualidade. "Muitas instituições não ajudam a formar profissionais capacitados para atuar no mercado de trabalho. Há cursos com mensalidades inferiores a R$ 200. Com esse valor, é impossível oferecer uma boa formação. Há muitos alunos perdendo tempo e dinheiro, já que só o diploma não é garantia de sucesso", acrescenta Eda, que defende as avaliações do MEC para apontar instituições ruins.

Estagnação O doutor em educação Erasto Fortes, professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em políticas públicas e gestão da educação, explica que a oferta de vagas em cursos de graduação ficou estagnada nos anos 1990, quando o país privilegiou os investimentos no ensino fundamental. "Hoje, temos 98% das crianças de 7 a 14 anos matriculadas em instituições de ensino. Mas o problema é que essa política deixou de lado o ensino médio, o infantil e, principalmente, o superior", afirma.

O especialista garante que a falta de investimentos do governo nas universidades motivou o crescimento rápido das instituições particulares, inclusive dos estabelecimentos mais fracos. "Até 2003, a expansão ocorreu principalmente no setor privado. Infelizmente, surgiram algumas ruins, que funcionam em sobrelojas ou em salas no subsolo de prédios. Os estudantes ficaram sujeitos a essa realidade, que só começou a mudar com o surgimento de programas como o Reuni, o Fies e o Prouni", conclui Erasto.

O secretário-geral do Uniceub, Maurício Neves, também critica a proliferação de faculdades de baixa qualidade. "Surgiu em Brasília e no resto do país o que chamamos de faculdades de R$ 1,99, que são instituições que se aproveitam da demanda crescente das classes C e D para oferecer cursos sem qualificação", critica.

Para ele, o Programa Universidade para Todos é uma forma de selecionar alunos qualificados, que poderão estudar em estabelecimentos de ensino com bom nível. "Nos primeiros anos do Prouni, os estudantes que entravam eram ainda mais capacitados, porque muitos passaram anos fazendo cursinho até que o governo criasse esse programa. Mas, certamente, o Prouni é um dos fatores que facilitaram o acesso às universidades", explica Maurício.