País tem 14,2 milhões de desempregados

Rodolfo Costa

29/04/2017

 

 

O mercado de trabalho segue de mal a pior. Ainda que os primeiros sinais de reação da economia tenham sido dados, com a desaceleração da inflação e dos juros, o efeito sobre o emprego é lento e ainda levará tempo para que a sangria das demissões seja estancada, segundo analistas. Prova disso é que, no primeiro trimestre deste ano, 14,2 milhões de trabalhadores estavam à procura de emprego, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. É o maior número de desempregados da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De outubro a dezembro do ano passado, a população desocupada era estimada em 12,3 milhões. Em apenas três meses, portanto, 1,9 milhão de pessoas engrossaram as filas de desempregados. A taxa de desocupação — a proporção de desocupados em relação à força de trabalho, que é o número de pessoas com capacidade para trabalhar — chegou a 13,7%. É, também, o maior nível já registrado pelo IBGE.

À medida que o desemprego aumentou, a população ocupada caiu. No primeiro trimestre, 88,9 milhões de pessoas exerciam algum tipo de atividade no país. No quarto trimestre de 2016, esse contingente era de 90,2 milhões. Isso significa que 1,3 milhão de postos foram eliminados no início de 2017. A crise é disseminada, e nenhum tipo de ocupação sobrevive à recessão, principalmente os empregos formais. De janeiro a março, 33,4 milhões de trabalhadores atuavam formalmente, o que representou o menor contingente com carteira assinada da série histórica. Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, o número indica que 600 mil cargos foram fechados.

Além do setor privado, o setor público sofre com a retração econômica. Com os governos sem receita para promover concursos e repor vagas, a população ocupada no funcionalismo diminui. No primeiro trimestre de 2017, 10,8 milhões estavam no serviço público — 400 mil a menos do que nos últimos três meses do ano passado.

Os empregos informais também sentem a crise. Cerca de 336 postos sem carteira assinada foram eliminados nos três primeiros meses deste ano, em relação ao trimestre anterior. O número de trabalhadores por conta própria recuou em 17 mil. Na mesma base de comparação, o contingente de trabalhadores domésticos caiu em 50 mil. O único tipo de ocupação que cresceu foi o de trabalhador auxiliar familiar, um aumento de 83 mil. Mas, nada que se possa comemorar, uma vez que são trabalhadores que atuam sem remuneração, em apoio a atividades econômicas da família.

Desespero
A alta da desocupação também está atrelada à redução do desalento, condição em que encontram pessoas aptas a trabalhar, mas que, por algum motivo, desistiram de procurar emprego. O principal reflexo disso é a redução das pessoas fora da força de trabalho. No primeiro trimestre, essa população foi estimada em 64,4 milhões, o que representa uma redução de 131 mil em relação ao período anterior.

Dois argumentos são igualmente aceitáveis e ajudam a explicar esse movimento, analisa o economista Tiago Cabral Barreira, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). O primeiro é de que o trabalhador estaria mais otimista e motivado a procurar emprego. O outro é de que a crise se agravou tanto que as pessoas estão desesperadas à procura de um posto de trabalho. “A atividade está bem fraca. Precisamos aguardar resultados mais positivos para observarmos uma queda do desemprego”, disse.

A engenheira florestal Clarisse Santos, 31 anos, está há um ano à procura de uma oportunidade no mercado. O desespero é ainda maior diante do alto custo de vida em Brasília. Diante das dificuldades, ela pretende estudar para o doutorado para conseguir o sonhado emprego. “Seja no setor privado ou público, quero voltar a trabalhar.”

 

 

Correio braziliense, n. 19695, 29/04/2017. Política, p. 6.