O "CX 2" na casa de Aécio

27/05/2017

 

 

Polícia Federal apreendeu,em endereços ligados ao senador afastado,anotações,documentos e obras de arte. Entre os papeis acondicionados em saco plástico transparente, um recebeu o nome de "Caixa 2". Defesa do tucano nega irregularidade

No relatório sobre o material apreendido no gabinete e nas residências do senador afastado Aécio Neves (PSDB-DF) durante a Operação Patmos, deflagrada no dia 18, a Polícia Federal diz ter encontrado “diversos comprovantes de depósitos e anotações manuscritas, entre elas a inscrição ‘CX 2’’’. A lista completa de materiais apreendidos inclui telefones celulares, obras de arte, documentos e anotações sobre a Construtora Norberto Odebrecht e Joesley Batista.
No apartamento que o senador tem na Avenida Vieira Souto, no Rio, os agentes encontraram “diversos documentos acondicionados em saco plástico transparente, dentre eles um papel azul com senhas” e “diversos comprovantes de depósitos e anotações manuscritas, dentre elas a inscrição caixa 2”.
Um aparelho bloqueador de sinal telefônico também foi apreendido, além de 15 quadros 1 uma escultura, e um dos quadros tem a inscrição “Portinari”. Já no gabinete do tucano no Senado, foram apreendidas “planilhas com indicações para cargos federais”, além de cópias de uma agenda de 2016 com o nome do empresário Joesley Batista e a irmã de Aécio, Andrea Neves, presa durante a operação. E também “folha manuscrita contendo dados da CNO (Construtora Norberto Odebrecht)”.
Há ainda o registro de um “papel manuscrito contendo anotações citando o ministro Marcelo Dantas”, em uma possível indicação ao ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, investigado em um dos inquéritos da Lava Jato.

Doleiros
O relatório do material apreendido no gabinete do senador inclui ainda “folhas impressas no idioma aparentemente alemão, relativas a Nobert Muller”.  Norbert Muller e a esposa Christine Puchmann são doleiros que já foram investigados na Justiça Federal do Rio de Janeiro, na Operação Norbert. O casal, segundo as investigações no Rio de Janeiro, seria responsável por criar e manter contas bancárias em Liechtenstein, paraíso fiscal na Europa. Na investigação havia uma referência a Inês Maria Neves Faria, mãe do senador Aécio Neves. Os doleiros foram denunciados, mas o inquérito foi arquivado.
O senador cassado Delcídio do Amaral, quando fez acordo de colaboração premiada, relatou ter ouvido de José Janene — ex-líder do PP, morto em 2010 — que Aécio Neves era beneficiário “de uma fundação sediada em um paraíso fiscal, da qual ele seria dono ou controlador de fato; que essa fundação seria sediada em Liechtenstein; que o declarante não sabe precisar, mas ao que parece, a fundação estaria em nome da mãe ou do próprio Aécio Neves”.
A defesa de Aécio Neves lamentou que as citações sejam divulgadas por agentes públicos envolvidos na investigação sem contextualização e “sem qualquer informação real a que se referem”. “Ainda assim, asseguramos que uma eventual referência a ‘CX 2’ não significa qualquer indício de ilegalidade. O senador Aécio reitera que em toda sua vida pública, nas campanhas de que participou, agiu de acordo com o que determina a lei”, diz a nota assinada pelo advogado Alberto Zacharias Toron. O texto diz, ainda, que Aécio está à disposição da Justiça para esclarecer o que for necessário.


O “coração generoso” de Moro
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Operação Lava-Jato, afirmou que a absolvição da jornalista Cláudia Cruz, mulher do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), veio do “coração generoso” do juiz federal Sérgio Moro. O magistrado livrou Cláudia dos crimes de lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas na quinta-feira. “Vamos recorrer, discordamos, cremos que isso decorre muito mais do coração generoso do doutor Sérgio Moro e na interpretação de um fato envolvendo a esposa de uma pessoa sabidamente ligada à corrupção. Mas uma pessoa como a senhora Cláudia Cruz, jornalista com nível cultural que ela tinha, e ausente qualquer justificativa para ganhos dessa natureza do seu marido, que nada mais era que um deputado, então, portanto com ganhos limitados, nós entendemos que é injustificável a absolvição.”

 

 

Correio braziliense, n. 19723, 27/05/2017. Política, p. 3.