PSDB e PMDB já duelam para comandar Ministério da Justiça

Júnia Gama 

07/02/2017

 

 

Enquanto partido de Temer quer influenciar decisão, tucanos falam em nomes

-BRASÍLIA- Principais partidos da base aliada, PSDB e PMDB devem travar uma disputa para indicar o novo ministro da Justiça que ficará no lugar de Alexandre de Moraes, indicado pelo presidente Michel Temer para assumir uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Peemedebistas marcaram encontro na noite de ontem na residência do novo presidente do Senado, Eunicio Oliveira (PMDB-CE), para debater o assunto. A ideia é influenciar a indicação do novo ministro mas, segundo um dos participantes da articulação, o nome não deverá ser de um senador.

— Vamos conversar sobre isto, ver quais são os nomes possíveis. Mas não deve ser nenhum senador — afirmou um senador peemedebista.

No PSDB, os parlamentares também pretendem brigar para manter a vaga, já que Alexandre de Moraes, apesar de ser amigo pessoal de Temer, é um quadro do partido. Dois nomes que estão sendo cogitados são os dos senadores Aloysio Nunes (PSDB-SP), que é líder do governo no Senado, e Antonio Anastasia (PSDB-MG), que já ocupou interinamente o Ministério da Justiça. Aloysio, no entanto, sai na frente por demonstrar mais “ambição” pelo cargo, segundo correligionários.

— É natural que o PSDB brigue pelo cargo. Temos bons quadros no partido, como o Aloysio e o Anastasia. E ainda abriria a vaga de líder do governo, que é cobiçada pelo Eduardo Braga (PMDB-AM). Agora, vai ser uma queda de braço com o PMDB — disse um senador tucano.

Em meio ao caos no sistema prisional e greve de policiais pelo país, o Ministério da Justiça passou a ser comandada ontem, de forma interina, pelo secretário-executivo, José Levy Mello do Amaral Jr. Temer disse a aliados que não escolherá agora o novo ministro da Justiça. A ideia é aguardar a aprovação de Alexandre de Moraes no Senado.

O presidente tem dito a aliados, no entanto, que não pretende indicar o nome de seu novo ministro através de nenhum partido. Temer quer um perfil técnico e alguém com quem tenha uma relação direta. Um peemedebista que conversou com o presidente sobre o tema disse que ele não dará a vaga ao PSDB.

— Não será uma indicação partidária, pode ser alguém que tenha vinculação com o PMDB, mas que tenha relação direta com o presidente — disse esse aliado, sob a condição do anonimato.

Não é só a bancada do PMDB no Senado que está de olho no cargo. Sem lugar no governo desde que Henrique Eduardo Alves, ex-ministro do Turismo, e Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo, deixaram os cargos por causa de Operação Lava-Jato, os deputados do PMDB também brigam para emplacar um nome. Parlamentares citavam ontem como uma possibilidade a indicação do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que presidiu a Comissão de Constituição e Justiça da Casa até o fim do ano passado. No Palácio do Planalto, no entanto, a avaliação de assessores presidenciais é que Temer não abrirá mão de um nome de sua confiança, mas que poderá procurar a bancada.

Incomodada com o crescimento dos tucanos no governo — especialmente com a nomeação do ex-líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), para a Secretaria de Governo — uma ala da bancada na Câmara prefere comandar outra pasta.

— Ninguém quer esse ministério da Justiça, ele é muito técnico e ainda poderiam nos acusar de querer controlar a Polícia Federal. Queremos um ministério político que tenha ramificações nos estados — explica um deputado peemedebista.

DISPUTA EM MEIO À RACHA DA BANCADA

Desde a semana passada, a bancada do PMDB está dividida entre o grupo do deputado José Priante (PA) e o de Lúcio Vieira Lima (BA), que teve o apoio do líder do PMDB, Baleia Rossi (SP), para disputar a primeira vice-presidência da Câmara, mas acabou fora do segundo turno da disputa. Venceu o candidato avulso, deputado Fábio Ramalho (MG).

O líder do PMDB passou a pleitear a liderança do governo na Câmara, hoje ocupada por um representante do centrão, André Moura (PSCSE). O assunto tem sido discutido no grupo da bancada como uma das soluções para ampliar a representatividade dos peemedebistas depois que Geddel Vieira Lima, do PMDB, foi substituído pelo tucano Antonio Imbassahy na Secretaria de Governo.

— A bancada não pretende fazer indicação para o Ministério da Justiça. Lá será um perfil técnico, da escolha do presidente. A bancada ainda não definiu os espaços que pretende ocupar, mas cresceu muito o sentimento de que a liderança do governo deve ir para o PMDB — afirma Baleia Rossi (SP).

Um dos nomes cogitados no grupo foi do irmão de Geddel, o deputado Lucio Vieira Lima, que disputou e perdeu a vice-presidência da Câmara. Lucio, no entanto, não demonstrou interesse pelo cargo. O deputado José Priante (PMDB-PA), que abriu mão de disputar a vaga de vice-presidente da Câmara, defende que somente a liderança do governo não irá contemplar o partido. E desafia o líder Baleia Rossi a assumir a função.

— A liderança do governo é um espaço de gestão. No desenho do governo, ficamos sub-representados. O Baleia pode ser um bom líder do governo. Ele não está sendo um bom advogado para a bancada, mas para o governo é um excelente advogado. O que queremos saber é se é possível fazer mexida mais ampla para dar ao PMDB um espaço compatível com seu tamanho — afirma Priante.

Um interlocutor de Temer afirma que há uma tendência de que o novo líder seja um nome do PMDB, caso André Moura não permaneça no cargo, o que ainda não está definido. O PP, que também pleiteia a vaga com Aguinaldo Ribeiro (PB), está praticamente descartado. Segundo esta fonte, Temer reconhece que o PMDB sofreu perdas e que deve ter mais espaço.

Depois de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defender em entrevista ao GLOBO sua demissão do cargo de líder do governo, André Moura (PSC-SE) diz continuar no páreo. Ele afirma não ter recebido qualquer sinal do Palácio do Planalto de que pode perder a vaga. (Colaboraram Simone Iglesias, Catarina Alencastro, Cristiane Jungblut e Leticia Fernandes)

“É natural que o PSDB brigue pelo cargo. Temos bons quadros no partido, como o Aloysio e o Anastasia”

Senador tucano, sob a condição de anonimato

O globo, n. 30500, 07/02/2017. País, p. 6