PT, PMDB e PSDB na frente

Rosana Hessel

13/04/2017

 

 

Os partidos com mais políticos na “Lista de Fachin”, que tiveram inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal, são PMDB, PSDB e PT, o que não surpreende especialistas, pois têm as bancadas mais numerosas no Congresso. E a maioria das autoridades que será investigada pelo Supremo, seja no Senado ou na Câmara, é do Nordeste e do Sudeste do país.

“Isso é natural, porque essas duas regiões têm uma concentração da elite política nacional e são as que dão as cartas no Congresso, alternando a presidência da Câmara e do Senado”, comentou o cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP). Ele lembrou que o ex-presidente e ex-senador José Sarney (PMDB-AP), foi a exceção ao representar o Norte quando presidiu o Congresso.
No Senado, por exemplo, o PMDB é o partido com mais investigados em valores absolutos, mas, em proporção à bancada, o percentual é mais baixo (40%) em relação ao do PT e ao do PSDB, de 60% e 70%, respectivamente.
O Centro-Oeste é a região com menos indiciados, três deputados e nenhum senador em exercício. O Nordeste tem 35 parlamentares na “Lista de Fachin” e o Sudeste, 26. O Norte ficou com 11 políticos com inquéritos no Supremo. O Sul, com cinco.
“A tendência é que, com essa nova lista, o índice de rejeição da classe política pela população aumente, principalmente, entre os envolvidos. Com isso, quem não representa a classe política, os outsiders, devem ganhar espaço sobre os demais”, destacou o diretor para América Latina do Eurasia Group, João Augusto de Castro Neves, citando o prefeito de São Paulo, o empresário João Doria.  “Quem não está na lista já está aproveitando para fazer propaganda”, completou.

Reformas

Castro Neves acredita que as dificuldades do presidente Michel Temer em avançar as reformas no Congresso vão ser bem maiores daqui para frente. Segundo ele, o rompimento do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) com o governo, por exemplo, vai atrapalhar esse processo, mas é uma questão meramente eleitoral. “A rejeição a Temer no Nordeste é muito forte e, por lá, o Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem um eleitorado muito forte. Quem é da base do Temer no Nordeste e quiser concorrer em 2018 não vai ter chance. A saída da base é uma questão de sobrevivência”, resumiu.
Para ele, ao contrário de Renan Calheiros, uma boa parte dos parlamentares poderá optar por apoiar as reformas porque, se houver uma piora no cenário econômico, “eles vão ver que será pior para alguns se reelegerem em 2018, isso depende, em parte, do avanço dessas reformas no Legislativo.” “A única esperança poderá ser a retomada da economia, tanto que existe uma consciência da necessidade de aprovação da reforma previdenciária”, emendou.
Pelas contas de Castro Neves, a tendência é que a reforma da Previdência demore a passar tanto pela Câmara quanto pelo Senado, onde praticamente um terço da Casa estará sob investigação do Supremo. “Os atrasos serão inevitáveis. Antes, estávamos prevendo que a matéria passaria pela Câmara em maio, mas ela ficará para junho, e no Senado, já estávamos prevendo algo em setembro e mantemos essa expectativa, por enquanto”, disse.

Alterações

No entanto, reconhece que, para que isso ocorra, o governo vai ter que ceder mais um pouco e fazer novas alterações na proposta. “As últimas mudanças reduziram o impacto previsto de economia em 15% a 20%, pois não mexeu na idade mínima que é praticamente metade da redução das despesas previstas pelo governo (algo entre R$ 750 bilhões a R$ 800 bilhões, em 10 anos, de acordo com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles), mas acreditamos que esse percentual deverá aumentar e o governo conseguirá aprovar algo entre 65% e 75% da proposta inicial”, apostou.
Teixeira, da FGV, também não tem dúvidas de que o governo Temer não deve conseguir avançar as reformas, principalmente, a da Previdência, com tanto parlamentar da base aliada tentando se defender no STF. “O cenário é de bastante instabilidade política porque estamos falando de um Senado e de uma Câmara cujos presidentes também estão sendo investigados, assim como a cúpula e o núcleo duro do governo Temer. Haverá uma paralisia em tudo o que estava tramitando no Congresso”, avisou.  Para o acadêmico, se Temer não conseguir avançar as reformas, algo que poderá ser inevitável, ele enfrentará outro problema pela frente, apesar de não poder ser investigado pelo STF. “Temer só não está na lista porque a lei não permite. E, se ele não conseguir avançar as reformas, o processo de cassação da chapa Dilma-Temer deverá acelerar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”, concluiu.

