Título: Cartilha da CVM alerta sobre golpes em aplicações financeiras
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 11/12/2011, Economia, p. 18

Fraudadores simulam investimentos, aproveitando-se da ascensão da classe CNotíciaGráfico

Vera Batista

O crescimento econômico dos últimos anos e o incremento da renda dos trabalhadores ampliaram a classe C e levaram, pela primeira vez, muitos brasileiros ao mercado financeiro. Embora tenham mais acesso aos investimentos, algumas pessoas ainda resistem à ideia de acompanhar suas aplicações cotidianamente, por falta de informação ou prática, e acabam sendo enganadas. Para evitar eventuais prejuízos, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regula o mercado de capitais, e o Ministério da Justiça lançaram um guia que identifica golpes disfarçados de investimentos e orienta como proceder para não ser vítima de ofertas irregulares.

"Esse sonho de enriquecer rapidamente está presente em todas as camadas sociais. A nova classe média, porém, é mais vulnerável por ter menos tradição de lidar com o mercado financeiro", afirma Antonio de Julio, da consultoria MoneyFit.

Para o consultor, os cidadãos são seduzidos pelas ofertas tentadoras por desconhecerem que o sistema de capitais é formado por instituições financeiras e outras entidades autorizadas pelo Banco Central a operar no país e registradas na CVM. "O brasileiro, ao longo de anos de inflação alta, só conhecia a caderneta de poupança. Ou as "caixinhas", aplicações em que depositavam uma cota mensal e no fim do ano resgatavam os rendimentos", destaca. De Julio ressalta que, apesar de as gerações mais novas não terem conhecido a carestia daquela época, foram educadas dentro dessa ideologia e, inconscientemente, seguem o mesmo método de aplicação.

As fraudes se multiplicaram, de acordo com a CVM, pela facilidade de divulgação pelos golpistas por meio da internet. Em 2010, foram abertos 46 processos contra essa prática no órgão regulador. Até novembro deste ano, já somam 42. O primeiro passo para escapar dos golpes é estar bem informado, acompanhar as operações e desconfiar de promessas de retornos elevados com baixo risco. A cartilha da CVM alerta que, no mercado financeiro, "rentabilidade e risco andam de mãos dadas". E completa: "Se é bom demais para ser verdade, provavelmente não é". Os fraudadores costumam usar um discurso sofisticado, para demonstrar domínio do assunto e, ao mesmo tempo, sugerir que o investidor iniciante é incapaz de discutir o tema com facilidade.

Corretagem Entre os golpes rotineiros, está o contato feito por supostos escritórios que afirmam que o consumidor detém antigas aplicações esquecidas, como ações de empresas de telefonia, referentes a planos de expansão e cotas de fundos. A intenção é seduzir com a promessa de altas somas em dinheiro e induzi-lo a pagar uma pequena quantia, a título de corretagem ou de Imposto de Renda. Quando ele se dá conta do ato malicioso, já perdeu o que desembolsou e não encontra mais o falso empresário.

A formação da sociedade brasileira, na qual, durante muito tempo, só o homem administrava os recursos da família, contribuiu para a ocorrência dessa fraude. "No passado, a mulher não precisava entender de finanças. Quando o marido morria, a viúva era surpreendida com a comunicação de uma herança fabulosa, com um arsenal de dívidas ou ainda com a divisão dos bens com uma segunda família", lembrou Silvia Alambert, da consultoria The Money Camp, no Brasil.

Outra farsa que evidencia que a sistemática da antiga caixinha ainda está presente no inconsciente coletivo, é a aquela conhecida como pirâmides ou correntes. "Elas são as caixinhas da modernidade", ironiza Antonio De Julio. As pirâmides provocam uma cadeia de adesão e garantem retorno rápido. Os pagamentos, no entanto, dependem de novas aplicações e, quando os novos ingressos não são suficientes para cobrir os saques, o prejuízo é certo. Há também os esquemas "ponzi" (referência ao golpista comum no século passado, nos Estados Unidos). Semelhante ao anterior, nesse caso os lucros também são pagos conforme a entrada de novos cotistas, mas a diferença é que o método poupa os investidores de atrair novos integrantes. "Nas pirâmides, exige-se do próprio aplicador recrutar outros, ampliando assim a rede de pessoas no golpe", explica o estudo.

Como evitar as armadilhas

Muitos investidores são enganados por pessoas de má-fé. As fraudes podem ser evitadas, com algumas precauções. Veja algumas dicas:

Desconfie de promessas de retornos elevados com baixo risco. Rentabilidade e risco andam de mãos dadas. Se é bom demais para ser verdade, provavelmente não o é;

Golpistas são normalmente pessoas simpáticas, habituadas a mentir. Tenha espírito crítico e a certeza de que entendeu os riscos e as características do investimento;

Não tenha receio de fazer perguntas. Trapaceiros costumam questionar sua inteligência, na esperança de que você se cale;

Se você não consegue explicar a alguém pelo menos as principais características da aplicação escolhida, é porque não a entendeu completamente;

Decida com calma. Descontos e oportunidades "imperdíveis" que exigem, por qualquer motivo, uma decisão imediata devem ser evitados;

Entre as fraudes mais comuns está o contato de "escritórios" informando sobre aplicações supostamente esquecidas (ações de empresas de telefonia e cotas de fundos). Normalmente, o investimento não existe. O objetivo é fazer com que o cidadão pague uma quantia antecipada, a título de "corretagem" ou "imposto de renda";

As "pirâmides" são outro golpe. Os ressarcimentos dependem de novas aplicações. Quando os ingressos de pessoas são insuficientes para cobrir os resgates, quem entra por último tem grandes perdas;

É fundamental que o investidor investigue bem antes de aplicar o seu dinheiro. Procure conhecer o mercado antes de investir;

Proteja as informações e acompanhe as operações. Em caso de irregularidades, denuncie à CVM, no site www.cvm.gov.br, acessando o Serviço de Atendimento ao Cidadão, disponível em "Fale com a CVM".

Fonte: Comissão de Valores Mobiliários