Greve vai parar serviços essenciais de transporte

Vera Batista e Mirelle Bernardino

28/04/2017

 

 

Organizadores estimam que metade da mão de obra ocupada deve aderir à paralisação contra as reformas de Previdência e trabalhista. Presidente da Força Sindical afirma que o movimento é pacífico e que dia será calmo. Esplanda dos Ministérios ficará interditada

 

Vários setores da economia deverão parar na greve geral de hoje, convocada pelas centrais sindicais contra as reformas trabalhista e da Previdência. Principalmente os serviços essenciais como ônibus, metrô e trens, fundamentais para inibir a circulação dos trabalhadores e o acesso às empresas. A previsão de Graça Costa, secretária de Relações do Trabalho da Central Única dos Trabalhadores (CUT), é de que mais de 50% de toda a mão de obra brasileira — de mais de 100 diferentes categorias profissionais — cruzem os braços.De acordo com os cálculos dela, o Brasil conta com cerca de 12 milhões de servidores públicos federais, estaduais e municipais, aproximadamente 43 milhões de empregados permanentes e em torno de 12 milhões de terceirizados. Portanto, há um total estimado de 67 milhões de pessoas ocupadas no país. “Diante de tanto desalento com a retirada de direitos, pelo governo e pelo Congresso, mais de 35 milhões não vão trabalhar. Ou estarão nas ruas lutando pelo futuro ou em casa cumprindo seu dever de cidadão”, afirmou Graça.“Essa será a maior paralisação que o Brasil já teve, porque a insatisfação é grande com esse pacote de reformas”, complementou Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical. Ele ressaltou, no entanto, que a sexta-feira será calma. “Não haverá mobilização de rua. Os trabalhadores vão para casa.Vai ser um dia muito tranquilo. Na medida em que o transporte não funciona, fica difícil um encontro”, contou. Os atos, em vários locais do país, vão começar por volta das 7h, com piquetes, passeatas, caminhadas e batucadas em praças públicas, rodovias e estradas.

Embora os sindicalistas façam questão de frisar que o dia será de paz, as forças militares se preparam para evitar tumulto. Em Brasília, por exemplo, os dois sentidos da Esplanada dos Ministérios ficarão interditados para veículos, da altura da Rodoviária do Plano Piloto até o Balão do Presidente, na avenida L4 Sul, durante o dia. A medida, segundo a Secretaria de Segurança Pública, “ocorre para garantir a segurança e a organização das manifestações populares previstas, que devem reunir cerca de 10 mil pessoas”.

Apoios
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no DF, Rodrigo Britto, comentou que as medidas de segurança do governo devem ser aliadas dos trabalhadores e não usadas contra eles. “Espero que seja para garantir segurança e não para reprimir o movimento, pois qualquer ato de repressão só vai gerar mais indignação dos trabalhadores. Amanhã não tem manifestação, vai ter greve. Vamos parar a produção, é um ato de indignação individual”, reforçou.As adesões ao protesto aumentavam a cada momento. Além de trabalhadores de escolas, bancos, comércio e indústria em todo o país, servidores públicos de áreas fundamentais para o funcionamento do Estado, em portos, aeroportos, fronteiras, arrecadação, fiscalização, controle, Judiciário e Legislativo, apoiaram a iniciativa da greve geral, que, em alguns casos, virou uma pendenga judicial. Ontem, a Advocacia-Geral da União (AGU) expediu uma liminar impedindo o fechamento da Rodovia Presidente Dutra.Em contrapartida, o presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT10), desembargador Pedro Luís Vicentin Foltran, negou, na tarde de ontem, um pedido das empresas de ônibus do Distrito Federal para impedir a greve de rodoviários marcada para hoje. Segundo o magistrado, a paralisação faz parte de um movimento peculiar, que é uma greve geral. “Não tem foco exclusivo nas demandas de apenas uma determinada categoria profissional”, disse. Para ele, essa convocação é legítima e faz parte da realidade de um Estado democrático de direito.

* Estagiário sob supervisão de Rozane Oliveira

 

 

Correio braziliense, n. 19694, 28/04/2017. Economia, p. 7.