Moraes diz que não sabia que encontro seria em barco

Cristiane Jungblut 

11/02/2017

 

 

Para senadores da base, ministro licenciado errou ao ir a jantar com parlamentares

-BRASÍLIA- Indicado para suceder Teori Zavascki como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes confirmou que participou de um jantar em um barco do senador Wilder Morais (PP-GO), na última terça-feira. Ele ontem se disse “surpreendido” ao descobrir que o local do encontro, para o qual fora convidado, era um barco: o endereço do jantar foi a chalana Champagne, uma casa flutuante que fica atracada perto da residência do senador no Lago Sul, em Brasília.

Moraes divulgou nota explicando o encontro, revelado pelo “Estado de S.Paulo”. Mas integrantes da cúpula do Senado consideraram um erro ele ter participado da conversa informal e alertaram Alexandre de Moraes para “só ter encontros dentro do Senado”.

— Ele está chateado. Mas claro que houve desgaste — disse um senador aliado do Palácio do Planalto.

A irritação de senadores aliados é que a ideia partiu do assessor do presidente Michel Temer, Sandro Mabel. Na noite de terça-feira, um grupo de senadores foi convidado para um jantar com a presença de Moraes.

— O ministro ficou lá meia hora. Não vejo nada demais nisso não. Tenho uma relação com o Moraes, sempre brinco que somos primos por causa do sobrenome Moraes. O meu barco é uma casa dentro da água e lá tem um espaço gourmet dentro dele muito bom. Por isso, foi lá. O garçom já estava com tudo arrumado lá — afirmou Wilder ao GLOBO.

O senador disse que imprensa está superdimensionando o caso:

— Ele estava num encontro com senadores. Mas vai passar por uma sabatina — acrescentou o senador.

PREOCUPAÇÃO COM REPERCUSSÃO

O ministro, segundo interlocutores, ficou preocupado com a repercussão do caso. “Fui convidado para expor meus pontos de vista em reunião com o Bloco Moderador, composto por nove senadores dos partidos PR, PTB, PRB, PSC e PTC. A reunião foi agendada no endereço QL 22 Conj 10 casa 20. Compareci e fui surpreendido que a reunião ocorresse em um barco atracado nessa residência. Tivemos uma conversa séria e respeitosa, assim como venho fazendo em todas reuniões com os demais senadores”, disse Alexandre de Moraes, em nota.

O encontro se transformou numa verdadeira “sabatina informal” de Moares. A formal deverá ocorrer no dia 22. Coube ao senador Sérgio Petecão o momento mais incisivo da conversa, ao perguntar diretamente ao ministro se ele tinha ligações com o chamado PCC (Primeiro Comando da Capital).

— Ele respondeu que foi um dos sócios do escritório dele, em São Paulo, que defendeu alguém ligado ao PCC. Mas ele não se alterou. Ele é muito frio. E ainda chegou uma hora atrasado e ficou 40 minutos — contou um dos participantes.

SEM RESPOSTAS PARA LAVA-JATO

A conversa, na maior parte do tempo, se concentrou no currículo de Moraes. Ele não quis responder a perguntas sobre Lava-Jato. A Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) fará a sabatina de Alexandre de Moraes, sendo que na sua composição há dez senadores investigados pela Lava-Jato: cinco titulares e cinco suplentes. Petecão disse ao GLOBO que não conhece o indicado e que, por isso, quer saber de sua ligação com o PCC. Participaram do encontro os senadores Benedito de Lira (PP-AL), investigado pela Lava-Jato; Cidinho Santos (PR-MT), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Ivo Cassol (PP-RO), Wilder, Petecão e Zezé Perrella (PMDBMG), além de Sandro Mabel.

Na sabatina no Senado, Alexandre de Moraes poderá ser questionado sobre atuação do escritório de advocacia que já foi seu e hoje está em nome de sua mulher, Viviane de Moraes. No site, o escritório informa que atua “especialmente” junto ao Supremo Tribunal Federal, a tribunais superiores, Ministério Público e Tribunal de Contas.

O globo, n. 30504, 11/02/2017. País, p. 6