Facções chegam a presídios femininos e viram novo desafio 
Silvia Amorim 
15/01/2017
 
 
Grupos locais, como Facção Rosa, ganham espaço em presídios

-SÃO PAULO- Dominante no sistema prisional masculino, a presença das facções criminosas começa a ser registrada também em unidades de encarceramento de mulheres. A infiltração ainda é lenta e está longe de ser comparada à força que esses grupos exercem sobre os homens presos. Entretanto, ela já leva preocupação à direção das unidades, que, em alguns casos, tem adotado expediente similar ao usado nas penitenciárias masculinas: a separação das presas ligadas a grupos criminosos.

O GLOBO ouviu na última semana dirigentes, funcionários e estudiosos do sistema prisional em diversos estados. Em três deles (São Paulo, Mato Grosso e Pernambuco) foi possível identificar a presença de facções entre detentas.

O Brasil tem cerca de 37 mil presas, segundo dados de 2014 do Ministério da Justiça. Elas são apenas 6% da massa carcerária brasileira, mas têm chamado a atenção pelo ritmo de crescimento. Enquanto o número de homens presos aumentou 220% entre 2000 e 2014, entre as mulheres essa taxa foi de 567%. Em 2000, eram 5.601 detentas.

O tráfico de drogas é a principal causa de encarceramento de mulheres — 58% das prisões. Fontes dizem que a maioria está presa pela primeira vez e que apenas uma minoria usou de violência para o cometimento do crime. Muitas poderiam, por lei, estar cumprindo prisão domiciliar. São casos de mulheres que foram parar atrás das grades porque tentaram entregar drogas ao marido ou filho em dia de visitação em um presídio.

Em São Paulo, um dos primeiros registros da presença do Primeiro Comando da Capital (PCC) na maior penitenciária feminina foi em 2015. Um vídeo de uma festa para comemorar os 22 anos do grupo criminoso na Penitenciária de Santana, na capital, mostrou presas cantando o hino da facção, e drogas e bebidas sendo distribuídas. A unidade abriga 2.225 mulheres e é maior do que muitos presídios masculinos.

— O PCC tem a sintonia dos presídios femininos. Antigamente isso não tinha, o único papel das mulheres era de ser a companheira do preso. Hoje elas são batizadas, têm participação ativa e a mesma segurança e organização dentro da cadeia em troca de pagarem uma mensalidade de R$ 750 quando saírem — afirmou o promotor Lincoln Gakiya.

Em Cuiabá, também há registros de presas ligadas a facções na unidade Ana Maria do Couto, que abriga cerca de 200 mulheres, separadas para evitar rebeliões.

— Nossa grande dificuldade é com as facções, que refletem muito aqui dentro. A gente tem que tomar cuidado com a separação — disse a diretora do presídio, Joadilma do Espírito Santo.

Em Recife, é o sindicato de agentes penitenciários que denuncia a presença de facções na Colônia Penal Feminina Bom Pastor, onde vivem 691 mulheres, três vezes mais que a sua capacidade. O presidente do sindicato, João Carvalho, disse que nos primeiros dias deste ano uma nova facção apareceu no presídio, denominada Facção Rosa, que seria a primeira fundada por mulheres.

— Aqui, como na maioria do Nordeste, são facções locais que estão nas unidades para poder controlar o comércio de drogas, celulares e até prostituição — disse.

O globo, n. 30477, 15/01/2017. País, p. 6