BC indica que recessão pode ter ficado para trás

Rosana Hessel

18/04/2017

 

 

IBC-Br, calculado pelo Banco Central, estima que a economia teve expansão de 1,31% em fevereiro em relação ao mês anterior. Dado reforça avaliações de que o PIB cresceu no primeiro trimestre, interrompendo oito períodos seguidos de queda

 

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que funciona como uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), subiu 1,31% em fevereiro em relação a janeiro. O resultado, divulgado ontem pela autoridade monetária, surpreendeu o mercado, que esperava uma alta de 0,50%, e reforçou as previsões de especialistas que apostam em expansão de até 0,7% da economia, no primeiro trimestre de 2017, na comparação com os últimos três meses de 2016. Se confirmado, o crescimento interromperá um ciclo de oito trimestres consecutivos de queda, pondo fim à pior recessão da história do país.
“Esse número confirma nossa expectativa de crescimento de 1% do PIB neste ano e de saída da recessão já no primeiro trimestre. Há um bom tempo prevíamos alta de 0,7% no trimestre, e os dados do BC referendam essa projeção”, afirmou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. As estimativas dele estão acima das do governo, que, no mês passado, reduziu de 1,6% para 0,5% a expectativa de expansão do PIB em 2017.Para o economista Artur Passos, do Itaú Unibanco, o país saiu do fundo do poço. A instituição projetava expansão de 0,5% para os primeiros três meses deste ano, mas, devido aos dados do BC, elevará a estimativa nos próximo dias. “Nosso cenário é o de que a recessão acabou no primeiro trimestre e que o crescimento continuará ao longo do ano”, disse. A safra agrícola recorde deve contribuir para essa recuperação. Na avaliação do Itaú, o PIB subirá 1%, neste ano e 4% em 2018.Os dados do BC também animaram o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. “O Brasil já dá sinais de crescimento”, afirmou ele, ontem, reforçando que o governo prevê alta do PIB de 2,7% no último trimestre de 2017 em comparação com os últimos três meses de 2016. “Saindo de onde estamos, o crescimento é muito forte. Em termos anualizados, o ritmo de crescimento com o qual entraremos em 2018 ficará acima de 3% em razão das reformas fundamentais”, garantiu.

Cautela

Menos otimista, a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, reduziu no mês passado de 0,7% para 0,3% a previsão de expansão do PIB de 2017. É a mesma estimativa do Bradesco. Alessandra ressalta que a alta do IBC-Br em fevereiro foi expressiva porque o BC considerou mudanças feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na metodologia de cálculo das pesquisas mensais de Comércio (PMC) e de Serviços (PMS).“Precisamos ter um pouco de cautela. Para o PIB, o IBGE tem outras fontes de informação, que podem diluir um pouco o efeito. Mas, há um viés de alta para a minha projeção, que é de 0,1%, no primeiro trimestre de 2017, em relação aos três meses anteriores”, disse Alessandra. Ela lembrou que os investimentos devem continuar apresentando queda neste início de ano, o que sugere, na melhor das hipóteses, que a recuperação deve ser lenta.O BC revisou, ainda, o resultado do IBC-Br de janeiro, de queda de 0,26% para alta de 0,62%, devido às mudanças na metodologia do IBGE. Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, também demonstrou cautela, principalmente porque as alterações metodológicas podem provocar revisões adicionais no indicador do BC. “Ainda é cedo para afirmar que o país saiu da recessão. O que podemos dizer é que o PIB parou de cair.”

“Os indicadores antecedentes mostram que o país saiu do fundo do poço. A safra recorde deve ajudar neste ano, mas o efeito estatístico das mudanças no cálculo do IBGE distorcem as previsões. O quadro mais provável é o de que a economia está se estabilizando, mas ainda vai demorar para se recuperar, porque a renda vai continuar caindo e o desemprego, aumentando”, alertou Rosa, que prevê alta de 0,2% para o PIB no primeiro trimestre e de 0,3% no ano. Artur Passos, do Itaú, também reconheceu que o emprego vai demorar a se recuperar. Segundo ele, a desocupação continuará crescente e atingirá o pico de 13,8% no primeiro trimestre de 2018, para só então se estabilizar e começar a cair.Apesar do otimismo gerado pelo indicador do BC, no boletim semanal Focus divulgado ontem pelo órgão, a mediana das estimativas do mercado para o PIB deste ano está em 0,40% com base em dados compilados até o último dia 13, abaixo dos 0,41% previstos na semana anterior. Foi a segunda revisão seguida para baixo.

 

 

Correio braziliense, n. 19684, 18/04/2017. Brasil, p. 7.