O Estado de São Paulo, n. 45012, 12/01/2017. Política, p. A6

Lula defende ‘direito’ de candidatura à Presidência

 
Daniel Weterman
Cleusa Duarte

 

Ao participar de seu primeiro ato público do ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que todos aqueles que queiram ser candidato à Presidência da República devem ter esse direito. Durante o 29.º Encontro Estadual do Movimento dos Sem Terra (MST), em Salvador, o petista voltou a afirmar que poderá disputar novamente o Palácio do Planalto.

“Se o (presidente Michel) Temer quer ser, ótimo, se o (ministro José) Serra quer ser, ótimo, se o (juiz Sérgio) Moro quer ser, ótimo, se os delegados (da Polícia Federal) querem ser... todo mudo que quer ser candidato tem direito, entre num partido e vá para as ruas”, afirmou.

O PT pretende lançar a candidatura de Lula a um terceiro mandato presidencial até, no máximo, maio deste ano. A antecipação tem por objetivo aproveitar a baixa popularidade do governo Michel Temer e reforçar a defesa jurídica do ex-presidente, réu em cinco ações penais, duas delas diretamente no âmbito da Operação Lava Jato. Nenhum dos processos foi julgado até agora. Caso seja condenado em 2.ª instância, por órgão colegiado, Lula ficará inelegível com base na Lei Ficha Limpa.

No evento, o petista acusou Moro de ter influência no impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff.

Bonés vermelhos. As agendas do ex-presidente com movimentos populares ontem e hoje – quando participa de ato com trabalhadores da educação, em Brasília – fazem parte da estratégia de criar uma frente de apoio antes de o petista anunciar oficialmente que será candidato. Além disso, Lula prepara um programa econômico para se contrapor ao de Temer.

“Se preparem, porque, se necessário, eu serei candidato à Presidência. Se eu for candidato, é para a gente ganhar as eleições desse país”, disse o ex-presidente, de boné vermelho do MST. Na plateia, cerca de dois mil agricultores usavam bonés com a inscrição “Estamos com Lula”.

Mais cedo, no mesmo evento, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que o partido ainda não tomou a decisão sobre uma eventual candidatura do ex-presidente, mas que ele é “aspiração nacional”.

Durante o discurso, Lula era interrompido pelo público com o grito “Brasil pra frente, Lula presidente”. O ex-presidente disse ainda que durante este ano vai andar pelo País para recuperar a imagem do PT e sua própria imagem. Ele voltou a afirmar que a legenda está sendo criminalizada pela mídia e pela Justiça.

Estado. Em discurso, o ex-presidente defendeu a retomada do crescimento do País por meio de investimentos do governo. “O único jeito desse país voltar a crescer é o Estado investir, pode mexer no compulsório, pode aumentar a dívida. A melhor forma de diminuir a dívida com proporção do PIB é fazer o PIB crescer”, afirmou. Lula disse também que o Brasil precisa fazer a reforma agrária e voltar a usar recursos dos bancos públicos para financiar não só a agricultura familiar, mas os pequenos empresários e os consumidores.

De acordo com líder do MST, João Pedro Stédile, o movimento “não precisa fazer um evento para lançar Lula presidente do Brasil”. Para Stédile, o ex-presidente é “o candidato permanente do povo pobre brasileiro”. Hoje, Lula participa, na capital federal, de um congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

 

‘Todo mundo’

“Se o (presidente Michel) Temer quer ser, ótimo, se o (ministro José) Serra quer ser, ótimo, se o (juiz Sérgio) Moro quer ser, ótimo, se os delegados (da Polícia Federal) querem ser... todo mudo que quer ser candidato tem direito, entre num partido e vá para as ruas.”

Luiz Inácio Lula da Silva