Confusão e muito bate-boca no Congresso

Luana Melody Brasil e Alessandra Azevedo

25/05/2017

 

 

REPÚBLICA EM TRANSE » Enquanto oposição protestava pelo emprego das Forças Armadas na Esplanada, governistas aproveitaram para votar medida provisória que trancava a pauta da Câmara. Outras sete MPs aguardam apreciação no plenário

 

 

Bate-boca e confronto entre deputados da oposição e da base aliada ao governo marcaram as sessões da tarde e da noite de ontem no plenário da Câmara. Enquanto se agravava o embate entre manifestantes e policiais na Esplanada, dentro do Congresso, o conflito entre parlamentares também refletiu o clima de instabilidade política acentuado na semana passada, quando foram divulgadas acusações contra o presidente Michel Temer.

Os ânimos foram inflamados no plenário quando parlamentares da oposição, que ocupavam a Mesa Diretora para obstruir as votações de medidas provisórias, estenderam uma faixa com “Fora Temer”. O deputado Mauro Pereira (PMDB-RS), então, subiu à mesa e puxou a faixa, gerando tumulto em meio a gritos de “Lula na prisão”, “diretas já” e pedidos da oposição para que as atividades previstas para o dia no parlamento fossem definitivamente encerradas.

No início da noite, após a suspensão da sessão por quase uma hora, e com a recusa do presidente da Casa, Rodrigo Maia (PMDB-RJ), de encerrar as votações, a oposição se retirou do plenário e permaneceu no Salão Verde. “Esse confronto a que assistimos aqui é muito grave. Não era para nós estarmos no plenário. Esse decreto do governo é uma agressão ao estado de direito, não se justifica. É péssimo continuarem votando sem metade do parlamento, mas não tinha outro caminho a não ser uma medida extrema como essa”, justificou o deputado José Guimarães (PT-CE), líder da oposição na Câmara.

O deputado Walney Rocha (PEN-RJ), cujo partido é aliado ao governo Michel Temer, classificou como “muito ruim” a falta de equilíbrio dentro da Casa. “Os ânimos nas ruas estão muito exaltados e isso vem para dentro do plenário. Aqui precisa ter equilíbrio, se nós não tivermos esse controle e equilíbrio, como é que a população, num momento desse, vai ter controle? Então, repudio plenamente o que aconteceu aqui hoje (ontem), porque essa é uma Casa democrática.”

 

Obstrução

Desde o início da semana, os parlamentares da minoria, composta pela oposição ao governo federal, se manifestaram pela obstrução de todas as votações referentes a temas de interesse do Executivo, como reformas e medidas provisórias. A única votação liberada pelos adversários de Temer é da proposta de emenda constitucional (PEC) das eleições diretas, que novamente foi impedida pela base aliada de ser votada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Na terça-feira, a oposição chegou a votar a medida provisória referente ao saque do FGTS de contas inativas por ser considerada matéria de grande apelo social. Ontem, apesar dos conflitos dentro e fora da Câmara, mesmo sem boa parte dos parlamentares no plenário, os governistas votaram a MP 760, que prevê mudanças nas regras de acesso de praças ao posto de oficial nos quadros da PM e dos bombeiros do DF. Aprovada com uma emenda, a MP seguirá para o Senado.

Ao fim do dia, após a oposição ter decidido deixar o plenário em protesto contra o decreto presidencial que prevê o emprego das Forças Armadas na Esplanada dos Ministérios, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, incluiu sete medidas provisórias em pauta. “Ele tinha colocado apenas duas, mas, ao saber que poderia passar o rolo compressor, colocou sete medidas provisórias. Isso é oportunismo”, criticou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

 

 

Correio braziliense, n. 19721, 25/05/2017. Política, p. 7.