Título: Corte à vista na Esplanada
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 07/12/2011, Política, p. 3

Reforma prevê enxugamento das pastas atuais para melhorar a comunicação dos titulares do Executivo com o Planalto e passar mensagem de austeridade do governo. Modelo atual, com 38 órgãos, dificulta reuniões » A presidente Dilma Rousseff quer diminuir o número de ministérios na Esplanada durante a reforma programada para o fim de janeiro. A tesoura tem como base a ideia comungada pelo Palácio do Planalto de que não há como um governo funcionar inchado, da forma como está. Depois de nove anos ouvindo os ataques da oposição de que existem ministérios demais, Dilma avaliou: é impossível reunir-se de maneira produtiva com 38 auxiliares de uma só vez.

O motivo da diminuição das pastas é mais administrativo do que financeiro. Como muitos desses ministérios têm orçamentos baixos — alguns são secretarias que tiveram seus status elevados — a preocupação não é econômica. Mas Dilma pretende dar um sinal de austeridade no segundo ano de mandato em busca de uma eficiência que, em muitos momentos, ficou aquém do que ela própria esperava.

Neste primeiro ano de governo, Dilma até tentou corrigir algumas distorções. Dividiu o governo em quatro grandes eixos temáticos. O primeiro foi o de Desenvolvimento Econômico (comandado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e englobando os Ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio; de Ciência e Tecnologia; da Agricultura e da Pesca). O segundo, Infraestrutura e PAC (comandada pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e juntando as pastas de Transportes, Cidades e a Secretaria dos Portos).

Os outros dois eixos foram: Erradicação da Miséria (comandada pela ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campelo, e reunindo os ministérios da Saúde e da Educacão); por fim, o grupo de Direito e Cidadania (coordenado pela secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, reunindo pastas como Igualdade Racial, Direitos Humanos e Política para as Mulheres).

Mesmo assim, o modelo não surtiu o efeito esperado. Ele funcionou apenas para o lançamento de grandes programas de governo, ações que envolviam várias pastas ao mesmo tempo. Mas em alguns momentos eram fundamentais reuniões específicas com alguns ministros. E alguns deles tiveram poucos contatos particulares com a presidente.

Indicações Dilma pretende dar, nessa reforma, uma "cara sua" aos ministérios. O tamanho atual da Esplanada e muitos dos nomes que se tornaram titulares das respectivas pastas foram acolhidos por uma indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula continua sendo o principal conselheiro nas mudanças que ela promoverá no início de 2012, mas ele tem a exata dimensão de que Dilma é a presidente e reconhece o direito de ela imprimir sua marca no governo a partir do segundo ano. "O primeiro ano do governo Dilma foi continuidade do governo Lula. Agora, será governo Dilma puro", afirmou ao Correio um senador petista.

O que mais inquieta os partidos aliados é que, além desses sinais de que pretende diminuir o número de ministérios, Dilma não tem dado qualquer outra pista sobre o que ela pretende fazer. "A reforma está guardada a sete chaves na cabeça dela. Isso tende a torná-la eficiente, mas não sabemos o que irá acontecer", reconheceu o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP). O tema não foi tratado na reunião da bancada de deputados realizada na manhã de ontem na Câmara. "Mas o PT está satisfeito com o que tem. Esperamos que a proporcionalidade não seja alterada, porque precisamos pensar enquanto base aliada", completou.

O cuidado em não melindrar os aliados não significa desconsiderar o fato de que alguns partidos estão superdimensionados. O PP, por exemplo, segue titular do Ministério das Cidades, uma pasta com um orçamento considerável decorrente de programas como o PAC Saneamento e Habitação. Mas a bancada do partido na Câmara não é tão representativa — a sigla tem apenas 38 deputados, sendo a sétima força na Casa. O enfraquecimento do ministro Mário Negromonte diante de várias denúncias pode ajudar a presidente a resolver a questão.

Nem o PSB está tranquilo. A legenda orgulha-se de, até o momento, ter sido a única que não foi envolvida diretamente em denúncias de corrupção no governo federal. Mas interlocutores governistas lembram matérias recentes apontando que a transposição do Rio São Francisco, conduzida pelo Ministério da Integração Nacional, está parada. "Dilma também não tolera ineficiência administrativa", decretou um aliado da presidente.

Dilma encontra Lula em São Paulo A presidente Dilma Rousseff aproveitou a viagem ontem a São Paulo, onde recebeu um prêmio da revista Istoé, para encontrar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se recupera de um câncer na laringe. O encontrou ocorreu durante a tarde, no Hotel Transamérica. No domingo, Lula deve receber uma visita do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que passa pelo Brasil. O anúncio foi feito pelo próprio Chávez, ontem, em Caracas.

O presidente venezuelano aproveitaria a viagem à Argentina, onde participa, no sábado, da posse de sua colega reeleita Cristina Kirchner. Chávez disse que conversou com o amigo brasileiro sobre o tratamento. "Falei com Lula rapidamente, ficamos de nos ver no domingo", garantiu. Lula encontra-se em pleno tratamento de quimioterapia para combater um câncer na laringe. Chávez também foi diagnosticado com câncer, sendo operado em junho, em Cuba.