Título: CNI prevê expansão de 2,8% neste ano
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 15/12/2011, Economia, p. 19

Confederação Nacional da Indústria revê as projeções por causa dos efeitos internos da crise. Consumo e emprego preocupam

Diante da estagnação da economia no terceiro trimestre, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) reduziu a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas geradas no país) em 2011 de 3,8% para 2,8%. A previsão para 2012 caiu de 3,4% para 3%. O desempenho industrial também será menor que o imaginado antes: 1,8% neste ano e 2,3% no próximo. "A indústria avançará menos do que o PIB, em função da desaceleração da demanda e do avanço da inflação. O quadro de 2011, de certo modo, permanece em 2012", explicou Flávio Castelo Branco, gerente da Unidade de Política Econômica da CNI.

Na avaliação dele, as previsões "são ruins", considerando um cenário externo não tão crítico. "Se a situação da Europa piorar, aí não sabemos como vai ficar. É preciso estarmos atentos ao que vai acontecer na Europa", afirmou Branco. O cálculo da inflação medido pela equipe econômica da CNI para este ano foi corrigido para cima: 6,5%, exatamente no teto da meta oficial. Na pesquisa do mês passado, a expectativa era de 6%. Em 2012, os preços subirão 5,2%, segundo os números do Informe Conjuntural da entidade divulgado ontem.

O economista destacou que o ritmo do PIB do Brasil deve ficar abaixo da média global neste ano, algo que não acontecia desde 2009. O mundo deverá avançar 4% este ano e as economias emergentes, 6,4%, conforme estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI). O crescimento brasileiro previsto pela CNI está acima apenas do 1,6% estimado para as nações desenvolvidas. "No primeiro semestre, com a economia mais aquecida e o Banco Central tomando medidas para desaquecê-la, como aumento da taxa de juros. Neste semestre, as ações foram para estimulá-la devido ao impacto da crise mundial", completou.

O presidente da CNI, Robson Andrade, revelou que o resultado da indústria pegou o setor de surpresa. "Não esperávamos um crescimento tão baixo. Fomos surpreendidos por vários fatores negativos, como juros altos, taxa de câmbio, baixo nível de investimentos e grande volume das importações, que dificultaram a competitividade da indústria", disse. Na avaliação dele, a indústria pode crescer 5% desde que a taxa de investimento no país fique entre 22% e 25% do PIB e não nos atuais 18%. "Alguns fatores vão melhorar. O câmbio deve se estabilizar em R$ 1,80 e os preços das commodities devem ajudar a controlar a inflação. Alguns investimentos, especialmente em infraestrutura, deverão ser retomados no próximo ano porque ficaram parados este ano, como rodovias e em energia."

Outro fator preocupante, na avaliação do empresário, é a acomodação do consumo e do emprego. A CNI estima uma redução no ritmo de expansão do consumo das famílias de 6,9% em 2010 para 4,2% neste ano e 4% em 2012. Já o desemprego deverá ficar na casa dos 6% este ano e 5,8% no que vem. "Os salários tiveram reajustes acima da inflação, mas estamos mais preocupados com o peso dos encargos do que com o aumento da renda, que é positiva."

Demissões em São Paulo A indústria paulista vai fechar cerca de 41 mil vagas de trabalho neste ano, segundo a projeção da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Só em dezembro, devem ser demitidos 77 mil empregados. "Será um desempenho muito ruim, que contrasta com uma situação de amplo emprego em todo o país", disse Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da entidade. O desempenho de novembro foi o pior para esse mês desde 2006, quando começou a série histórica: 46,5 mil dispensas, mais do que o dobro do ocorrido no mesmo período do ano passado. O destaque negativo foi o setor de produtos alimentícios, que enxugou 32.718 postos, seguido dos segmentos de petróleo e biocombustíveis (4.186 dispensas) e de automóveis (1.940).