O Estado de São Paulo, n. 45020, 20/01/2017. Política, p. A10

Sem Teori não haveria a Lava Jato, afirma Moro
 

 

Principal face da Operação Lava Jato, o juiz federal Sérgio Moro, afirmou ontem ter ficado “perplexo” com a morte do ministro Teori Zavascki. Em nota, o magistrado responsável pelos ações relacionadas ao caso na primeira instância disse que, sem ele, não haveria a operação.

“O ministro Teori Zavascki foi um grande magistrado e um herói brasileiro. Exemplo para todos os juízes, promotores e advogados deste país. Sem ele, não teria havido a Operação Lava Jato. Espero que seu legado, de serenidade, seriedade e firmeza na aplicação da lei, independente dos interesses envolvidos, ainda que poderosos, não seja esquecido”, afirmou Moro na nota.

Outro envolvido na condução das investigações da Lava Jato, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também citou a conduta de Teori no caso ao lamentar o ocorrido. Janot estava na Suíça quando foi informado.

Para o procurador, Teori “honrou o papel de magistrado, ao atuar de forma ética, isenta, discreta e extremamente técnica durante toda sua carreira”.

“Na relatoria da Operação Lava Jato no STF, o ministro não hesitou em adotar medidas inéditas para a Suprema Corte, a pedido do Ministério Público Federal”, destacou Janot. “É inegável e inquestionável a grande contribuição que o ministro Teori Zavascki deu ao Estado Democrático de Direito Brasileiro a partir de sua atuação como magistrado”, lamentou Janot, em nota distribuída pela assessoria da Procuradoria-Geral da República.

Para o ministro Luís Roberto Barroso, colega de Teori no Supremo , a morte deTeori é uma perda para o País. “O Tribunal perde um juiz especialmente vocacionado.

E o País perde um grande homem. Somos todos vítimas de uma trapaça da sorte”, afirmou Barroso . “Perco um amigo querido, que eu recebia em casa com frequência.”

 

Delegados. Também em nota, delegados de Polícia Federal disseram que o ministro “contribuiu de forma inestimável para o combate à corrupção”.

“No Supremo desde 2012, ele era um dos juízes mais respeitados do Brasil e contribuiu de forma inestimável para o combate à corrupção”, escreveu a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF).

A nota é subscrita pelo delegado Carlos Eduardo Sobral, presidente da entidade.

“Como relator da Operação Lava Jato, o ministro sempre garantiu à Polícia Federal as condições necessárias para a realiza- ção de suas operações”, afirma o texto da associação.

 

Força-tarefa. A notícia da morte de Teori foi recebida por procuradores da República da força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, com perplexidade. Na avaliação deles, o futuro das investigações sobre a corrupção na Petrobrás, originadas na capital paranaense, depende da conclusão dos acordos de delação premiada e leniência da Odebrecht e da continuação dos processos contra políticos na corte.

Responsáveis pelo acordo de leniência com a empresa (espécie de delação para pessoas jurídicas), os procuradores da Lava Jato tratam prazos estabelecidos para o acordo em consonância com a análise do Supremo das delações premiadas dos 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht.

Para os investigadores, a Lava Jato entrará em 2017 na sua maior ofensiva contra políticos e ficará em grande parte concentrada nos processos do Supremo, de alvos com foro privilegiado.

Procurados, os integrantes da força-tarefa não quiseram comentar. Em nota coletiva de pesar, eles lamentaram a morte e afirmaram que a “atuação firme (de Teori) na relatoria da operação honrou o Supremo”.

“O ministro Zavascki teve uma trajetória profissional marcada pela lisura e pela seriedade. Sua atuação firme na relatoria da operação honrou o Supremo e foi um louvável serviço prestado ao país”, informaram os procuradores da República, em nota divulgada pela assessoria de imprensa do Ministério Público Federal.

