Em Davos, Meirelles diz que decisão sobre correção do IR sai em fevereiro 
Martha Beck
17/01/2017
 
 
Fazenda ainda avalia impacto do reajuste de 5% sobre contas públicas

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou ontem, em Davos, na Suíça, que o governo ainda não bateu o martelo sobre a correção da tabela do Imposto de Renda (IR) a partir de 2017. Embora o Orçamento deste ano já tenha uma previsão de reajuste de 5% no IR das pessoas físicas, a equipe econômica ainda está avaliando o impacto que isso terá sobre as contas públicas diante do menor crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país). A projeção oficial da Fazenda é que o crescimento seja de 1%, mas os técnicos já admitem nos bastidores que esse número ficará mais próximo de 0,5%.

Segundo Meirelles, a definição sobre a tabela do IR será feita quando o governo divulgar o programa do Imposto de Renda de 2017, em fevereiro:

— A decisão sobre a tabela do IR vai ser divulgada junto com o programa, na segunda quinzena de fevereiro.

O ministro também informou que o acordo de ajuda financeira ao Rio só deve ser fechado no próximo dia 23. A intenção da Fazenda era conseguir fazer isso já na quinta-feira, tanto que Meirelles decidiu acelerar sua participação no Fórum Econômico Mundial de Davos — que começa hoje — e voltar ao Brasil na quarta-feira. Mas ele explicou que ainda há detalhes a serem tratados. E como é feriado no Rio na sexta-feira, a data foi transferida para segunda.

Meirelles disse que outros estados podem ter interesse em fazer acordo de ajuda financeira com a União e que a Fazenda está aberta a conversar. No entanto, ele destacou que acha pouco provável que esse tipo de acerto seja semelhante ao do Rio, pois ele prevê contrapartidas muito duras. O governo fluminense é o que está em pior situação entre os estados:

— O ajuste fiscal que o Rio se comprometeu a fazer e que esperamos fechar até o dia 23 é um processo duro. Não sei se há outros estados que precisem ou que estejam dispostos a fazer isso.

INTERESSE DOS INVESTIDORES

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, teve ontem uma agenda intensa de reuniões em Davos. Ele participou de vários encontros bilaterais e conversou com os presidentes do UBS, Axel W. Weber, e do Lloy’s, John Nelson. Segundo Meirelles, há otimismo do mercado internacional em relação ao Brasil. Ele destacou que os investidores prestaram atenção particular ao fato de o governo Michel Temer ter conseguido, em pouco tempo, aprovar projetos importantes, como o teto para os gastos públicos.

— Esse é apenas o primeiro dia aqui e já tivemos conversas importantes. Tivemos dificuldade de acomodar todos os pedidos na agenda — disse Meirelles.

Brasil despenca em ranking de mercados atraentes

O Brasil despencou no ranking de países nos quais executivos de grandes empresas (CEOs) esperam obter crescimento em seus negócios nos próximos 12 meses. Isso é o que mostra pesquisa feita pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) e divulgada ontem, em Davos, na Suíça. O documento é tradicionalmente distribuído na véspera da abertura da reunião do Fórum Econômico Mundial (WEF).

O levantamento mostra que, entre 2011 e 2017, o Brasil passou da terceira para a sétima posição entre mercados que animam os CEOs. Há seis anos, 19% dos entrevistados citavam o país como um local no qual esperavam obter crescimento nos negócios. Já na pesquisa deste ano, somente 7% escolheram o mercado brasileiro como uma prioridade.

A pergunta respondida pelos executivos foi: “Quais são os três países, tirando o seu, que você considera mais importantes para o crescimento geral de sua organização nos próximos 12 meses?”. No topo lista de 2017, estão os Estados Unidos, que foram apontados por 43% dos empresários. Em 2011, o país estava em segundo lugar.

CHINA PERDE A LIDERANÇA

A China também caiu no ranking, mas perdeu apenas uma posição. Em 2011, era apontada por 39% dos CEOs em primeiro lugar. Agora, foi escolhida por 33%, passando para a segunda posição.

No documento, o Brasil é citado apenas seis vezes, contra 12 da China, por exemplo. Num trecho, a PwC destaca que o Brasil tomou um tombo no ranking nos últimos anos e “entrou numa recessão profunda”, embora já comece a dar alguns sinais de recuperação. É justamente para falar desses sinais que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, decidiu ir a Davos.

A pedido do presidente Michel Temer, que também queria ir ao Fórum, mas preferiu ficar no Brasil para acompanhar de perto a reta final da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, Meirelles vai conversar com investidores e ressaltar avanços que já foram obtidos pelo governo no campo econômico. Um dos destaques será a aprovação pelo Congresso da proposta da emenda constitucional (PEC) que fixa um teto para os gastos públicos. O ministro pretende, ainda, falar das propostas e reformas da Previdência e trabalhista. Também estão no Fórum o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn; e os ministros do Desenvolvimento, Marcos Pereira, e de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, além do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

A pesquisa da PwC completa 20 anos em 2017 e tem como título “20 anos dentro das mentes dos CEOs. O que vem adiante?”. O levantamento mostra que incertezas em relação ao crescimento econômico, excesso de regulação e falta de mão de obra qualificada continuam sendo os principais fatores de risco para os executivos. Mesmo assim, a consultoria aponta que eles ficaram mais otimistas com o passar do tempo.

“Em 1997, quando completamos nossa primeira pesquisa, apenas um terço dos participantes estava muito confiantes sobre o desempenho das receitas de seus negócios num prazo de três anos, embora o mercado mundial estivesse numa tendência de alta. Este ano, por outro lado, 51% dos CEOs estão extremamente positivos sobre as perspectivas de receitas para seus negócios”, diz a pequisa, que acrescenta ainda: “Outros 38% estão muito otimistas em relação aos resultados imediatos, contra 35% no ano passado”. O levantamento da PwC foi feito com 1.379 grandes executivos de 79 países. (Martha Beck)

O globo, n. 30479, 17/01/2017. Economia, p. 16