Título: Projetos paralisados
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 07/12/2011, Economia, p. 11
Diante das incertezas causadas pela crise da dívida europeia e de condições de crédito restritivas, a maioria dos empresários suspenderam os projetos de expansão. Os dados do Produto Interno Bruto (PIB), divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, pela primeira vez desde o auge da crise econômica, entre o último trimestre de 2008 e o primeiro de 2009, a taxa de investimentos diretos sofreu um recuo: -0,2%.
Na visão do IBGE, os investimentos também encolheram em razão da valorização do dólar. Quando a cotação da divisa ainda estava em baixa, em agosto, os empresários aproveitaram para intensificar importações de máquinas e equipamentos e tocaram a todo vapor seus planos de expansão e aperfeiçoamento, o que impulsionou a taxa nacional de investimento. No meio do terceiro trimestre, porém, a cotação da moeda norte-americana disparou e, com isso, brecou os projetos de modernização.
Para Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE, o lado bom da história é que os industriais pararam de comprar lá fora, favorecendo o mercado interno. "Nesse trimestre, o que puxou o investimento foi a construção civil e a produção doméstica de máquinas e equipamentos. Nos trimestres anteriores, era o contrário. O que puxava o investimento eram as importações de máquinas", explicou.
Mas alguns segmentos continuaram investindo. Paulo Roberto Moura, presidente da Condomínio de Soluções Corporativas (CDS), empresa de gestão e tecnologia, conta que sua área está em franco crescimento, devendo expandir de 10% a 12% em 2012, quando ele pretende dobrar o investimento feito em 2011. "Este ano, investimos R$ 5 milhões. Em 2012, a previsão é que o montante fique entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões", adiantou.
Longo prazo O Boticário espera fechar o ano com receita 20% acima do R$ 1,6 bilhão apurado em 2010 e investirá R$ 355 milhões no próximo ano para construir uma fábrica de cosméticos e um centro de distribuição na Bahia. "A crise preocupa o mundo inteiro. Não estamos imunes, mas temos controle da política monetária e robustez para enfrentar turbulências", avaliou Artur Grynbaum, presidente do grupo.
Otimista, o diretor de Relações Corporativas da Caixa Seguros, João Garcia, não vê motivos para desaceleração
Apesar da recessão no setor, o diretor de Relações Corporativas da Caixa Seguros, João Carlos Garcia, também considera este um bom momento para investir. "O país está passando por uma desaceleração, mesmo assim, não significa que parou de crescer. Não há motivo para pisar no freio. Nosso setor cresceu 20% este ano e deve avançar acima do PIB no ano que vem", justificou. Só este ano, a empresa lucrou R$ 7 bilhões e investiu R$ 170 milhões na nova sede do grupo, em construção em Brasília. "A obra no Setor Comercial Sul está prevista para ser entregue em dois anos", informou.
O presidente da Shell no Brasil, André Araújo, afirmou que os planos da multinacional para o país têm horizonte de longo prazo, além das variações conjunturais do PIB, e refletem as perspectivas promissoras para a exploração de gás e petróleo. "Estamos ansiosos para participar dos primeiros leilões de concessão do pré-sal, previstos para 2012", disse. (Colaboraram Victor Martins e Sílvio Ribas)
Infraestrutura como estratégia Como forma de imunizar o país dos efeitos da crise externa, a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdid) sugeriu ao governo a adoção de medidas para estimular investimentos diretos no setor. "O Brasil, mesmo com mercado interno robusto, está exposto às consequências da baixa atividade econômica global", disse Paulo Godoy, presidente da entidade. Além de melhorar a competitividade do país e reduzir pressões inflacionárias, ele atribuiu aos projetos de infraestutura a capacidade de gerar emprego e renda em boa parte da economia. A seu ver, a economia brasileira oferece boas perspectivas de crescimento a longo prazo, o que favorece a atração de recursos para grandes empreendimentos.Saiba