Moro diz que Cunha tentou intimidar Temer e nega pedido de liberdade

Gustavo Schmitt e Cleide Carvalho 

11/02/2017

 

 

 

Ao negar ontem o pedido de liberdade ao ex-deputado cassado Eduardo Cunha, o juiz Sérgio Moro afirmou em decisão que o ex-presidente da Câmara, mesmo preso, tentou constranger o presidente Michel Temer, no processo que responde sob a acusação de receber propina em contrato da Petrobras em Benin, na África.

Em seu despacho, o juiz disse que o ex-deputado não abandonou o “modus operandi de extorsão, ameaça e chantagem" ao arrolar Temer como sua testemunha e incluir perguntas sobre o relacionamento do presidente com José Yunes, amigo e ex-assessor. Nos questionamentos, a defesa de Cunha indagou se Yunes havia recebido alguma contribuição declarada ou não de campanha para alguma eleição dele ou do PMDB. Temer respondeu o juízo em carta.

Em delação premiada, o ex-vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Odebrecht Cláudio Melo Filho afirmou que a empreiteira entregou R$ 4 milhões no escritório de Yunes, em São Paulo. “Não se pode permitir que o processo judicial seja utilizado para essa finalidade, para que parte transmita ameaças, recados ou chantagens a autoridades”, disse o juiz.

Moro alegou que a revogação do decreto de prisão, que está de acordo com o entendimento do ministro Teori Zavascki, “trairá o legado de seriedade e de independência judicial por ele arduamente construído na condução dos processos da operação Lava Jato no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF)".

O juiz analisou os exames do aneurisma de Cunha e disse que a doença não impede a continuidade da prisão. Moro lembrou que o acusado foi diagnosticado em junho de 2015 e continuou atuando na política normalmente.

O globo, n. 30504, 11/02/2017. País, p. 8