Título: Agronegócio evita retração
Autor: Martins,Victor, Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 07/12/2011, Economia, p. 12

Único a andar para a frente, o setor registra expansão de 3,2% em relação ao segundo trimestre. Resultado se deve ao aumento da produção, apesar do recuo na área plantada

Num cenário geral em que a economia ficou paralisada ou até andou para trás em alguns ramos, o agronegócio foi o único setor que avançou, com expansão de 3,2% no terceiro trimestre em comparação com o resultado obtido no trimestre imediatamente anterior. O campo foi o responsável pelo fato de o Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas no país) não ter recuado entre julho e setembro, contrariando a expectativa de muitos especialistas. Comparado a igual período de 2010, houve um salto de 6,9%. O segredo do sucesso, segundo técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), está no aumento da produtividade. A cada ano, os agricultores conseguem produzir mais em uma menor quantidade de terras, elevando seus ganhos.

Para ilustrar o bom desempenho, o IBGE listou três exemplos: mandioca, laranja e feijão. A mandioca teve o ganho mais expressivo. A área plantada foi reduzida em 11,8% neste ano e a produção cresceu 7,3%. A laranja, por sua vez, teve o espaço das plantações encolhido em 9,8%, mas o volume produzido da fruta subiu 3,1%. Indispensável no prato do brasileiro, o feijão teve o cultivo ampliado em 5,4%, com a colheita crescendo 6,1%. "Por isso, o segmento tem contribuído positivamente para o PIB", resumiu a Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE.

Na avaliação de especialistas no agronegócio, dada a importância do setor, essa mãozinha para o PIB era esperada. "A agricultura sempre foi o instrumento principal de desenvolvimento do país. Nas crises, é o agronegócio que resolve e dá a sustentação tanto na balança comercial quanto na geração de emprego. Esse resultado não foi surpresa e acredito que o setor contribuirá ainda mais para o crescimento da economia", disse o vice-presidente executivo de Agronegócios e Micro e Pequenas empresas do Banco do Brasil, o ex-senador paranaense Osmar Dias. Ele lembrou que o BB é o maior financiador do setor, responsável por 62% do crédito do segmento, com uma carteira de R$ 45 bilhões. "Tivemos um crescimento de 17,20% no volume de financiamentos este ano."

Etanol Seguindo o agrônomo Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a alta dos preços dos produtos agrícolas neste ano ajudou muito o setor a crescer. "Tivemos um ano recorde de exportação de açúcar (US$ 12,5 bilhões até outubro), e mesmo que a crise internacional gere problemas pela frente, as pessoas não vão deixar de comer e consumir energia, como o etanol", disse. Ele participou ontem à noite do lançamento do movimento Mais etanol, que quer desenvolver políticas públicas para aumentar a produção de cana de 555 milhões para 1,2 bilhão de toneladas até 2020. "Sem isso, não conseguiremos manter o fornecimento de 50% do volume de açúcar consumido no mundo e de 50% do etanol que abastece os veículos nos país."

Preços favoráveis Além dos investimentos em tecnologia que elevaram a produtividade, o Ministério da Agricultura atribuiu os bons resultados a dois fatores: os preços favoráveis ao produtor e a expansão das exportações, que aumentaram 24,1% de janeiro a outubro. "Os números mostraram que a agricultura não se estagnou e manteve o ritmo de crescimento. Devemos fechar este ano, em todo o setor, com uma expansão de 12,8% em relação a 2010", afirmou o coordenador de Gestão Estratégica do ministério, José Gasques.