Reação da economia dura só um trime

Rosana Hessel

28/05/2017

 

 

CONJUNTURA » Piora no cenário político, com a delação dos donos da JBS, e incerteza sobre a aprovação das reformas trabalhista e previdenciária fazem o mercado revisar as projeções de crescimento para o ano. Especialistas temem que o país continue em recessão

 

 

A semana começa com a certeza de corte nos juros e de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2017, mas também com a dúvida sobre a reação do mercado em relação à troca de comando no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A incerteza em relação à aprovação das reformas trabalhista e previdenciária aumentou após a crise política provocada pela delação dos donos da JBS, em 17 de maio, que abalou o governo do presidente Michel Temer.

Os especialistas ficaram em compasso de espera e não mexeram nas previsões do relatório Focus do Banco Central de 22 de maio. O boletim que será divulgado amanhã, no entanto, deve mostrar as primeiras revisões por conta da piora no cenário político. São esperados aumentos na projeção da Selic para o fim do ano, alta do dólar e, possivelmente, queda na mediana das estimativas de expansão do PIB, atualmente, em 0,50%. Um consenso entre os especialistas é que o governo atual não se sustenta. A expectativa é de uma troca rápida e que o substituto manterá a agenda de reformas, reduzindo a volatilidade do mercado.

“O governo Temer acabou. Ele virou uma rainha da Inglaterra, mas os parlamentares da base estão convencidos de que é preciso tentar avançar a agenda de reformas. É nisso que o mercado acredita”, afirma o economista Simão David Silber, professor da Universidade de São Paulo (USP). Ele avisa que o substituto de Temer precisa vir do Congresso para que as reformas não fiquem para 2018.

A variação do PIB de janeiro a março deste ano, que será divulgada quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve interromper oito trimestres seguidos de retração. O Itaú Unibanco reduziu de 1,4% para 1,1% a previsão de crescimento do PIB no primeiro trimestre. A mediana do mercado é de 0,9%. Entretanto, o bom desempenho não se repetirá no segundo semestre, apostam os especialistas. A maioria acredita que haverá nova queda trimestral, mantendo o país na recessão.

Com poucos dias úteis, abril foi ruim. Na primeira quinzena, maio começava a dar sinais positivos, interrompidos com a crise política. A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, mantém as projeções, por enquanto, mas reconhece um “viés negativo”. Ela prevê expansão do PIB entre zero e 0,5%. “A previsão considera a aprovação da reforma da Previdência”, afirma.

O professor Silber lembra que o resultado do PIB do primeiro trimestre não é nem voo de galinha, mas “de pintinho com pouca pena”. “A alta do PIB não vai interromper a recessão. Os números de abril e maio não são bons e junho vai refletir todo o impacto da crise. O ritmo de retomada será mais lento. Se as reformas não forem aprovadas neste ano, esquece. Elas só ocorrem em anos ímpares, pois, nos pares, há eleições”, avisa Silber.

Para o economista-chefe do banco Haitong, Jankiel Santos, o desempenho da economia no segundo trimestre pode ser negativo. Para o primeiro trimestre, no entanto, ele mantém as projeções de alta de 0,7% no PIB. “Por enquanto, estamos prevendo zero de variação em 2017. É possível que o efeito da política monetária ajude o PIB a ter um crescimento de 0,4% a 0,5% na segunda metade do ano, mas, se a incerteza política continuar, vai atrapalhar as expectativas. Nesse caso, deveremos revisar o PIB para baixo e teremos mais um ano negativo”, alerta. Santos lembra que o Congresso deu continuidade à aprovação das propostas mais “fáceis”. “Votar as reformas difíceis é o problema. O impasse político pode pesar bastante sobre a retomada da atividade.”

 

Risco

O economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, prevê alta de 1% no PIB do primeiro trimestre e de 0,2%, no do segundo. Já admite que pode reduzir a projeção de expansão de 0,7% para o ano se as indefinições sobre o rumo do governo Temer se estenderem. “Maio dava sinais de recuperação, com os índices de confiança melhorando e o crédito começando a ser retomado. Mas tudo piorou na segunda metade do mês. Se a crise se agravar, o risco país deve subir. O país pode voltar a fechar o ano com o PIB próximo de zero ou em queda”, alerta.

O economista-chefe do Banco Pactual, José Francisco de Lima Gonçalves, também está com viés negativo em suas previsões. Para ele, o lado positivo da crise é que a inflação vai continuar em queda, com  a desaceleração da economia, e deve encerrar o ano abaixo do centro da meta, de 4,5%. As estimativas do Focus estão em 3,9%. Gonçalvez estima alta de 1,1% no PIB do primeiro trimestre e de 1% em 2017.

O cenário mais provável para o economista-chefe da A2A Assets INVX Capital Partners, Eduardo Velho, é a saída de Temer, via cassação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral . “Com eleição indireta, o substituto manteria a equipe econômica e as reformas. Seria o melhor cenário”, afirma, prevendo alta de 0,5% no PIB do primeiro trimestre.

 

 

Correio braziliense, n. 19724, 28/05/2017. Economia, p. 8.