 

Os juízes federais brasileiros estão consternados com a prematura morte do ministro. O Supremo Tribunal Federal e o Brasil perdem um magistrado culto, sério, honesto e cumpridor de seus deveres”

Roberto Veloso

PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS JUÍZES FEDERAIS

 

Foi um herói brasileiro. Sem ele, não teria havido Operação Lava Jato. Espero que seu legado de serenidade, seriedade e firmeza na aplicação da lei, independentemente dos interesses envolvidos, ainda que poderosos, não seja esquecido”

Sergio Moro

JUIZ FEDERAL

 

Era um juiz justo, discreto, sensato, equilibrado, corajoso e independente. Não poderia haver alguém melhor para relatar o processo da Lava Jato. Sua morte é uma grande perda para o Brasil e eu perco um querido amigo”

Cesar Asfor Rocha

EX-PRESIDENTE DO STJ

 

Honrou o papel de magistrado, ao atuar de forma ética, isenta, discreta e extremamente técnica durante sua carreira. É inegável e inquestionável a grande contribuição que deu ao Estado Democrático de Direito Brasileiro”

Rodrigo Janot

PROCURADORGERAL DA REPÚBLICA

 

Era um homem íntegro, preparado e trabalhador. Perco um amigo, que recebia em casa com frequência. O Tribunal perde um juiz especialmente vocacionado. E o País perde um grande homem. Somos vítimas de uma trapaça da sorte”

Luís Roberto Barroso

MINISTRO DO STF

 

Juízes cobram investigação

A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) cobraram ontem que as causas do acidente sejam esclarecidas “com a maior rapidez e transparência possível.”

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Delegado da PF levanta suspeitas sobre acidente

 

Pedro Venceslau

 

Um dos mais antigos integrantes da força-tarefa da Polícia Federal na Operação Lava Jato em Curitiba, o delegado Márcio Anselmo publicou ontem uma mensagem nas redes sociais na qual levantou suspeitas sobre o acidente que matou o ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki. “Agora, na véspera da homologação da colaboração premiada da Odebrecht, esse ‘acidente’ deve ser investigado a fundo. Sinceramente, se essa notícia se confirmar, é o prenúncio do fim de uma era!” Em novembro de 2014, Anselmo já havia causado polêmica nas redes sociais ao chamar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “anta”. “Alguém segura essa anta, por favor”, escreveu o delegado.

O texto sobre o acidente foi apagado pouco tempo depois, mas alimentou uma corrente de teorias conspiratórias nas redes sociais sobre o episódio.

Internautas também resgataram um post de maio do ano passado publicado no Facebook por Francisco Prehn Zavascki, filho de Teori, no qual ele fez um “alerta”. “É óbvio que há movimentos dos mais variados tipos para frear a Lava Jato. Penso que é até infantil imaginar que não há, isto é, que criminosos do pior tipo (conforme Ministério Público Federal afirma) resolveram se submeter à lei. Porém, alerto: se algo acontecer com alguém da minha família, vocês já sabem onde procurar. Fica o recado.”

 

Conselhos’. Os seguidores do filho do ministro nas redes sociais escreveram centenas de mensagens “aconselhando” ele a não acreditar que foi um acidente.

“Não acredite em acidente, Francisco. Foi crime premeditado”, escreveu um deles. Outro foi além e citou o juiz Sérgio Moro: “Imaginem o que são capazes de fazer com nosso herói Sérgio Moro”. Alguns mais exaltados acusaram o PT pelo crime.

No Twitter, o músico Lobão também deu a sua contribuição para a tese ao escrever em letras maiúsculas: “APAGARAM O TEORI!”.

Conhecida por suas polêmicas na internet, a advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, também entrou no debate. “Tem de investigar a queda do avião, sim! Queremos investigação transparente, feita por equipe formada por membros de vários órgãos”, tuitou a advogada.

O ministro estava de férias desde o início do recesso do Judiciário, em dezembro, mas voltaria a trabalhar nesta semana.

Teori estava analisando a delação da Odebrecht, composta pelo depoimento de 77 executivos.

A previsão é de que boa parte dos 950 depoimentos que fazem parte do acordo de colaboração pudesse ser divulgado no início de fevereiro. Teori era o ministro responsável pela homologação da delação da empreiteira.

 

Investigação

 

“Agora, na véspera da homologação premiada da Odebrecht, esse ‘acidente’ deve ser investigado a fundo.Sinceramente, se essa notícia se confirmar, é o prenúncio do fim de uma era!”

Márcio Anselmo

DELEGADO DA FORÇA-TAREFA DA POLÍCIA FEDERAL NA LAVA JATO