Muitos passos atrás 
Luiz Ernesto Magalhães 
18/01/2017
 
 
Mais duas nomeações são suspensas pelo governo de Marcelo Crivella

Uma administração de idas e vindas. Tem sido assim o governo do prefeito Marcelo Crivella, que em seus primeiros dias lotou o Diário Oficial de medidas e contramedidas. Ontem, mais duas nomeações não resistiram 12 horas. O primeiro a cair foi o delegado da Polícia Federal Bráulio do Carmo Vieira de Melo, que assumiria a Coordenadoria de Transporte Complementar, órgão responsável pela fiscalização de vans ilegais. O prefeito recuou ainda pela manhã, alegando não saber que o escolhido é réu num processo criminal em Cuiabá (MT). Ele é acusado de ter dado tiros a esmo e ferido uma pessoa ao sair de uma casa noturna em 2011. Com o cargo vago há 17 dias e a ameaça do retorno das vans ilegais às ruas, Crivella decidiu reconduzir à coordenadoria o delegado da Polícia Civil Cláudio Ferraz, que implantou o serviço na gestão de Eduardo Paes.

Antes de trabalhar na PF, Bráulio foi policial civil no Rio, onde também se envolveu em dois casos de violência. O nome dele aparece no registro de uma briga na saída de uma boate no Leblon, em setembro de 2005, em que frequentadores disseram ter sido agredidos por seguranças. Em 2006, foi registrado na 77ª DP (Icaraí) como auto de resistência o episódio em que Bráulio matou um suposto ladrão.

O advogado Eduardo Mahon, que cuida do processo do delegado em Cuiabá, afirmou não ter dúvida de que seu cliente é inocente. Segundo ele, Bráulio deu tiros para o alto ao perceber a presença de dois jovens suspeitos ao lado de seu carro.

Outra nomeação que não prosperou foi a do advogado Arthur Fuks, que assumiria a Subsecretaria de Inclusão Produtiva da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos. A secretária Teresa Bergher voltou atrás na indicação ao saber que seu novo subordinado havia publicado nas redes sociais a mensagem: “Sou a favor de reintegrar o bandido à sociedade. Os órgãos vão pra doação, o esqueleto vai pra escola de medicina e o que sobrar vai pra adubo”. Em outra postagem, ele defendeu prisão perpétua para jovens infratores.

PELO MENOS 58 RECUOS

Com as duas baixas de ontem, Marcello Crivella já acumula recuos em pelo menos 58 nomeações no primeiro e segundo escalões — uma média de 3,41 por dia desde que assumiu, em 1º de janeiro. Na conta não estão incluídos dezenas de funcionários de terceiro escalão, que reassumiram funções que já haviam ocupado no governo passado.

O primeiro caso envolveu a escolha do subsecretário de Defesa Civil, no dia 4. Nomeado, o coronel Cláudio Rosa da Fonseca, do Corpo de Bombeiros, foi exonerado no mesmo dia, após O GLOBO revelar que ele havia sido condenado em segunda instância por uso irregular de recursos públicos.

No último dia 11, o engenheiro Paulo Cézar Martins Ribeiro, da Coppe-UFRJ, soube pelo GLOBO que não seria mais nomeado para a presidência da CET-Rio por questões salariais, apesar de já estar trabalhando há uma semana no órgão. No dia 12, o prefeito readmitiu pelo menos 51 executivos de autarquias e fundações afastados dia 1º.

Anteontem, Crivella resolveu trocar o comando da superintendência regional de Irajá, para atender a um pedido da vereadora Rosa Fernandes (PMDB). Ontem, ocorreram novas substituições de nomeados na semana passada para as regiões administrativas de São Cristóvão e do Jacarezinho.

A prefeitura não informou quem indicou Bráulio para o cargo. Crivella demonstrou surpresa ao ser questionado sobre a situação do delegado:

— Vou verificar isso. No meu governo só tem ficha limpa.

Em relação ao caso de Fuks, Teresa Bergher argumentou:

— Preciso de uma boa equipe de advogados para analisar centenas de contratos que a pasta tem com ONGs. Não consulto rede social para nomear pessoas. Fuks é de ótima família. O pai é um excelente cardiologista, que inclusive é meu médico e de boa parte do gabinete.

O advogado, por sua vez, argumentou:

— Eu manifestei minhas opiniões ainda no ano passado, quando Teresa sequer tinha sido nomeada. Se não vou mais assumir, então é isso. Prefiro não dar mais declarações.

As críticas à nomeação de Fuks ganharam as redes sociais por intermédio da socióloga e vereadora Marielle Franco (PSOL), que tem checado as nomeações da prefeitura.

— Fiquei impressionada com a falta de cuidado nas indicações. Esse caso na área de direitos humanos não combina com a promessa do novo prefeito de cuidar das pessoas e fazer uma nova política.

Colaborou Célia Costa

O globo, n. 30480, 18/01/2017. Rio, p. 8