PMDB não se entende sobre nome para presidir CCJ 
Cristiane Jungblut e Maria Lima 
08/02/2017
 
 
Divergências no partido ameaçam atrasar sabatina de Alexandre de Moraes

-BRASÍLIA- Com reunião esvaziada — tendo a presença de apenas 13 dos 21 senadores — o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), marcou para hoje, às 14 horas, a disputa no voto entre os senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Raimundo Lira (PMDB-PB) para a presidência da mais importante comissão da Casa, ainda mais em tempos de Lava-Jato: a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mesma que irá sabatinar o novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Tanto Lira como Lobão prosseguem em campanha para assumir a comissão.

Antes da votação, Renan terá um encontro com o presidente Michel Temer, que deverá ajudar a arbitrar uma solução, caso Lira decida levar a disputa para o plenário da CCJ, onde a maioria pode rejeitar o nome de Lobão, investigado pela Lava-Jato. Raimundo Lira pode ser favorecido na votação porque uma expressiva parcela do partido está incomodada com a articulação do exsenador José Sarney para que o Maranhão tenha dois cargos de peso na Casa: a segunda vice presidência da Mesa, já garantida para seu braço direito, João Alberto, e a CCJ, para Lobão.

— Há uma reação à sensação de que Renan, Sarney e Romero Jucá querem montar um blocão, um grupo forte, para se contrapor a isso tudo que está acontecendo (Lava-Jato). Querem ter o poder de segurar. E o Raimundo Lira não tem a mesma esperteza que tem o Lobão para articular essa reação na CCJ. O Eunício apoia o Lira, mas está apartado desse grupo — avaliou um dos senadores peemedebistas após a reunião que terminou sem acordo.

— O Lobão vai levar essa parada, e o Maranhão vai levar tudo. Tem muita gente no partido indignada. O Lobão é tão audacioso quanto o Renan. E é isso que querem — disse um dos senadores ao sair da reunião.

Durante o encontro, com quórum baixo e diante da possibilidade de ser derrotado pela maioria presente próLobão, Raimundo Lira pediu o adiamento para que o quórum seja mais representativo.

— Não vou aceitar (ser atropelado). Não sei ainda o que vou fazer — avisou Raimundo Lira, que tem o apoio do presidente da Casa, Eunício de Oliveira (CE).

A senadora Marta Suplicy (PMDBSP) se retirou da disputa com a promessa de Renan que ficará com a Comissão de Assuntos Sociais (CAS), que, no acordo pela eleição de Eunício, ficaria com o PT. Na reunião, Renan disse que não gostaria que, escolhido na bancada, o derrotado levasse a disputa para a Comissão.

— Eu não tenho grupos. O líder é o produto do pensamento da bancada. Eu não concordaria que a disputa vá para a comissão. Seria a falência do meu papel como líder — avisou Renan, ao sair da reunião. O favorito de Renan

No final da reunião, Lira pediu um encontro reservado com Renan e Jucá para expor sua certeza de que o grupo estava articulando a ida de Lobão para a CCJ, o que geraria uma reação da Casa.

Depois de confirmar o adiamento da decisão para a tarde de hoje, Renan disse que pela manhã irá se reunir com Temer, mas negou que seja para buscar solução para a renitência de Raimundo Lira, ou mesmo uma compensação para caso desista da disputa. Disse que irá discutir uma agenda de microrreforma econômica. Disse também que procurará líderes dos demais partidos para pedir que indiquem os membros das comissões até as 15 horas, para que a CCJ possa ser instalada em seguida e começar a contar os prazos para a sabatina de Alexandre Moraes dentro de três semanas.

A primeira grande votação da CCJ será a sabatina de Alexandre de Moraes, indicado do presidente Michel Temer para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) na vaga de Teori Zavascki, que morreu em janeiro, em acidente aéreo. Depois que a CCJ aprovar o nome do indicado, ele segue para votação no plenário do Senado. O plano do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), era concluir a análise da indicação de Moraes em plenário até o dia 22 deste mês, mas as divergências no PMDB podem retardar essa conclusão para março, após o carnaval.

O nome de um indicado para o Supremo precisa ser aprovado por maioria absoluta dos senadores, ou seja, 41 dos 81. Tanto na CCJ como no plenário a votação é secreta.

O globo, n. 30501, 08/02/2017. País, p. 6