Doleiros: contas de Cabral tinham US$ 120 milhões

Juliana Castro 

12/07/2017

 

 

Um dia após ex-governador negar propina, irmãos Chebar detalham repasses ilegais

Em novo depoimento à Justiça Federal, os irmãos Renato e Marcelo Chebar revelaram que o maior saldo que as contas no exterior ligadas ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) tiveram foi de US$ 120 milhões. Foram os doleiros que procuraram o Ministério Público Federal (MPF) e revelaram a ocultação dos recursos de Cabral fora do país. A delação deles deu origem à Operação Eficiência, um dos braços da Lava-Jato no Rio.

Os depoimentos ocorreram um dia depois de Cabral classificar como “maluquice” as acusações de que teria recebido propina.

Renato Chebar salientou que esse não foi o valor total enviado ao exterior. O saldo chegou a esse montante porque eram feitos investimentos que apresentavam rendimentos. Em seu primeiro depoimento ao juiz Marcelo Bretas, no fim de junho, Renato havia dito que o esquema do ex-governador era maior do que ele supunha e que atuava como uma célula dentro de uma estrutura muito maior.

Quando fizeram a delação premiada, os irmãos apontaram as contas no exterior de Cabral, do ex-secretário de Governo Wilson Carlos e do operador Carlos Miranda. O saldo, que foi devolvido, era de US$ 100 milhões. Parte desses recursos foi entregue ao governo do estado e serviu para pagar o 13º salário de aposentados e pensionistas.

Renato contou que cuidava das contas de Cabral no exterior desde o ano 2000 e que o fluxo de dinheiro aumentou consideravelmente depois que o peemedebista assumiu o governo do estado. Os irmãos ganhavam entre 1% e 1,2% em cada operação.

Marcelo Chebar disse que as contas de Cabral no Brasil, que seriam administradas pelo doleiro Vinicius Claret, o Juca Bala, devem ter registrado saldo entre R$ 5 milhões a R$ 7 milhões. Marcelo contou ainda que, uma vez, foram recolhidos R$ 5 milhões no prédio em Botafogo onde ficam as sedes de Andrade Gutierrez e Odebrecht, mas ele não soube dizer de onde veio o dinheiro.

Anteontem, em depoimento a Bretas, Cabral negou ter recebido propina e, pela primeira vez, falou especificamente sobre a acusação de que cobrava 5% do valor dos contratos das obras do governo do estado como propina.

— Que 5% é esse? Que história é essa de que esses 5% era algo que vigia no governo? Que maluquice é essa? — reagiu.

O doleiro e delator Álvaro José Novis também depôs ontem e contou que a única pessoa do esquema com quem mantinha contato era Carlos Miranda, apontado como operador de Cabral. Novis disse que administrava os recursos da Fetranspor na transportadora Trans-Expert e fazia pagamentos a Miranda que seriam para Cabral. Na empresa também ficavam recursos de outras autoridades com foro privilegiado, cujos nomes não foram citados.

Novis foi preso na Operação Eficiência, em janeiro. Ele fez delação premiada e seus depoimentos ensejaram a Operação Ponto Final, que prendeu pessoas ligadas às empresas de ônibus que pagavam propina a Cabral, segundo apontou o MPF.

O globo, n. 30655, 12/07/2017. País, p. 8