Acusado de oportunismo, Cunha comprova que tem aneurisma 
Thiago Herdy, Cleide Carvalho e Gustavo Schmitt
09/02/2017
 
 
Ex-presidente da Câmara recebeu penalidade por não aceitar exame na prisão

-CURITIBA E SÃO PAULO- Horas depois de o ex-deputado Eduardo Cunha se recusar a fazer exames no Complexo Médico Penal que comprovariam seu aneurisma, a defesa dele anexou ao processo laudos enviados pela família do réu, comprovando a existência de “aneurisma intracraniano, localizado na artéria cerebral média esquerda". Os documentos foram produzidos entre junho de 2015 e fevereiro de 2016. Um atestado assinado pelo neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho sugeriu, na época, a realização de uma cirurgia. Pelos documentos, não é possível dizer se o procedimento ocorreu.

No relatório, o médico João Pantoja informa que as lesões não indicavam um tratamento preventivo imediato. Pantoja complementa que um segundo exame não demonstrou alterações significativas, o que o levou a sugerir observação do caso a cada seis meses.

Para passar por um novo exame, Cunha exigiu que fosse acompanhado por seu médico particular, o que não foi aceito pela direção da unidade prisional. Por recusar o atendimento, ele recebeu um registro de infração disciplinar leve na ficha criminal. Anteontem, Cunha surpreendeu os próprios advogados o afirmar em audiência ao juiz Sérgio Moro que sofre do mesmo problema da ex-primeira dama Marisa Letícia Lula da Silva, que a levou a um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e à morte.

Dois dias depois de ser levado para o CMP, em 21 de dezembro do ano passado, o político foi submetido a exames e a uma entrevista com médico. Na ocasião, ele teria relatado ter diversas enfermidades decorrentes de pressão alta e origem cardiovascular, entre elas um aneurisma cerebral, segundo o chefe do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen), Luiz Alberto Cartaxo: — A médica que o atendeu disse que ele deveria pedir a advogados e à família que encaminhassem exames e orientações sobre o tratamento que lhe cabe.

Os exames foram encaminhados à Justiça apenas na noite de ontem. Para o diretor do Depen, o ex-deputado foi “oportunista” e de “uma esperteza maravilhosa" ao “usar o momento psicológico da morte da esposa do Lula” para falar sobre seu aneurisma:

— Ele toma medicamentos para pressão alta e problemas vasculares, o que não o impede de ter uma vida normal. Ser portado da doença não exclui sua custódia. Ele teria a mesma condição de ruptura dirigindo um carro, andando de ônibus, estando em casa ou passeando de helicóptero. O que tem que ser controlado em relação à saúde dele é sua pressão arterial — opinou Cartaxo.

Com base nos laudos anexados ao processo, caberá ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, decidir que providências tomar em relação ao réu.

O diretor do Depen disse não ter chegado a solicitar a Moro a realização do exame de ontem, em função da recusa do paciente.

— Não comuniquei ao juiz sobre o pedido.

O dirigente explicou porque decidiu aplicar uma penalidade em Cunha:

— Ele pode exigir um médico particular para determinado problema. Mas eu, como chefe de sua custódia, posso determinar que ele faça um exame — afirmou o dirigente, para quem a punição pode ser comparada a “uma nota vermelha no boletim".

Na audiência de anteontem na Justiça Federal, o ex-parlamentar disse que precisa de cuidados médicos que não são possíveis no Complexo Médico Penal: — São várias as noites que presos gritam sem sucesso por atendimento médico, que não são ouvidos pelos poucos agentes que ficam lá — disse o ex-deputado, que reclamou da segurança do presídio e disse que está misturado com condenados.

DEFESA NÃO COMENTA ACUSAÇÕES DE DIRETOR

Diante das reclamações, o diretor do Depen informou que a pressão arterial do réu é controlada com frequência: — Afirmação de que o Complexo (Médico-Penal) não oferece condições de custódia, eu contesto. Oferece para qualquer paciente na condição que ele diz ter — alegou o dirigente.

A defesa de Cunha não quis comentar a acusação de ser oportunista, feita pelo diretor do Depen, nem quis comentar a recusa do ex-parlamentar em fazer um novo exame. Ontem o cirurgião Paulo Niemeyer Filho não foi localizado para comentar o diagnóstico de Cunha.

O globo, n. 30502, 09/02/2017. País, p. 8