Título: Até os serviços são contaminados
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 07/12/2011, Economia, p. 10

A estagnação que atingiu a economia no terceiro trimestre contaminou o pujante setor de serviços, que vinha apresentando taxas robustas de expansão. O segmento encolheu 0,3% em relação ao trimestre imediatamente anterior. Foi a primeira queda desde os 2,6% negativos do último trimestre de 2008, quando o mundo estava em plena crise financeira, desencadeada pela quebra do banco norte-americano Lehman Brothers. Na comparação com igual período de 2010, houve um avanço de 2%.

Na avaliação dos técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o recuo foi influenciado pela alta dos preços no setor, que dispararam quase 10% em 12 meses, e pelo aumento da taxa básica de juros (Selic) — que subiu de 10,75% ao ano para 12,50% de janeiro a julho. Entre os segmentos, os chamados outros serviços, que englobam empregados domésticos, cabeleireiros e manicures, apresentaram queda de 0,5% entre o segundo e o terceiro trimestres. Na mesma base de comparação, os serviços de informação recuaram 0,3%. O maior responsável, porém, foi o comércio, com retração de 1%.

A única exceção foi o setor financeiro (bancos e seguradoras), que avançou 1,7%, mas está em desaceleração — no terceiro trimestre de 2010, esse segmento registrou alta de 3,6%. "Os serviços financeiros desaceleraram, mas continuam com boas taxas", observou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE. Os serviços avançaram 3,2% no acumulado no ano e 3,6% em 12 meses. O segmento de seguros está a todo o vapor, segundo o diretor de Relações Corporativas da Caixa Seguros, João Carlos Garcia. "Ainda temos uma participação pequena no PIB, de 8%, mas é uma área em crescimento. Com os salários em alta, as pessoas começaram a priorizar seguros e previdência privada", disse.

Apesar dos números pouco animadores, o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), não está preocupado. "Essa queda foi natural em função das ações tomadas pelo governo para conter o crédito e a inflação, mas não acredito que seja uma tendência.

Agora, os juros estão caindo novamente", afirmou. Para ele, as novas medidas para estimular o consumo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de eletrodomésticos, vão ajudar o comércio a recuperar o dinamismo. "Os estoques cairão e a atividade voltará a crescer no começo de 2012." As projeções da CNC para o PIB, de alta de 2,9% neste ano e de 3,5% em 2012, serão mantidas. (Colaborou Victor Martins)

Capacidade de poupar diminui Os brasileiros não estão conseguindo guardar dinheiro. Prova disso foi o resultado da caderneta de poupança em novembro, mês em que a maioria dos trabalhadores recebeu metade do 13º salário. A tradicional modalidade de investimento registrou captação líquida positiva — diferença entre depósitos e saques — de apenas R$ 30,6 milhões, o pior resultado para meses de novembro desde 2002. O saldo só foi garantido no último dia útil do mês, justamente quando entrou na conta dos trabalhadores a parcela do salário extra. Não fosse esse dinheiro, a captação teria sido negativa em mais de R$ 3 bilhões. Para os analistas, muitas famílias aproveitaram o reforço de caixa para reduzir o elevado nível de endividamento. No acumulado de onze meses, a captação líquida da poupança está positiva em R$ 10,6 bilhões.