Cunha reclama da cadeia e diz a Moro que tem aneurisma 
Gustavo Schimitt
08/02/2017
 
 
Ex-presidente da Câmara voltou a rejeitar acusação de propina

-SÃO PAULO- Além de se defender das acusações no esquema de corrupção na Petrobras, o ex-deputado Eduardo Cunha aproveitou seu primeiro depoimento à Justiça Federal para informar a existência de um quadro delicado de saúde. Citando dona Marisa Letícia, morta na última sexta-feira, Cunha informou ter um aneurisma, doença que provocou o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e levou à morte a ex-primeira-dama. Ao final da audiência, porém, seus advogados disseram não ter conhecimento sobre a doença alegada. O Departamento Penitenciário do Complexo Médico Penal, onde Cunha está preso desde dezembro, informou que ele passará por exames para verificar seu quadro clínico.

— Eu gostaria de dizer que também sofro do mesmo mal que acometeu a dona Marisa Letícia, um aneurisma cerebral. Aproveito para prestar solidariedade à família — disse o ex-deputado, emendando com reclamação sobre o atendimento na prisão: — O presídio onde ficamos não tem a menor condição de atendimento se alguém passar mal. São várias as noites em que os presos gritam sem sucesso por atendimento médico, pois não são ouvidos pelos poucos agentes que ficam lá.

Nervoso, o ex-deputado reclamou da segurança do presídio e disse que está misturado com condenados.

— Quero alertar que esse juízo também tem responsabilidade pela minha segurança, na medida que estou em presídio misturados a condenados por crimes violentos — disse Cunha.

A lista de reclamações do ex-deputado, que prestou depoimento sobre a denúncia de que recebera R$ 5 milhões em propina num projeto de campo de petróleo na África, não parou por aí. Cunha também se queixou a Moro das dificuldades no contato com seus advogados e que a investigação que levou à sua denúncia foi feita com motivos políticos. Confrontado pelo juiz que destacou que, agora, ele teria a oportunidade de se defender, o parlamentar cassado disse:

— Talvez um pouco tardia, não é? Certamente seria uma oportunidade se o inquérito fosse feito corretamente, e não se fosse uma coisa política.

TEMER: RESPOSTA “EQUIVOCADA”

Em seu depoimento, Cunha disse ainda que o presidente Michel Temer deu uma resposta “equivocada" a uma das 21 perguntas que formulou a ele para municiar sua defesa, em novembro do ano passado. A pergunta era referente a uma reunião, em 2007, para acerto de nomeações do PMDB na Petrobras. O encontro, segundo o exdeputado, contou com a participação, além de Temer, do então líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, e de Walfrido dos Mares Guia, então ministro do governo Lula.

— Michel Temer esteve nessa reunião e (o assunto) era justamente o desconforto que existia (no PMDB) com as nomeações do PT, com Graça Foster para a diretoria de Gás e José Eduardo Dutra, para presidente da BR Distribuidora, sem que as nomeações do PMDB fossem feitas. Houve uma revolta da bancada do PMDB na votação da CPMF. E aí nesse dia eles chamaram o Michel e o Henrique para essa reunião.

Cunha rebateu a acusação de que recebeu US$ 1,5 milhão de propina da Petrobras pela compra de um campo de petróleo na África. Ao juiz Moro, ele afirmou que recebeu o dinheiro como pagamento de um empréstimo feito ao deputado Fernando Diniz (PMDB-RJ), que morreu em 2009. O valor teria sido pago apenas em 2011 pelo filho do parlamentar, Felipe Diniz, segundo a versão de Cunha. O único documento que comprovaria a existência dessa operação, porém, foi destruído pelo ex-presidente da Câmara.

Ao longo do depoimento, Cunha negou que tenha atuado na indicação de Jorge Zelada para o cargo de diretor da área internacional da Petrobras. Ele também afirmou que não teve qualquer relação com o lobista João Augusto Henriques e que só visitou a Petrobras duas vezes: acompanhando a então governadora Rosinha Garotinho e um prefeito aliado.

Ao fim da audiência, a defesa protocolou na Justiça Federal de Curitiba um pedido de liberdade de Eduardo Cunha. (Colaboraram Dimitrius Dantas, Mariana Sanches, Sérgio Roxo e Silvia Amorim)

O globo, n. 30501, 08/02/2017. País, p. 8