O Estado de São Paulo, n. 45007, 07/01/2017. Política, p. A4

Câmara ameaça vetos de Temer para ajudar Estados

 

Isabela Bonfim

 

A base aliada ao presidente Michel Temer planeja reverter algumas de suas decisões recentes tão logo o Congresso retome suas atividades em fevereiro. Sem seguir as orientações do Palácio do Planalto, deputados querem derrubar as restrições feitas à renegociação da dívida dos Estados, Imposto sobre Serviços (ISS) e tópicos da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Prometem ainda modificações na medida provisória de regularização fundiária, que desagradou à bancada ruralista e também à oposição.

O movimento é encabeçado por parlamentares do PMDB, mesmo partido de Temer, e reforçado por deputados das bancadas dos Estados mais endividados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Os parlamentares já iniciaram a articulação para a derrubada do veto parcial ao projeto de renegociação das dívidas. Temer barrou o regime especial de socorro aos Estados em calamidade fiscal após os deputados retirarem do texto as contrapartidas, mesmo contra orientação da equipe econômica do governo.

O deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ), que é aliado do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), é um dos que pretendem encampar a articulação.

“Os vetos foram concentrados exatamente nos pontos que atendiam ao Estado do Rio, que era a postergação do pagamento das amortizações da dívida, por isso eu vou votar para derrubar”, afirmou.

De acordo com o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA), que também integra o movimento, o líder da bancada do PMDB, Baleia Rossi (SP), e o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, já foram informados das movimentações.

Ainda segundo Rocha, eles não teriam reprimido a articulação, mas o líder do governo, André Moura (PSC-SE), foi acionado para trabalhar contra a derrubada dos vetos.

Para tentar conter o movimento, na próxima semana Temer se reúne com Pezão em busca de uma alternativa para socorrer os Estados. O presidente, que pretende enviar ao Congresso um novo projeto de socorro fiscal, vai negociar antes uma proposta com o governador do Rio. Caso a sugestão agrade a Pezão, a bancada fluminense receberá sinal verde para manter o veto de Temer.

Imposto. Outro veto na mira dos deputados está no projeto que fixa em 2% a alíquota mínima do Imposto sobre Serviços (ISS). Uma das inovações do texto era a cobrança do tributo no município em que fosse realizada a transação com cartão, permitindo maior distribuição da receita do imposto. Mas o presidente vetou o trecho, mantendo a cobrança no domicílio das administradoras do cartão, que estão concentradas na Região Sudeste.

“Mudamos no Congresso para fazer justiça fiscal. Mas, por interesse exclusivo dos bancos e operadoras de cartão, o presidente vetou. Isso não interessa ao governo federal, porque é um tributo municipal. Esse veto foi por interesse privado e o presidente tem que trabalhar pelo interesse público”, criticou Hildo Rocha.

Já na LDO, os deputados querem derrubar o veto ao dispositivo que permitia que municípios carentes, participantes do programa Territórios da Cidadania, recebessem repasses do governo federal mesmo quando inadimplentes. A proposta permitiria, por exemplo, que os municípios recebessem obras financiadas pelo governo federal. Agora, esses empreendimentos ficam proibidos.

O deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), por sua vez, busca apoio para derrubar o veto integral ao projeto que permitia a inclusão da promoção de produtos e serviços turísticos na Lei Rouanet. Temer argumenta que a legislação atual já possui instrumentos que contemplam o desenvolvimento turístico. O deputado, entretanto, acredita que a decisão é um equívoco.

“Já iniciei a articulação e vou procurar todos os líderes, inclusive os do governo, para derrubar o veto”, afirmou.

Regularização fundiária. Parlamentares articulam ainda modificações na MP que trata da regularização fundiária. O texto foi editado por Temer em 23 de dezembro e, mesmo durante o recesso, a proposta já motivou críticas na bancada ruralista, que considera a medida mais “progressista” do que o esperado.

Na avaliação de deputados do setor, o texto é radical em aspectos como a desapropriação de terras para reforma agrária e regularização de assentamentos. Já partidos de oposição vão reclamar a forma de distribuição das terras, já criticada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

 

DECISÕES

Os vetos na mira de deputados da base do governo:

Renegociação da dívida dos Estados

Veto ao regime especial de socorro aos Estados em calamidade fiscal, que previa a suspensão dos pagamentos por três anos;

 

ISS

Veto à cobrança do imposto na localidade de realização da compra com cartão de crédito ou débito;

 

LDO

Veto à permissão de repasses do governo federal aos municípios participantes do programa Territórios da Cidadania;

 

Lei Rouanet

Veto total ao projeto que incluía serviços e produtos turísticos nos incentivos da Lei Rouanet.

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Parte do Centrão deve aderir à candidatura Maia

 

Igor Gadelha

 

Dirigentes do PP, PR e PSD se reúnem na próxima semana com representantes do governo Michel Temer para acertar o apoio dos três partidos à reeleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara. A disputa está marcada para 2 de fevereiro.

PP, PR e PSD são os três maiores partidos do chamado Centrão e juntos reúnem mais de 120 dos 200 deputados do grupo. Formado por parlamentares 13 siglas diferentes, o bloco informal disputa espaço na base aliada com Maia e tem dois pré-candidatos à presidência da Câmara: os líderes do PSD, Rogério Rosso (DF), e do PTB, Jovair Arantes (GO).

O acordo de apoio a Maia começou a ser costurado por PP, PR e PSD no fim do ano passado. A primeira reunião ocorreu entre o presidente do PR, Antônio Carlos Rodrigues, com o ministro Gilberto Kassab (Comunicações), que comanda o PSD. Em seguida, Kassab conversou com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP.

Reservadamente, integrantes dessas siglas dizem que o apoio a Maia se deve a três motivos principais: porque o deputado do DEM honrou compromissos com os partidos, porque não acreditam que os dois candidatos do Centrão terão votos suficientes e, principalmente, porque Maia é o candidato preferido do governo. Oficialmente, o Planalto afirma que não vai interferir na disputa pela presidência da Câmara.