Força-tarefa conjunta vai rastrear corrupção da Odebrecht no exterior

Jailton Carvalho

17/02/2017

 

 

Grupo inédito foi criado para atuar na América Latina e em Portugal

-BRASÍLIA- Procuradores-gerais da República do Brasil e de mais dez países atingidos pelas delações da Odebrecht anunciaram ontem a criação de forças-tarefas bilaterais e multilaterais para aprofundar as investigações sobre a estrutura de corrupção de políticos pela empreiteira na América Latina e em Portugal, além de outros casos envolvendo construtoras relacionadas à Lava-Jato. Trata-se da maior estrutura de investigação a ser montada para apurar, de forma conjunta, desvio de dinheiro público na região.

— Esta é uma reunião histórica, a maior de autoridades do Ministério Público para tratar de um único caso de corrupção. Nunca houve nada igual — afirmou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, segundo disse ao GLOBO um dos participantes do encontro.

As denúncias estão sacudindo estruturas políticas na Argentina, Peru, Venezuela, Colômbia e Equador, entre outros países de origem de políticos apontados como destinatários de suborno pagos por operadores da empreiteira. Os procuradores anunciaram a criação das forças-tarefas em declaração conjunta divulgada depois de uma longa reunião na sede da Procuradoria-Geral da República.

No documento, os procuradores se comprometem a criar “equipes conjuntas de investigação, bilaterais ou multilaterais, que permitam investigações coordenadas sobre o caso Odebrecht e o caso Lava-Jato, de acordo com o disposto no artigo 49 da Convenção de Mérida e outras normas legais e instrumentos internacionais aplicáveis”, diz o texto de três páginas. O documento é uma espécie de arrastão contra a corrupção na América Latina.

Participaram deste primeiro dia de reunião representantes do Ministério Público da Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México, Panamá, Peru, Portugal, República Dominicana e Venezuela. Na sextafeira, os procuradores irão voltar a se reunir, desta vez em encontros bilaterais.

INVESTIDA NA VENEZUELA

Ontem, o Ministério Público da Venezuela congelou as contas bancárias da Odebrecht no país. De acordo com documentos do Departamento de Justiça Americano (DOJ), a empreiteira repassou propina de R$ 98 milhões a agentes públicos, políticos e autoridades venezuelanos.

"Foram acordadas as medidas reais de congelamento das contas bancárias, assim como a proibição de vender, ou taxar bens móveis e imóveis da empresa brasileira Odebrecht", informa uma nota do Ministério Público daquele país.

Na quarta-feira, os escritórios da Odebrecht haviam sofrido busca e apreensão. O MP informou ainda que pediu à Interpol uma ordem de prisão de pessoa envolvida no escândalo de corrupção.

O globo, n. 30510, 17/02/2017. País, p. 7