Temer agenda reunião sobre massacre, enquanto articula eleição na Câmara

Andrea Jubé

05/01/2017

 

 

Temer: presidente garantiu a aliados que não interfere a favor de Maia

 

 

O presidente Michel Temer convocou uma reunião ministerial para hoje, às 10 horas, sobre a situação carcerária no país. Temerainda não se manifestou sobre o massacre ocorrido em Manaus (AM), que vitimou 56 presos entre domingo e segunda-feira. O Palácio do Planalto afirma que Temer se manifesta por meio do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que acompanha de perto os desdobramentos do incidente.

Foram convocados para a reunião, além de Moraes, os ministros da Defesa, Raul Jungmann, da Advocacia-Geral da União, Grace Mendonça, do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, e da Transparência, Torquato Jardim. Na última semana, Temer anunciou a destinação de R$ 1,8 bilhão do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) para os Estados aplicarem na construção de presídios e na aquisição de equipamentos.

Ontem, Temer dedicou-se às articulações para evitar que sua base se divida na disputa pela presidência da Câmara. Temerreuniu-se com o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que é candidato à reeleição, e com o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), um dos postulantes do Centrão. Temer também esteve com o líder do governo, André Moura (PSC-SE), que pode deixar o cargo com a mudança no comando da Câmara.

Com Maia, Temer também tratou do andamento das reformas estruturantes que o governo quer aprovar no Legislativo: da Previdência, trabalhista, além da tributária, ainda em gestação.

O presidente irritou-se com declarações de Maia de que o governo enfrentará "dificuldades" para avançar com a proposta de reforma tributária, porque antes é preciso encontrar uma fórmula para compensar os Estados que perdem com o fim da guerra fiscal.

Um assessor presidencial observou que Maia foi precipitado ao dar a declaração, já que a reforma tributária ainda está em fase de discussão, e o presidente da Casa teceu críticas sobre um texto ainda inexistente. Por isso, não poderia afirmar que os Estados não serão compensados.

Depois de Maia, no fim da tarde, Temer recebeu Jovair. Segundo o petebista, o presidente reafirmou que o governo "não tem preferência" por nenhum dos candidatos e determinou que "nenhum ministro interceda por este ou aquele candidato".

Maia, Jovair e o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), são os principais postulantes da base à presidência da Câmara. Jovair e Rosso integram o Centrão, bloco que orbitava em torno do ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Jovair reforçou que o presidente lhe assegurou que não autorizou negociação de cargos do governo federal em troca de apoios para a presidência da Câmara. Segundo Jovair, o cargo de líder do governo já foi oferecido para quatro bancadas: PP, PR, PRB e PSD. Sem citar o cargo de ministro da Secretaria de Governo, prometido ao PSDB, Jovair disse que "ministérios" também estão sendo oferecidos. A vaga do ex-ministro Geddel Vieira Lima está prometida ao líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), em troca do apoio da bancada tucana a Maia. Segundo Jovair, Temer ressaltou que "se disser que teve uma palavra do Planalto [sobre cargos], pode dizer que é mentira", a respeito da oferta de cargos.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4167, 05/01/2017. Política, p. A6.