Polícia Federal investiga propina de R$ 150 milhões em Belo Monte

Jailton Carvalho e Maria Lima 

17/02/2017

 

 

Suborno teria sido pago ao PMDB e ao PT, com participação de filho de Lobão

-BRASÍLIA- A Polícia Federal fez ontem busca e apreensão em endereços do executivo Márcio Lobão, filho do presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Edison Lobão (PMDB-MA), e do ex-senador Luiz Otávio, ligado ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA). A PF apreendeu documentos em casas e escritórios no Rio de Janeiro, Brasília e Belém. Eles são suspeitos de receber propina de empreiteiras responsáveis pela construção da hidrelétrica de Belo Monte. As ordens de busca foram expedidas pelo relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin.

Márcio Lobão, um dos filhos do senador Edison Lobão (presidente da Comissão e Constituição e Justiça do Senado), e Luiz Otávio são investigados em um inquérito aberto pela Polícia Federal para apurar suposto suborno de R$ 150 milhões que empreiteiras do consórcio de Belo Monte teriam pago ao PMDB e PT. O valor corresponderia a 1% do contrato firmado entre o consórcio e o governo federal. As acusações sobre pagamento de propina surgiram em um dos depoimentos da delação premiada de Flávio Barra, o segundo na hierarquia de comando da Andrade Gutierrez, uma das responsáveis pelas obras.

No depoimento, Barra apresentou detalhes da participação de familiares de Edison Lobão na transação. Ele disse que o senador indicou o filho para receber parte do dinheiro que, para as empreiteiras, seria destinado ao PMDB. Pela denúncia, as empreiteiras teriam decidido fazer uma arrecadação coletiva e pagar o suborno, parte dele camuflado em doações eleitorais. Márcio Lobão é presidente da Brasilcap, vinculada ao Banco do Brasil. Ele chegou ao comando da empresa a partir de negociação de cargos entre o pai e o governo. No Rio, policiais fizeram buscas na sede da Brasilcap.

As informações sobre o suposto suborno de R$ 150 milhões ao PMDB e PT foram reforçadas também pelo ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo. Em depoimento de delação premiada, Azevedo disse que o exministro da Fazenda Antonio Palocci pediu 1% do valor da obra para ser dividido entre os dois partidos e indicou que as quantias deveriam ser pagas a João Vaccari Neto, do PT, e Edison Lobão, do PMDB, então Ministro de Minas e Energia.

‘O LOBO DO HOMEM’

O pedido teria sido feito durante um encontro num apartamento na Asa Norte de Brasília, a convite do ex-ministro, logo depois de a então ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, comunicar que a proposta técnica da empresa havia sido escolhida para tocar as obras da usina, e que a Andrade Gutierrez seria a líder do consórcio, com participação de 18%.

A PF batizou a ação de Operação Leviatã. O nome foi extraído da obra mais conhecida do filósofo político Thomas Hobbes, na qual está a famosa sentença “O homem é o lobo do homem”.

O advogado Aristides Junqueira divulgou uma nota em nome de Márcio Lobão. Edson Lobão não se pronunciou. Ele disse desconhecer as razões que levaram a busca e apreensão em sua residência hoje cedo. “A respeito da busca e apreensão realizada hoje na residência de Márcio Lobão, no Rio de Janeiro, ele, por intermédio de seus advogados que subscrevem a nota, reitera que nenhum ilícito cometeu, apesar de não ter conhecimento das razões que justificam a drástica medida judicial”, diz a nota assinada por Aristides Junqueira e Luciana Moura Alvarenga.

EM FAMÍLIA

DENÚNCIAS, CARGOS E HÁBITOS DE LUXO

EDISON LOBÃO

Do grupo político do ex-presidente José Sarney, foi ministro de Minas e Energia nos governos Lula e Dilma Rousseff. Foi eleito na semana passada presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, a mais importante da Casa. Entre as atribuições da CCJ está sabatinar indicados para ministro do STF como Alexandre de Moraes. Lobão é investigado em quatro inquéritos no STF que apuram sua participação no esquema de corrupção na Petrobras e irregularidades na construção de Belo Monte

MÁRCIO LOBÃO

Filho do senador, era contato do PMDB para receber propina de Belo Monte, segundo Flávio Barra, executivo da Andrade Gutierrez. Márcio é conhecido por ser amante de vinhos tintos franceses e por colecionar obras de arte, que adornam até os banheiros de seu apartamento de frente para o mar do Leme, no Rio, segundo Lauro Jardim. É presidente da Brasilcap, empresa do Banco do Brasil

MARTA MARTINS FADEL LOBÃO

Um mês depois de se casar com Márcio Lobão, a advogada ganhou um cargo de assessora parlamentar no gabinete do sogro. A nomeação veio à tona em 2009, com o escândalo dos atos secretos no Senado. Marta é filha de Sérgio Fadel, colecionador de arte. Marta e Márcio se casaram numa cerimônia luxuosa, com festa para 1,5 mil pessoas no Forte de Copacabana. Os toaletes foram decoradas com ampliações de quadros do acervo Fadel. Não foi alvo da operação Leviatã

LOBÃO FILHO

Primeiro suplente, exerceu o mandato de senador quando o pai se licenciou para assumir o Ministério de Minas e Energia. Recebeu de adversários o apelido “Edinho 30”, referência ao supossto percentual que cobraria para intermediar contratos no governo do Maranhão, quando o pai era governador. Também foi acusado de ter usado laranjas ao deixar a sociedade da Bemar Distribuidora de Bebidas, em 1998. Ele nega as acusações. Não foi alvo da operação Leviatã

 

O globo, n. 30510, 17/02/2017. País, p. 6