Lista destrinchada

Confira a divisão dos parlamentares que tiveram inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal por partidos e por região

SENADORES

PMDB
40% da bancada com inquérito aberto
» Renan Calheiros (PMDB-AL)
» Edison Lobão (PMDB-PA)
» Marta Suplicy (PMDB-SP)
» Kátia Regina de Abreu (PMDB-TO)
» Eduardo Braga (PMDB-AM)
» Valdir Raupp (PMDB-RO)
» Eunício Oliveira (PMDB-CE)
» Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN)
» Romero Jucá Filho (PMDB-RR)

PSDB
70% da bancada com inquérito aberto
» Cássio Cunha Lima (PSDB-PB)
» Dalírio José Beber (PSDB-SC)
» José Serra (PSDB-SP)
» Eduardo Amorim (PSDB-SE)
» Ricardo Ferraço (PSDB-ES)
» Antônio Anastasia (PSDB-MG)
» Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG)

PT
60% da bancada com inquérito aberto
» Paulo Rocha (PT-PA)
» Humberto Sérgio Costa Lima (PT-PE)
» Jorge Viana (PT-AC)
» Lindbergh Farias (PT-RJ)
» Gleisi Hoffmann (PT-PR)
» Sergio Costa Lima (PT-PE)

DEM
50% da bancada com inquérito aberto
» José Agripino Maia (DEM-RN)
» Maria do Carmo Alves (DEM-SE)
PP
28% da bancada com inquérito aberto
» Ciro Nogueira (PP-PI)
» Ivo Cassol (PP-RO

PSB
28% da bancada com inquérito aberto
» Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE)
» Lidice da Mata (PSB-BA)

PCdoB
Uma senadora, um inquérito aberto
» Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)

PTC
100% da bancada com inquérito aberto
» Fernando Afonso Collor de Mello (PTC-AL)

PSD
20% da bancada com inquérito aberto
» Omar Aziz (PSD-AM)

DEPUTADOS

PMDB
9,4% da bancada com inquérito aberto
» Betinho Gomes (PSDB-PE)
» Daniel Vilela (PMDB-GO)
» Jarbas de Andrade Vasconcelos (PMDB-PE)
» João Paulo Papa (PSDB-SP)
» Lúcio Vieira Lima (PDMB-BA)
» Pedro Paulo (PMDB-RJ)

DEM
17% da bancada com inquérito aberto
» Felipe Maia (DEM-RN)
» José Carlos Aleluia (DEM-BA)
» Ônix Lorenzoni (DEM-RS)
» Rodrigo Garcia (DEM-SP)
» Rodrigo Maia (DEM-RM), presidente da Câmara

PT
19% da bancada com inquérito aberto
» Arlindo Chinaglia (PT-SP)
» Carlos Zarattini (PT-SP)
» Décio Lima (PT-SC)
» Maria do Rosário (PT-RS)
» Nelson Pellegrino (PT-BA)
» Marco Maia (PT-RS)
» Vicente “Vicentinho” Paulo da Silva (PT-SP)
» Vander Loubet (PT-MS)
» Vicente Cândido (PT-SP)
» Zeca Dirceu (PT-SP)
» Zeca do PT (PT-MS)

PSDB
8,5% da bancada com inquérito aberto
» Betinho Gomes (PSDB-PE)
» João Paulo Papa (PSDB-SP)
» Jutahy Júnior (PSDB-BA)
» Yeda Crusius (PSDB-RS)

PP
10,6% da bancada com inquérito aberto
» Cacá Leão (PP-BA)
» Dimas Fabiano Toledo (PP-MG)
» Júlio Lopes (PP-RJ)
» Mário Negromonte Jr. (PP-BA)
» Paulo Henrique Lustosa (PP-CE)
PR
7,7% da bancada com inquérito aberto
» Alfredo Nascimento (PR-AM)
» João Carlos Bacelar (PR-BA)
» Milton Monti (PR-SP)

PSB
5,7% da bancada com inquérito aberto
» Heráclito Fortes (PSB-PI)
» José Reinaldo (PSB-MA), por fatos de quando era governador do Maranhão

PSD
5,4% da bancada com inquérito aberto
» Antônio Brito (PSD-BA)
» Fábio Faria (PSD-RN)

PRB
12,5% da bancada com inquérito aberto
» Beto Mansur (PRB-SP)
» Celso Russomano (PRB-SP)

PCdoB
8,3% da bancada com inquérito aberto
» Daniel Almeida (PCdoB-BA)

PPS
12,5% da bancada com inquérito aberto
» Arthur Oliveira Maia (PPS-BA)

PTB
5,9% da bancada com inquérito aberto
» Paes Landim (PTB-PI)

Solidariedade
7,1% da bancada com inquérito aberto
Paulinho da Força (SD-SP)

Observação: considerados senadores e deputados em exercício do mandato

 

 

Correio braziliense, n. 19679, 13/04/2017. Política, p. 7.