Com alta de matérias-primas, Bolsa sobe a maior nível em 5 anos 
Ana Paula Ribeiro 
24/01/2017
 
 
Ações da Vale puxam alta no Ibovespa, que bate recorde em pontos

-SÃO PAULO- A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) atingiu ontem o seu maior patamar em quase cinco anos. Puxada pelo desempenho das ações da Vale e dos bancos, o Ibovespa encerrou o dia com alta de 1,90%, aos 65.748 pontos, a maior pontuação desde 27 de março de 2012 (66.037 pontos). O avanço da bolsa brasileira se deu em um ambiente positivo para as commodities, que se valorizaram no exterior com as primeiras medidas protecionistas de Donald Trump nos EUA — como a decisão de sair da Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês), vista como favorável aos preços de matérias-primas. Já o dólar comercial registrou o terceiro pregão consecutivo de queda, ao recuar 0,40%, para R$ 3,17.

Na avaliação de Rogério Freitas, sócio diretor da Teórica Investimentos, o Brasil se beneficia não só da valorização das commodities, mas também da perspectiva de melhora da economia brasileira, diante da recuperação da atividade de forma gradual ao longo do ano.

— Trump está tomando medidas protecionistas, que podem dificultar a importação de bens ou deixá-los mais caros. Isso já era esperado. Mas isso costuma ser bom para as commodities, já que você tem um ambiente mais propício para a alta dos preços desses produtos — diz Freitas.

BANCOS EM ALTA

Refletindo a valorização de 0,9% do minério de ferro na China — a tonelada chegou a US$ 81,10 —, as ações da Vale registraram fortes altas: as preferenciais (PN, sem direito a voto) subiram 4,82%, e as ordinárias (ON, com voto), 3,76%. No ano, as ações da mineradora já se valorizaram mais de 30%. O possível aumento dos investimentos dos Estados Unidos em infraestrutura contribuem diretamente para essa mudança de patamar dos preços.

Outra contribuição positiva para o avano do Ibovespa acima dos 65 mil pontos veio do setor bancário, que é o de maior peso na composição do índice. As ações preferenciais do Itaú Unibanco e do Bradesco subiram ontem 3,36% e 2,28%, respectivamente. No caso do Banco do Brasil, a alta chegou a 4,53%. Esse movimento, segundo analistas, deve-se a rumores de que o Banco Central pode flexibilizar as regras do compulsório para reduzir o custo do crédito no país.

Nas economias desenvolvidas, as medidas protecionistas por parte dos Estados Unidos tiveram efeito negativo nos mercados. Há uma preocupação de que ações como a saída formal do TPP ou a renegociação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, em inglês) possam reduzir o crescimento do comércio global. Refletindo esses temores, o índice Dow Jones caiu 0,14%, e o S&P 500, 0,27%. Na Europa, os principais indicadores tiveram perdas. O FTSE 100, de Londres, caiu 0,66%, o DAX, de Frankfurt, recuou 0,73%, e o CAC 40, da Bolsa de Paris, teve desvalorização de 0,60%.

A Bolsa de Tóquio fechou em queda de 1,29%, sob forte impacto da valorização do iene frente ao dólar, favorecida pelo clima de incertezas sobre a economia americana. O Hang Seng, de Hong Kong, ficou praticamente estável, com leve variação positiva de 0,06%.

DÓLAR MAIS FRACO

Na avaliação de Bernard Gonin, analista e gestor de renda fixa da Rio Gestão de Recursos, o recuo global do dólar se deve ao fato de que os investidores esperavam que Trump anunciasse, logo depois de assumir, medidas fiscais, como corte de impostos, e o plano de investimentos em infraestrutura. Como isso não ocorreu, os juros dos títulos públicos americanos recuaram, fazendo o dólar perder força.

— Trump não mostrou nada de concreto no plano econômico de curto prazo, e isso influenciou a curva de juros americana. O mercado está um pouco frustrado — disse, lembrando que, com juros ainda baixos nos Estados Unidos — 0,75% ao ano —, os investidores procuram ativos de maior risco.

Os títulos do Tesouro americano de dez anos estão sendo negociados com um juro de 2,40% ao ano. Era de 2,60% em 12 de dezembro e de cerca de 1,80% antes da eleição de Trump. A melhora nos indicadores da atividade econômica americana e a eleição do republicano levaram a essa alta.

O dólar perdeu força em escala global. O Dollar Index, da Bloomberg, que mede o comportamento da divisa americana frente a uma cesta de dez moedas, tinha recuo de 0,70% próximo ao horário de encerramento dos negócios no Brasil.

O globo, n. 30486, 24/01/2017. Economia, p. 16