Odebrecht, Lula e o sítio

20/04/2017

 

 

Dono da construtora diz que o então presidente sabia do andamento da reforma no imóvel de Atibaia (SP), que seria do petista

 

 

 

O patriarca da maior construtora do país, Emílio Odebrecht, detalhou, na delação premiada, a reunião, que teria tido no fim de 2010, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, para confirmar que as obras do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), ficariam prontas no mês seguinte. Os delatores da empreiteira revelaram que executaram uma reforma de R$ 1 milhão na propriedade a pedido da ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro.Emílio contou aos procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato como teria sido o encontro e reproduziu o diálogo com o petista. “Eu disse: olhe, chefe, o senhor vai ter uma surpresa e vamos garantir o prazo que nós tínhamos dado no problema lá do sítio”. Emílio ainda contou que Lula não se mostrou surpreendido. Anotações e e-mails foram entregues pelo delator, como forma de comprovar a reunião.

A Lava-Jato sustenta que o sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, é patrimônio oculto do ex-presidente Lula, registrado em nome de dois sócios de seus filhos. Lula nega a acusação. Segundo o depoimento de Alexandrino Alencar, que seria a ponte entre Emílio e Lula, a ex-primeira-dama teria pedido, durante um evento de celebração do aniversário do petista, em 2010, que a construtora ajudasse a terminar as reformas do sítio de AtibaiaJá o responsável pela obra do sítio, o engenheiro civil Emyr Costa, contou à Procuradoria-Geral da República (PGR) que ajudou a elaborar um contrato falso para esconder que a Odebrecht havia executado a reforma da propriedade rural. Costa afirmou ainda, em delação premiada, que comprou um cofre para guardar R$ 500 mil repassados, em espécie, pela empreiteira para executar a obra.O sítio está registrado em nome dos empresários Jonas Suassuna e Fernando Bittar, sócios de Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente. No entanto, os investigadores da Lava-Jato dizem que a escritura apenas oculta o nome do verdadeiro dono: Lula. A reportagem entrou em contato com a defesa do ex-presidente, mas ainda não obteve resposta.

 

 

 

Correio braziliense, n. 19686, 20/04/2017. Política, p. 3.