Eleições no Congresso colocam o PT em xeque

10/01/2017

 

 

Depois de deixar o poder por meio de um processo de impeachment aprovado no Congresso Nacional, o PT tende ironicamente a apoiar os candidatos tidos como os prediletos do presidente Michel Temer (PMDB) nas eleições para a presidência da Câmara e do Senado, marcadas para 2 de fevereiro.

Nas palavras de uma fonte petista, o partido está "em crise existencial", uma vez que "todas as opções são ruins".

Os petistas ainda não fecharam questão sobre o assunto, o que só deve ocorrer após reuniões de suas bancadas, na segunda quinzena deste mês. O cálculo político, entretanto, deve a empurrá-los a endossar a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), na Câmara, e Eunício Oliveira (PMDB-CE), no Senado.

Uma segunda alternativa, aventada na Câmara, seria apoiar um dos dois candidatos do chamado Centrão, um grupo de legendas médias e pequenas, com vocação sempre governista e que detêm, em conjunto, cerca de 250 parlamentares.

No raciocínio de alguns petistas, uma vitória Jovair Arantes (PTB-GO) e Rogério Rosso (PSD-DF) contribuiria para desagradar o presidente e tornar mais imprevisível sua relação com o Congresso.

Só que tem um problema: Rosso foi o presidente da comissão do impeachment na Câmara e Jovair, o relator. E, assim como no caso do apoio a Maia, referendá-los contribuiria para esvaziar o discurso de que Dilma foi vítima de um golpe.

A alternativa a apoiar um candidato "do golpe" seria lançar candidatura própria, "para marcar posição". Outra opção seria fechar com alguém de oposição a Temer. Essa possibilidade é vislumbrada na Câmara com a candidatura de André Figueiredo (PDT-CE), mas já visando um apoio a Maia em segundo turno.

Mas, qualquer que seja o rumo a ser seguido, o partido terá que arcar com um ônus. Com chances ínfimas de vitória, os petistas temem ficar alijados de cargos na mesa diretora das Casas e de postos de liderança nas comissões caso afrontem o vencedor - o que ocorreu quando o partido decidiu bater de frente com Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na eleição para a presidência da Câmara, em 2014.

Recém-nomeado líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP) defende que o PT e a esquerda não tenham candidato próprio. E, dentre as opções disponíveis, ele vê a candidatura de Maia com "uma cara mais institucional".

No Senado, parlamentares da ala tida como mais combativa do partido, como Lindbergh Farias (RJ) e Gleisi Hoffmann (PR), querem uma candidatura própria. Mas a maioria da bancada prefere respaldar Eunício Oliveira (PMDB-CE), cuja vitória já é dada como certa. Além de ser o candidato de Michel Temer, Eunício não tem concorrência até o momento.

O PT tem a segunda maior bancada da Câmara, com 58 deputados, e a terceira maior do Senado, com 10 parlamentares. Os pragmáticos defendem que seja respeitada a proporcionalidade, para que o partido possa ocupar posições de destaque nas mesas diretoras e em comissões.

"Vamos ter que explicar à nossa base que este é o jogo do Parlamento. Há hoje as regras são essas, respeita-se a proporcionalidade. Azar o nosso se o PMDB é a maior bancada [e a prerrogativa de indicar o presidente do Senado]", diz o senador Paulo Rocha (PT-PA), que defende um "pragmatismo momentâneo". "O PT não está com força política para marcar posição, e corremos o risco de ficar ainda mais isolados", lembrando que essas alianças "nada têm a ver com a eleição presidencial de 2018".

Na visão dos petistas, somente novas revelações sobre a delação da Odebrecht, no âmbito da Operação Lava-Jato podem derrubar a candidatura de Eunício, que já teve o nome citado por delatores.

Na Câmara, o PT pretende ocupar a primeira secretaria, responsável entre outras coisas por gerenciar os serviços administrativos e ratificar as despesas da Casa. Na outra Casa, Eunício já teria oferecido ao PT a secretaria-geral, uma espécie de "prefeitura do Senado".

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4170, 10/01/2017. Política, p. A6.