O desafio de quem levou a gravidez adiante 
15/01/2017
 
 
Mulheres que tiveram filhos com a síndrome contam suas experiências

-SÃO PAULO- Mulheres que não entraram na Justiça mesmo após o diagnóstico da Síndrome de Edwards falam dos desafios de cuidar de uma criança especial e incentivam mães a seguirem adiante com a gestação. O filho da carioca Priscilla Sant'Anna, de 36 anos, está com um ano e sete meses, e, dia desses, lembra ela, foi à praia com a família “e se divertiu muito”.

Priscilla, que hoje mora em São Paulo, conta que apenas soube do diagnóstico da síndrome quando estava no sétimo mês de gestação. Ela também relata pressão de especialistas para interromper a gravidez, mas afirma ser contra o aborto em qualquer ocasião.

Quando o menino nasceu, pesando apenas 1,6 quilo, praticamente viveu no hospital, onde ele ficou internado por 188 dias. Hoje, ela conta sua experiência num blog. E garante: vale a pena lutar.

— Os médicos não passam que há sobreviventes. Fazem é uma pressão psicológica muito grande. O que fiz foi estudar, procurar grupos de mães que têm filhos com a síndrome. E descobri que tem até adulto com ela. Então, levei adiante e hoje faço o impossível para o João ter o melhor da vida. Sou contra todo tipo de aborto. É uma vida com muitas limitações, mas gratificante — relata ela, para frisar:

— Sei que há casos mais graves, então o que não faço é julgar quem toma outra decisão.

A goiana Joselle Loredo Rabelo, de 43, já era mãe de duas meninas, quando engravidou de Clara, hoje com um ano e sete meses de idade. O diagnóstico da doença veio aos cinco meses de gestação, mas Joselle lembra que nem teve dúvidas em seguir com os planos de aumentar a família.

— Tudo que você lê e falam sobre a doença é terrível. Não é fácil. Tem que amar muito — afirma ela, que é coordenadora comercial numa faculdade.

A menina ficou cinco meses internada no hospital. Precisava ganhar peso e só respirava e se alimentava com auxílio de aparelhos. Hoje é a alegria da casa e exemplo de vida para outras mães. Joselle também conta sua experiência na internet e, segundo ela, auxilia outras mães a passarem pelo desafio de cuidar de uma criança especial.

— O tempo todo nos falam que podemos perder nossos filhos, mas eu entendo que posso perder qualquer pessoa, a qualquer hora. A gente não sabe o dia de amanhã. Mas também não julgo quem toma outra decisão. Compreendi que as coisas acontecem como tem que ser. Minha filha é esperta, e está em casa, comigo. Não é fácil, mas aos poucos vamos ganhando respeito e amor.

O globo, n. 30477, 15/01/2017. País, p 11.