Uma prova cabal de lealdade canina

20/02/2017

 

 

O fato já era conhecido desde que a delação do próprio ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto se tornou pública, no ano passado. Cleto admitiu nos depoimentos que deveria obedecer as ordens do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Caso contrário, o ex-deputado poderia sacar uma carta de renúncia previamente assinada pelo ex-vice-presidente, deixando-o sem emprego. A subserviência dele a Cunha é demonstrada agora de forma cabal em mensagens de celular trocadas entre Cleto e o empresário Alexandre Margotto.

As mensagens fazem parte da delação premiada de Margotto, que era sócio do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, ligado a Cunha. O acordo foi homologado pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília. Em uma delas, Funaro chega a dizer a Margotto que Cunha é o “chefe do Fábio”.

Na manhã de 27 de agosto de 2014, Funaro disse a Margotto que precisava se encontrar com Cleto no escritório de um advogado no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. Margotto ficou encarregado de repassar a mensagem para Cleto. Ele respondeu que não poderia ir, porque tinha uma reunião marcada com Cunha.

Margotto ainda tentou argumentar que dava tempo, mas sem sucesso. Em seguida, deu um retorno para Funaro, que respondeu: “Fala para ele falar para Eduardo esperar para, antes, vir aqui e falar que atrasou por minha causa que eu tô avisando o outro aqui”. Margotto repassou novamente o recado, mas Cleto seguiu irredutível, dizendo que estava no centro de tecnologia da informação da Caixa, e que o o escritório era do outro lado da cidade.

“Já vou chegar 5 minutos atrasado no Eduardo. E o Lago Sul é do outro lado da cidade”, reclamou Cleto. Poucos minutos depois, ele reforçou: “Eu PRECISO encontrar com Edu. Se Edu me mandar, eu entro na sala dele e saio voando. Eu sempre cumpri o meu combinado. E o meu combinado para às 11h30 de hoje é encontrar Edu”.

Pouco depois, Cleto chegou ao Congresso. Já atrasado para o encontro com o “chefe”, escreveu para Margotto: “Se ele me mandar lá, eu estou onde você falou em 5 minutos. 10 minutos para ser mais preciso”. Mais alguns minutos, Cunha dispensou Cleto e ele foi liberado, chegando ao local combinado em 15 minutos. (A.S.)

O globo, n. 30513, 20/02/2017. País, p. 4