Propina pagou até viagens a Dubai e Londres, por R$ 288 mil 
Juliana Castro 
15/02/2017
 
 
Réu pela 4ª vez, Cabral cometeu 184 crimes de lavagem; luxo era rotina

O juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, Marcelo Bretas, aceitou mais uma denúncia, e o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) virou ontem réu pela quarta vez na Operação Lava-Jato. O peemedebista foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por 184 crimes de lavagem de dinheiro, que movimentaram quase R$ 41 milhões. Em um desses crimes, Cabral e familiares usaram dinheiro ilícito, de acordo com os procuradores, para bancar despesas de duas viagens, uma a Londres e outra a Dubai, num total de R$ 287,5 mil.

Uma testemunha que prestou serviços entre 2004 e 2015 para o ex-governador — como fretamento de voos e emissão de passagens — apresentou ao MPF dados sobre as idas ao exterior. Numa primeira viagem, Cabral e a exprimeira-dama Adriana Ancelmo usaram R$ 31 mil para pagar as passagens a Londres no fim de agosto de 2014.

Em outubro do mesmo ano, Adriana fez uma nova viagem, dessa vez com os filhos. Somente no badalado hotel Atlantis The Palm, em Dubai, foram gastos ao menos R$ 162 mil para dez dias de estadia. O estabelecimento cinco estrelas localizado na ilha artificial The Palm tem suítes subaquáticas, um parque aquático de 17 hectares e 23 restaurantes, bares e lounges. As diárias do hotel cinco estrelas atualmente variam de R$ 2 mil a R$ 47 mil.

ADRIANA VIRA RÉ PELA 3ª VEZ

A ex-primeira-dama foi denunciada por sete crimes de lavagem de dinheiro, e também virou ré novamente. Ela já respondia a outros dois processos. Assim como Cabral, ela está presa no Complexo de Gericinó, em Bangu.

Além de Sérgio Cabral, também foram denunciados por crimes de lavagem de dinheiro Carlos Miranda (147 crimes), Carlos Bezerra (97 crimes), Sérgio Castro de Oliveira (6 crimes), Ary Ferreira da Costa Filho (2 crimes), Thiago de Aragão Gonçalves (7 crimes) e Francisco de Assis Neto (29 crimes) — apontados como operadores —e o doleiro Álvaro José Galliez Novis (32 crimes). Sérgio de Oliveira, Thiago de Aragão, Francisco de Assis e Álvaro Novis também foram denunciados por integrarem a organização criminosa liderada pelo ex-governador. Todos os denunciados estão presos.

Os fatos apresentados na denúncia de ontem aceita por Bretas são resultantes da Operação Eficiência, feita no escopo das investigações da Força-Tarefa da Lava-Jato no Rio. Na denúncia de ontem, os procuradores se ativeram aos atos de lavagem de dinheiro da organização no Brasil. Na primeira denúncia da Operação Eficiência, feita na semana passada, o Ministério Público Federal apontou dois atos de lavagem de dinheiro contra Cabral, mas eram relativos à ocultação de dinheiro ligada à propina paga pelo empresário Eike Batista. Ainda não foi alvo de denúncia a ocultação de US$ 100 milhões da organização no exterior, além de diamantes e ouro.

— Na Operação Eficiência, dividimos, até agora, duas denúncias. É possível que resulte em mais — afirmou o procurador Sérgio Pinel.

De acordo com delatores da Lava-Jato, Cabral cobrava propina de 5% do valor das obras no estado. A maior parte da ocultação de recursos descrita na denúncia de ontem foi apontada pelos irmãos doleiros Marcelo e Renato Chebar e, segundo a denúncia, comprovada pelo MPF. A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo.

O globo, n. 30508, 15/02/2017. País, p. 8