Menos blá-blá-blá e mais eficiência

Paulo de Tarso Lyra, Maiza Santos e Evelin Mendes

02/04/2017

 

 

Desencantados com a corrupção e a recessão econômica, brasileiros darão preferência a candidatos que apresentem propostas de melhorias concretas do cotidiano, em vez daqueles que se prendem ao simples debate político-partidário

 

 

Operação Lava-Jato, impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a pior recessão econômica da história do país criaram uma mistura explosiva perfeita para sacudir a cabeça do eleitor e apavorar quem se apresentar como candidato daqui a pouco mais de um ano. Os brasileiros estão cada vez mais desiludidos, distantes da política partidária e conservadores. Eles querem alguém transparente, não necessariamente vinculado ao mundo político e que resolva concretamente seus problemas do cotidiano, sem ficar alongando-se em discursos ideológicos.

“Eu votaria em um candidato sem experiência porque, talvez, ele possa entrar e mudar alguma coisa. Melhorar hospitais, escolas, tudo está precário. Eu voto se a pessoa tiver propostas para isso. Ainda não parei para olhar propostas, nunca fui ligada em política”, reconheceu a atendente de loja Maria das Graças Silva Oliveira, 19 anos, ensino médio completo,  moradora da Estrutural. Para o cientista político Pablo Cesário, esse pensamento ainda é reflexo das manifestações de junho de 2013, quando as pessoas, especialmente os jovens, como Maria das Graças, foram às ruas pedir, inicialmente, a redução na tarifa de ônibus. O slogan “não são apenas R$ 0,20 virou emblemático.

“As pessoas querem saber o que os governos têm a oferecer, de prático, para melhorar a vida delas. O embate trabalhador versus empregado passou. A batalha agora é a sociedade contra o Estado”, afirmou Pablo. Esse conceito, ele extraiu de uma pesquisa recente, qualitativa, encomendada à Fundação Perseu Abramo pelo PT.  “Um candidato tem que ter ideias e capacidade de colocá-las em prática. Se prometeu, sabia que ia colocar em prática. Não precisa ter experiência, porque os políticos aprenderam a roubar desde cedo. Tem que colocar pessoas voltadas para trabalhar”, afirmou o estofador Círio Carolino da Silva, 58 anos, morador de Taguatinga.

 

Aversão

“Eu não gosto de política, voto para quem dá certo. Tem que ajudar o pobre. Tem muita coisa largada, principalmente os hospitais. É difícil conseguir uma consulta, remédios”, concordou a costureira Eva Rodrigues da Mota, 50 anos, costureira, moradora da Estrutural.

Essa insatisfação vai,  inevitavelmente, provocar uma renovação nos quadros políticos do Legislativo. “Renovação de fato. Estamos falando em algo de 50% a 55% nas cadeiras do Congresso Nacional”, aposta o cientista político Pablo Cesário. É verdade que, a cada antevéspera das eleições e com o crescente desgaste dos representantes políticos, sempre se projeta uma renovação alta, mas que não passa dos 40%. “Mas em 2014, por exemplo, você não tinha um desgaste tão grande dos partidos políticos como você tem hoje”, declarou  o professor e consultor de comunicação e marketing digital Marcelo Vitorino.

Vitorino lembra que o movimento feito pelos políticos para se proteger terá, provavelmente, o efeito contrário, provocando mais aversão na população. “Ao propor a lista fechada como uma forma de blindar-se quanto ao mau humor das ruas, eles acabam ameaçando ainda mais o próprio futuro”. O atual momento é ainda pior, por conta da pauta legislativa da reforma previdenciária, trabalhista e da terceirização. “São matérias que retiram direitos das pessoas”, resume.

Curiosamente, nem mesmo esse debate sobre manutenção ou não de direitos consegue mais envolver os partidos políticos. Embora centrais sindicais tenham ido às ruas em manifestações contra a Reforma da Previdência, a maior pressão tem vindo das igrejas evangélicas e da católica. “Você ainda tem uma minoria, barulhenta, ligada às legendas. Eles têm voz, mas são, cada vez mais, minorias” completou o professor de ciência política do Ibmec/MG, Adriano Gianturco.

 

 

Correio braziliense, n. 19668, 02/04/2017. Brasil, p. 2.