Juros caem a 10,25% e BC põe o pé no freio

Antonio Timóteo

01/06/2017

 

 

CONJUNTURA » Autoridade monetária tira 1 ponto percentual da Selic, sinaliza que diminuirá o ritmo de corte na próxima reunião, em julho, e joga no colo do Congresso e do governo a responsabilidade de solucionarem a crise para manter o ciclo de queda

 

 

O Banco Central (BC) deixou claro que reduzirá o ritmo de corte de juros para 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 24 e 25 de julho. A equipe de Ilan Goldfajn jogou no colo do Congresso Nacional e do governo a responsabilidade de encontrar soluções rápidas para a crise política e para a aprovação das reformas, fundamentais para a recuperação econômica. Caso isso não ocorra, o tamanho dos cortes na Selic encolherá ainda mais. A escalada das incertezas foi incorporada ao comunicado divulgado ontem após a reunião do colegiado, que diminuiu a taxa básica em um ponto percentual, para 10,25% ao ano.

Apesar das ressalvas do BC, o governo se agarrará aos dados positivos divulgados ao longo da semana, como a leve queda do desemprego (leia matéria abaixo), a própria queda de juros e a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre. Com isso, espera ganhar fôlego para reconstruir a base aliada e aprovar reformas desidratadas. O mercado aposta na primeira alta do PIB após oito quedas consecutivas, mas diversos analistas alertam que haverá uma falsa sensação de melhora. Com as denúncias que atingiram a gestão de Michel Temer, parte dos economistas considera que a recessão não vai deixar de assombrar o Brasil.

O temor de que o processo de recuperação da economia seja interrompido levou a autoridade monetária a descrever o momento como de incertezas. O termo foi usado cinco vezes pelos membros do Copom para descrever a situação do país. Para o BC, a continuidade do imbróglio político tem potencial para brecar o trâmite das reformas e dos ajustes, com impactos negativos para a atividade econômica. Além disso, a equipe de Goldfajn deixou claro que a crise pode prejudicar o processo de queda da inflação. “Uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequada em sua próxima reunião”, destacou o colegiado.

Mesmo com todos os apontamentos, o BC detalhou que as projeções para a inflação de 2017 permanecem abaixo de 4% e, para 2018, em 4,8%. As estimativas, explicaram os membros do Copom, levam em conta que a Selic terminará o ano em 8,5%. Sem o avanço na tramitação das reformas e a continuidade da crise política, alertou o comunicado, os riscos para piora dos dados aumentam. Diante das incertezas, alguns analistas passaram a considerar a possibilidade de que o tamanho dos cortes de juros encolherá para 0,5 ponto percentual ou até o fim do ciclo de queda da taxa.

 

Ressalvas

A evolução da reforma Previdenciária no Congresso não deve ocorrer antes de agosto, avaliou o economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo. Conforme ele, somente o trâmite da proposta levaria o BC a manter o corte de juros em 1 ponto percentual e, no melhor dos cenários, somente a reforma trabalhista deve prosperar antes disso. “Dificilmente conseguiremos evoluir em junho, dada a crise política ainda por se resolver”, comentou.

Diante das ressalvas apontadas pelo Copom, Camargo espera um corte de 0,75 ponto percentual nos juros, em julho, e dois cortes de 0,5 ponto percentual nas reuniões de setembro e outubro. Ele explicou que as pressões são deflacionárias. “Além disso, temos um BC trabalhando para controlar a inflação. Isso faz toda a diferença”, disse.

A piora no balanço de riscos com a paralisia das reformas traz riscos adicionais para o ciclo de queda de juros, analisou a economista-chefe da Coface para América Latina, Patricia Krause. “A resolução da crise política será determinante no tamanho do ciclo de queda da Selic. Espero juros em 8,5% ao ano no fim de 2017. Mas isso pode mudar caso a situação não melhore”, alertou.

 

Otimismo

Mais otimista, Marco Bismarch, sócio gestor da TAG Investimentos, avalia que Temer tem chances de reaglutinar a base, aprovar reformas desidratadas e não comprometer o processo de recuperação da economia. “O mercado avalia que, quanto mais tempo o presidente tiver, melhor para ele. E isso tem se traduzido nos preços dos ativos. A outra possibilidade é Temer ficar e nada andar. Não é possível saber o que acontecerá”, ressaltou.

 

 

Correio braziliense, n. 19728, 01/06/2017. Economia, p. 8.