O Estado de São Paulo, n. 45008, 08/01/2017. Política, p. A7

‘Tentativas de tutelar votação fracassaram’


Pedro Venceslau

 

Líder do PTB e um dos deputados a desafiar a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara, Jovair Arantes (GO) afirma apostar no histórico da Casa em eleger candidatos nem sempre alinhados com o Palácio do Planalto.

O petebista, que nega ser candidato do Centrão, diz representar seu partido e afirma que o presidente Michel Temer lhe garantiu “absoluta isenção” na disputa, marcada para o dia 2 de fevereiro.

 

O senhor vê um apoio velado do Palácio do Planalto à candidatura de Rodrigo Maia?

Esse apoio é uma mentira que está sendo espalhada pelo time do atual presidente da Câmara. Querem vender essa facilidade. Estão vendendo lote na Lua. É preciso deixar claro que, dos 513 deputados, apenas um precisa de parecer jurídico para ser candidato. Isso por si já coloca a Casa no canto do ringue. Isso não convêm. Rodrigo Maia está expondo de forma perigosa o principal reduto da democracia.

 

Expondo como?

Expondo ao não cumprir as leis. A Câmara produz leis, mas depois não cumpre?

 

A imagem do Centrão está desgastada?

Não existe essa imagem do Centrão. O Centrão foi criado pelo (ex-deputado) Roberto Cardoso Alves em 1988. Existia a direita, a esquerda, ruralistas e etc. Ele então criou o chamado Centrão. Pegou os deputados que convergiam e criou um núcleo. Na eleição da Câmara não há essa figura. Já acabou.

 

Sua candidatura e a de Rogério Rosso (PSD-DF) são consideradas do Centrão por todos os deputados e pela opinião pública...

Nós pertencemos a dois partidos que estão nessa esteira ou agrupamento de proximidade dentro da Câmara. Mas isso não me afeta nem ao Rosso. Vamos para cima para que a Câmara tenha um presidente que respeite os processos legais.

 

A proximidade que o senhor e Rosso tiveram com Eduardo Cunha é um fator que prejudica?

Nunca houve essa proximidade. Eu sou líder do PTB há dez anos. Convivi com todos os presidentes que estiveram ali. Cunha foi presidente, assim como o (deputado) Arlindo (Chinaglia, do PT-SP), o (deputado) Marco Maia (PT-RS) e o próprio Michel (Temer). É obrigação do deputado conviver em harmonia com o presidente da Casa.

 

O Centrão ficou enfraquecido com a queda do Cunha?

O Rodrigo Maia foi um dos maiores apoiadores do Cunha. Foi o primeiro a apoiá-lo.

 

O presidente Michel Temer disse em entrevista ao Estado no ano passado que queria desidratar o Centrão. Embora ele diga que não está influindo no processo, são muitos os relatos de que o Planalto está atuando por Maia nos bastidores. Como avalia esse posicionamento?

Temer me chamou ao Palácio e garantiu com todas as letras que não tem preferência pela candidatura do Rodrigo Maia. Ele nem poderia ter essa preferência, mas garantiu que terá absoluta isenção. O presidente quer que a gente se resolva na individualidade.

 

Pretende recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar a candidatura de Maia?

Não, porque esses questionamentos já foram feitos pelo Solidariedade e pelo (deputado) André Figueiredo (PDT-CE).

 

A bancada do PSD deve reavaliar o apoio a Rosso. O PTB está com o senhor?

Está absolutamente fechado comigo, mas isso é relativo. O voto da presidência é individualizado. Em quase todos os governos tentaram tutelar a votação e não deu certo, fracassaram.

Vou dar exemplos: (o expresidente) Fernando Henrique Cardoso, no auge da popularidade, apoiou (o ex-deputado) Inocêncio (Oliveira), mas ele perdeu para o Aécio Neves. Lula apoiou (o ex-deputado) Luiz Eduardo Greenhalgh, mas ele perdeu para o (ex-deputado) Severino Cavalcanti. Depois tivemos uma certa calmaria, mas aí Lula apoiou (o ex-deputado) Aldo Rebelo, que perdeu para o Arlindo Chinaglia.

 

Como vai agir se, caso eleito, chegar à sua mesa um pedido de impeachment do Temer?

Vou agir como presidente da Casa, como magistrado. Não serei um presidente totalitário.

Vou dar transparência ao processo. Por mais polêmica que seja a matéria, vou discutir com a sociedade e discutir com os deputados.