Acordo do clima avança, apesar dos EUA

12/07/2017

 

 

A reunião do G-20 realizada no último fim de semana, em Hamburgo, na Alemanha, confirmou o isolamento dos EUA de Donald Trump na questão do clima. Intransigente em relação aos apelos de convencimento dos demais líderes que compõem as 20 maiores economias do mundo, o presidente americano se negou a assinar a resolução final do grupo que reitera o compromisso com as metas estabelecidas no chamado Acordo de Paris, ou COP-21, que visa a conter o aquecimento médio da temperatura do planeta a, no máximo, 2 graus centígrados neste século.

Com o apoio de assessores políticos, como o conselheiro estratégico Steve Bannon, o diretor da Agência de Proteção Ambiental (EPA, em inglês), Scott Pruitt, e segmentos industriais obsoletos e poluidores, o titular da Casa Branca prega seu evangelho contra o Acordo de Paris, prendendo-se a argumentos de obtusa ignorância e um populismo irracional, como a defesa de empregos em setores como o de carvão. Sustenta, com um orgulho provinciano, uma obscura descrença na teoria do aquecimento global, apesar das evidências científicas.

Em junho passado, quando anunciou a decisão de romper com o pacto de Paris, Trump provocou indignações, inclusive em parte de sua equipe e entre executivos de importantes áreas corporativas. Apesar de esperada, a notícia preocupou boa parte da opinião pública mundial quanto aos danos potenciais na luta contra o aquecimento global.

Dessa vez, porém, a reação dos demais líderes do G-20 foi mais natural: confirmaram seu compromisso com o clima e registraram a dissidência americana na resolução final do fórum (no caso brasileiro, o compromisso implica sobretudo a proteção de florestas e a revisão da matriz energética). Essa postura reflete a adaptação de nações e empresas ao novo paradigma. Enquanto a Casa Branca rema contra a maré, concorrentes dos EUA vão ocupando o espaço aberto pelo isolacionismo de Trump, numa espécie de corrida em busca de fontes limpas de energia, entre outras medidas de contenção de emissões de CO2.

Nesse sentido, a principal economia do mundo não apenas retarda uma adaptação incontornável em futuro próximo, como cede a rivais, como a China, o protagonismo da luta em defesa do meio ambiente. Atenua o isolamento americano, no entanto, a reação de setores econômicos importantes e até mesmo de estados e municípios, que, reforçando o pacto federativo americano, decidiram, a despeito da posição do governo federal, implementar os termos do Acordo de Paris, inclusive a Califórnia, de importante peso econômico. Esta é a posição de 12 estados e 200 cidades americanas.

A emergência dessa espécie de poder local nos EUA é uma reação à insensatez de Donald Trump. Trata-se de um sinal auspicioso, que não deve se limitar à luta ambiental.

O globo, n. 30655, 12/07/2017. Editoriais, p. 16